Cid Gomes
baleado em Sobral (Foto: Reprodução)
"Mais do que um crime isolado, a bala alojada no pulmão do
senador Cid Gomes é o sintoma mais contundente de que já não vivemos somente a
irremediável discórdia; a abominável intolerância; a repugnante truculência
emanada pelo poder. A barbárie já começou", diz o colunista Ricardo Bruno
20 de fevereiro
de 2020
Jornalista
político, apresentador do programa Jogo do Poder (Rio) e ex-secretário de
comunicação do Estado do Rio
Em que pese o
destempero flagrante na tentativa de resolver uma greve na marra e na força de
uma retroescavadeira, o tiro disparado contra senador Cid Gomes é o sintoma
mais eloquente da perigosa ruptura do tecido social do país, esgarçado pelos
ataques frequentes e imoderados do presidente Bolsonaro. A cada dia, descemos
um degrau em direção à absoluta falta de limite no trato das naturais
diferenças da sociedade brasileira. O insulto ignóbil, a palavra torpe, a
vilania abusiva da autoridade máxima da República contribuem para firmar no
inconsciente coletivo da sociedade a certeza de que tudo pode e deve ser feito
contra aqueles que se antepõe à nossa visão de mundo.
Assim,
multiplicam-se as ofensas a comunistas e esquerdistas em geral; disparam as
agressões a lésbicas e gays; proclamam-se mortes decorrentes da ação policial como troféu; difundem a difamação
como método; confrontam o adversário não para vencê-lo. mas para
eliminá-lo. Neste torvelinho de ódio, ergue-se, por fim, a versão caluniosa
que, exposta nas redes sociais por falanges robotizadas, substitui a verdade,
obtendo mais força do que o próprio fato. Às avessas, confirma-se o vaticínio
de Nietzche: “Já não há fatos, apenas versões”.
A história do país está se tornando uma fábula, construída na deliberada
distorção da verdade a partir da presidência da república e de seus acólitos.
As agressões
misóginas à repórter da Folha são uma página desta fábula tenebrosa em que
tentam transformar nossa história. Por mais repugnante, o ato não é isolado.
Não resulta de um deslize ocasional; é parte de um enredo cujo epílogo é a
demolição dos alicerces democráticos do país.
Mais do que um
crime isolado, a bala alojada no pulmão do senador Cid Gomes é o sintoma mais
contundente de que já não vivemos somente a irremediável discórdia; a
abominável intolerância; a repugnante truculência emanada pelo poder. A barbárie já começou. E só será contida pela
ação enérgica do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. Se as
instituições, neste momento, não puserem freios a esta degradação de métodos e
princípios, a Nação mergulhará numa crise sem precedentes, levando de roldão a
maior conquista da sociedade brasileira: a democracia - construída na luta dos
que ofereceram a vida contra o arbítrio de 64 e edificada na Constituição
cidadã de 88.
O presidente da
Câmara, Rodrigo Maia, tem-se mostrado preocupado com atual escalada de gestos e
ações que comprometem o regime democrático. Não será improvável que, a curto
prazo, proclame posições duras de oposição aos arroubos autoritários
presidenciais. Na mesma linha, espera-se uma nítida tomada de posição dos
ministros do Supremo – guardiões finais dos princípios democráticos liberais de
Tocqueville, pilares da Constituição Brasileira.
Neste momento,
os democratas de todos os matizem precisam estar juntos. Para além das batalhas
eleitorais, a unidade é essencial para derrotar a barbárie e garantir a
integridade da democracia brasileira. Churchil, Roosevelt e Stalin já nos
ensinaram que é necessário grandeza quando se tem pela frente um adversário
ardiloso. A gravidade do momento não permite erros tampouco vaidades. Exige
ação!
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