Jair Bolsonaro (Foto: Reuters)
O jornalista Moisés Mendes examina o editorial da Folha de S.
Paulo contra Bolsonaro à luz da história de relacionamento do jornal com sua
figura: "A Folha esquece de admitir que a própria Folha, em recomendação
interna aos jornalistas, uma semana antes do primeiro turno da eleição de 2018,
determinou a todos os profissionais da casa: não tratem Bolsonaro como um
candidato da extrema direita"
19 de
fevereiro de 2020
Jornalista em
Porto Alegre
X-X-X
O editorial em
que a Folha de S. Paulo ataca Bolsonaro, definido como um ignorante e machista
abjeto, com espírito de facção e de chefe de bando, tem alguns esquecimentos.
A Folha não
identifica as origens de Bolsonaro no golpe que o próprio jornal ajudou a
articular e tampouco cita os cúmplices do bolsonarismo entre os pares da Folha
no empresariado nacional.
A Folha tenta
ver Bolsonaro como um sujeito solto no mundo, apenas com seus parceiros de
milícia, quando se sabe que ele é uma invenção da direita que derrubou Dilma e
ajudou a encarcerar Lula.
A Folha se faz
de boba, ao citar apenas “os jagunços de Bolsonaro”, como se a aberração
política no governo fosse somente um produto dos banditismos cariocas e da
articulação do amigo de Adriano da Nóbrega com militares e com Sergio Moro. A
Folha estaria admitindo que o ex-juiz é um dos jagunços?
Bolsonaro é o
bicho brabo saído da cabeça da direita, que vive agora atormentada com os
extremismos da criatura. A Folha contribuiu para que Bolsonaro existisse com a
forma que ganhou desde muito antes de eleito.
O jornal faz
bem em atacá-lo, não só porque o sujeito agrediu covardemente a repórter
Patrícia Campos Mello, mas porque Bolsonaro é um insulto à democracia,
inclusive aos idiotas que o elegeram.
Mas a Folha
precisa dizer que essa aventura, como o jornal define a gestão do sujeito, foi
iniciada com o aval da imprensa. Para a Folha, Bolsonaro era apenas chefe de
uma facção ao almejar o poder.
Escolhido como
único nome capaz de derrotar o PT, foi eleito e se transformou no líder do
empresariado dito liberal, o reduto do qual faz parte o comando da Folha. O
editorial esqueceu de dizer que a Fiesp é Bolsonaro e que a elite brasileira
sustenta seus projetos nos planos do bolsonarismo.
A Folha
esquece de admitir que a própria Folha, em recomendação interna aos
jornalistas, uma semana antes do primeiro turno da eleição de 2018, determinou
a todos os profissionais da casa: não tratem Bolsonaro como um candidato da
extrema direita,
Para a Folha,
não havia no Brasil políticos de extrema direita, mas apenas de direita, e
Bolsonaro era um deles. Bolsonaro foi colocado ao lado de Álvaro Dias, Aécio,
Henrique Meirelles, Alckmin, Amôedo.
O editorial,
além das enrolações de conteúdo, é muito ruim na forma, como texto de opinião
do comando do maior jornal do país num momento grave. É uma peça do século 19
no diário que pretende ser parte do que chama de “jornalismo com vocação de
longo prazo”.
A Folha está enrolada
no curto prazo. A Folha é esquecida quando interessa esquecer que, antes de
tentar abandonar a criatura, já havia sido por ela abandonada.
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