Jair Bolsonaro e Sérgio Moro (Foto: Carolina Antunes/PR)
"Parece que Bolsonaro tem mesmo medo de Moro", escreve o jornalista Ribamar Fonseca. E se decidir indicá-lo ao STF, "terá de suportar a presença do ex-juiz fungando no seu cangote até novembro, quando o ministro Celso de Mello será obrigado a se aposentar", observa
14 de
fevereiro de 2020
Jornalista e
escritor
X-X-X
Parece que
Bolsonaro tem mesmo medo de Moro. Ele não consegue exonerar o ex-juiz do
Ministério da Justiça mesmo consciente do perigo que representa para a sua
reeleição e, por isso, pensa em livrar-se dele indicando-o para uma cadeira no
Supremo Tribunal Federal. Por alguma razão
desconhecida – dizem que o
ex-juiz teria um dossiê contra ele – o capitão não tem coragem de confrontar
Moro. Na verdade, segundo a autora do livro “Tormenta”, quem segura Moro no
governo são os militares, com os quais estaria
bem sintonizado. Ainda recentemente revelou-se que Bolsonaro estava
decidido a exonerá-lo, depois dele ter manifestado seu desagrado com a decisão
do ministro Dias Toffoli, que suspendeu as investigações sobre o senador Flávio
Bolsonaro, mas teria sido dissuadido pelo general Augusto Heleno, chefe do GSI,
para quem o governo “acaba” se o ex-juiz for demitido. Se o chefe da Segurança
Interna acredita realmente nisso, ou seja, que a saída de Moro do Ministério da
Justiça seria o “fim do governo”, então Bolsonaro teria se tornado um joguete
nas mãos do ex-juiz e dos militares.
Aparentemente,
porém, não há unanimidade entre os militares sobre a visão do general Heleno. O
vice-presidente, por exemplo, general Hamilton Mourão, disse que o Presidente
não é refém de Moro e, portanto, pode exonerá-lo quando quiser. Isso significa
que nem todos admitem o poder do ministro da Justiça no governo e muito menos a
sua ascendência sobre o capitão, mesmo reconhecendo ter sido ele o principal
responsável pela sua eleição, ao remover, com a prisão do ex-presidente Lula, o
maior obstáculo à sua ascensão. É bem provável, inclusive, que a nomeação do general Braga Netto para a chefia
da Casa Civil, em substituição a Onyx Lorenzoni, seja uma forma de inibir o
ex-juiz, reduzindo a sua influência no governo. Com o Planalto militarizado,
conforme afirma o próprio Bolsonaro, tudo leva a crer que haverá uma mudança de
comportamento do governo, com o novo chefe da Casa Civil mais presente nos
movimentos do presidente, talvez até colocando um freio em seus destemperos
verbais. É possível, também, que o general Braga Netto na Casa Civil não tenha
sido escolha de Bolsonaro e a
militarização do Planalto seja parte de um plano muito mais amplo do que se imagina.
O fato, porém,
é que as diversas tentativas frustradas para exonerar Moro e, inclusive, para
reduzir o seu poder, desmembrando a segurança pública da Justiça, sugerem que
Bolsonaro tem hoje menos força do que o seu ministro dentro do governo e,
também, menos popularidade. E como parece não ter coragem de tirá-lo do seu
caminho com uma simples canetada, prefere uma solução menos traumática para
livrar-se dele: indicá-lo para a primeira vaga que surgir na Corte Suprema,
contrariando decisão anterior, de indicar um nome “terrivelmente evangélico”,
segundo sua expressão. Portanto, se as notícias sobre a sua nova decisão se
confirmarem, ele terá de suportar a presença do ex-juiz fungando no seu cangote
até novembro, quando o ministro Celso de Mello será obrigado a se aposentar,
abrindo vaga para a nomeação de um novo ministro. Resta saber, no entanto, se
Moro, acreditando que tem chances de chegar à Presidência, se conformará com a
indicação ao STF, pois seus seguidores estão muito animados com a sua
candidatura, a começar pelo seu conterrâneo, o senador Álvaro Dias, do Podemos,
que insiste em convidá-lo para ingressar no seu partido.
Como as
eleições presidenciais ainda estão distantes, porém, qualquer prognóstico sobre
seus resultados será prematuro. E não adianta fundamentar análises em pesquisas
de intenção de votos hoje, que não tem a menor validade porque retratam o
momento e, portanto, em três anos devem
apresentar resultados muito diferentes, pois o panorama político-eleitoral deve
sofrer profundas alterações durante esse tempo. Como se sabe, os humores do
eleitorado mudam com muita frequência, a partir de acontecimentos imprevistos
ou de decisões do governo, o que impede qualquer exercício de adivinhação.
Ninguém pode garantir nem mesmo que Bolsonaro concluirá seu mandato. De qualquer
modo, os aspirantes ao Planalto não devem ficar de braços cruzados nestes três
anos que nos separam do pleito presidencial, já que precisam mobilizar-se para ocupar espaço. E
como este é um ano eleitoral, os
partidos necessitam ampliar suas bases municipais, até por uma questão de
sobrevivência, pois quem chegar em 2022 com um bom suporte nos municípios terá
melhores chances na disputa. Os prefeitos e vereadores, afinal, ainda são os
grandes catadores de votos, cuja ação é imprescindível para quem pretende se
lançar a vôos mais altos.
Acredita-se,
no entanto, que as eleições gerais de 2022 serão bem atípicas. Depois do
sucesso do uso de fakenews na última campanha, que elegeu Jair Bolsonaro com
todos os seus defeitos, não há dúvida de que essa será a maior arma dos
candidatos a Presidente e Governador, sobretudo porque até hoje ninguém foi
punido por espalhar notícias falsas nas redes sociais. Criou-se uma verdadeira
indústria de mentiras (fakenews), inclusive com a utilização de robôs, que
multiplicam a eficiência na distribuição das informações falsas. Muitas
empresas foram instaladas, dentro e fora do país, ganhando muito dinheiro com
contratos milionários pagos por empresários apoiadores de determinados
candidatos. Reputações foram destruídas e o ódio disseminado de tal maneira que
virou rotina a agressão a políticos em
locais públicos, inclusive em aviões comerciais. Donald Trump e Bolsonaro foram
eleitos graças a essa nova arma que reduziu o poder da grande imprensa, hoje
relegada pelos dois presidentes. Prova disso é que Trump e Bolsonaro esnobam a
imprensa e até agridem jornalistas, dando o seu recado através de posts nas
redes sociais, por onde anunciam até medidas governamentais. No Brasil os
principais manipuladores de fakenews são conhecidos, mas nenhum deles até agora
chegou sequer a prestar esclarecimentos às autoridades policiais. Até a CPI do
Congresso, que investiga as organizações
criminosas de fakenews, não avança em sua tarefa.
Na verdade,
ninguém sabe, apesar dos vários depoimentos,
o que a CPI das fakenews descobriu até agora e muito menos qual a
situação das investigações. Tem-se a impressão de que os veículos de
comunicação não estão interessados nos trabalhos
da comissão, nem a imprensa alternativa, porque são raras as notícias sobre as
suas atividades. A deputada Joice Hasselmann, ex-líder do governo na Câmara
Federal, abriu a caixa preta da indústria de
fakenews dos bolsonaristas (como ela fez parte do time, revelou os nomes
e os métodos usados na disseminação das
mentiras), mas até agora não se tem conhecimento de que suas revelações tenham
produzido algum resultado prático. E
apesar do seu funcionamento, a comissão não conseguiu até agora inibir a ação
dos propagadores de fakenews, que continuam espalhando mentiras sem receio de
punição, o que certamente só aconteceria se as vítimas fossem integrantes do
governo Bolsonaro. Como o próprio governo, onde estariam abrigados alguns
acusados de disseminar fakenews, tem
interesse nos danos que elas produzem nos adversários, os responsáveis não são
alvos de investigação por parte da Polícia Federal. Resta ao povo, portanto,
precaver-se das mentiras e evitar compartilhamentos, o que, no entanto, se
mostra muito difícil, pois parte da população já se habituou a pensar com as
fakes. Até porque elas, as fakes, são estimuladas pelo próprio governo.
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