Por Joaquim de
Carvalho - 8 de janeiro de 2020
Com postagens
hoje no Twitter, os procuradores Deltan Dallagnol e Roberson Pozzobon mostram
que continuam parceiros muito próximos. Na resposta ao ministro Ricardo
Lewandowski, um levantou, o outro cortou. Foi um momento que lembrou a trama
dos dois para ganhar dinheiro com a exposição e network proporcionados pela
Lava Jato e driblar a legislação.
Roberson, que
Deltan Dallagnol chama de Robito, disse hoje no Twitter:
“A verdade é que
com a decisão do STF que impôs o fim da prisão em segunda instância as solturas
não foram nem um pouco seletivas. Os oligarcas condenados foram soltos de
maneira ampla e abrangente.”
Deltan Dallagnol
arrematou:
“Quantas pessoas
o Supremo condenou até agora na Lava Jato, quase 6 anos depois? O esquema era
político partidário, permeado de muitos detentores de foro privilegiado”.
A dupla Deltan e
Robito insinuou que o STF protege os poderosos — seria uma acusação de
prevaricação? — depois que o El País publicou uma entrevista de Ricardo
Lewandowski, em que ele deu respostas bem fundamentadas.
O ministro,
ex-presidente do STF, disse que a Lava Jato fez operações seletivas e que pode
ter sido uma farsa.
“A verdade é que
as operações foram extremamente seletivas, elas não foram democráticas no
sentido de pegar os oligarcas de maneira ampla e abrangente. Por isso é preciso
ter muito cuidado quando se quer fragilizar os direitos e garantias do cidadão
em juízo, dentro de um contexto politicamente matizado. Eu acho que há valores
de que não se pode abrir mão de forma nenhuma. São valores que resultam de
lutas milenares dos povos contra a autocracia, a tirania, a opressão. É por
isso que eu digo que essa avaliação episódica que certas operações produziram
pode se mostrar no futuro próximo — e não digo um futuro distante — realmente
uma falácia.”
Lewandowski
lembrou que, historicamente, o combate à corrupção tem sido usado no Brasil
como “mote” para promover “retrocessos institucionais”, citou o suicídio de
Getúlio Vargas, em 1954, e o golpe de 1964.
“É uma visão
moralista política do combate à corrupção, a meu ver, absolutamente deletéria.
O combate à corrupção tem que ser feito diuturnamente, permanentemente, mas
existem outros males igualmente graves no Brasil: a má distribuição de renda, a
exclusão social, o sucateamento da educação, a precarização da saúde pública.
São males que equivalem, se não são superiores, ao mal da corrupção”, afirmou.
Dallagnol e seu
quase sócio Robito poderiam ter ficado em silêncio, mas isso é impossível para
quem parece ver a Lava Jato como um patrimônio particular ou um instrumento
para a elevação do próprio patrimônio.
Que moral tem
Robito para dar lição de moral a quem está no topo do Judiciário no Brasil e
tem uma trajetória acadêmica que inclui os principais títulos da Universidade
de São Paulo, uma das melhores do país?
Em 14 de julho
do ano passado, a Folha de S. Paulo divulgou os diálogos comprometedores que
ele trocou com Deltan Dallagnol, que revelam a intenção dos dois de burlar a
lei.
As mensagens
foram trocadas em dezembro de 2018, num grupo do Telegram de que participavam
também as respectivas esposas de Dallagnol e Robito. Ele discutiam a criação de
uma empresa para realizar palestras e outros eventos.
“Antes de darmos
passos para abrir empresa, teríamos que ter um plano de negócios e ter claras
as expectativas em relação a cada um. Para ter plano de negócios, seria bom ver
os últimos eventos e preço”, disse Dallagnol.
Robito
respondeu: ”Temos que ver se o evento que vale mais a pena é: i) Mais gente,
mais barato ii) Menos gente, mais caro. E um formato não exclui o outro.”
Dallagnol, se
dirigindo à esposa, explicou que seu objetivo era ganhar dinheiro:
“Vamos organizar
congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso
networking e visibilidade”.
Dois meses
depois, Dallagnol conversou com Robito sobre uma forma de driblarem a
legislação. Ele cogitou se associarem a uma empresa que já o contratava para
palestras, a Star, de Fernanda Cunha.
“Gostei da
ideia, Delta!”, comemorou Robito. “E se falássemos pra ela que a divisão seria
por 5 (20% cada um). Você acha que ela toparia?”, acrescentou.
O coordenador da
força-tarefa ponderou, como se fosse um executivo de empresa:
“Ela ganha 20%
sobre palestrantes sem fazer muito esforço… e aqui ela faria toda a
organização… acho que os 20% não vão servir de estímulo, mas posso ver com
ela.”
Falando com as
respetivas esposas, Dallagnol disse que elas teriam as funções gerenciais na
empresa:
“Só vamos ter
que separar as tratativas de coordenação pedagógica do curso que podem ser
minhas e do Robito e as tratativas gerenciais que precisam ser de Vcs duas, por
questão legal”.
Mas, pelo
diálogo a seguir, Dallagnol mostra que só seria fachada:
“É bem possível
que um dia ela seja ouvida sobre isso pra nos pegarem por gerenciarmos
empresa.”
Robito aprovou:
“Assim vai
funcionar, Delta. Ótima ideia.” E diz:
“Se chegarem
nesse grau de verificação é pq o negócio ficou lucrativo mesmo rsrsrs. Que
veeeenham.”
A dupla, pelo
que fica demonstrado, sempre se preocupou com ganhos particulares decorrentes
da Lava Jato.
O combate à
corrupção é só meio. O que eles sempre quiseram mesmo foram fama, poder e
dinheiro. E hoje arriscam até polemizar com um ex-presidente do Supremo.
No fundo, no
fundo, comportam-se como aventureiros que nada têm a perder.
Só não sabem que
enganam cada vez menos brasileiros.
0 comentários:
[ Deixe-nos seu Comentário ]
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor