Sergio Moro (Foto: ADRIANO MACHADO - REUTERS)
Marcelo Auler, Jornalista pela Democracia, escreve que "a
parcialidade que Sérgio Moro mostrou como juiz responsável pela Lava Jato agora
reaparece no exercício da função de ministro de Bolsonaro". "Não há
sequer disfarce, quando Moro seleciona a quem a Polícia Federal deve
investigar", afirma o jornalista
2 de março de
2020
Marcelo Auler,
63 anos, é repórter desde janeiro de 1974 tendo atuado, no Rio, São Paulo e
Brasília, em quase todos os principais jornais do país, assim como revistas e
na imprensa alternativa.
Por Marcelo
Auler, em seu blog e para o Jornalistas pela Democracia - A parcialidade que
Sérgio Moro mostrou como juiz responsável pela Lava Jato curitibana, ocasião em
que direcionou aos petistas – em especial ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva – todo o foco daquela operação, agora reaparece no exercício da função de
ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro. Um governo eleito
por conta do impedimento da participação do ex-presidente petista na eleição de
2018.
Não há sequer
disfarce, quando Moro seleciona a quem a Polícia Federal deve investigar.
Atualmente busca aqueles que atacam Bolsonaro. Ocorreu com Lula, por conta de
uma declaração que o ex-juiz, hoje ministro, considerou ofensiva ao presidente
da República que o alçou ao Executivo. Em despacho de novembro de 2019, o atual
ministro pediu que ele fosse enquadrado na famigerada Lei de Segurança Nacional
por ter dito que o atual governo é presidido por um “miliciano”. Moro ainda
tentou desmentir tal fato, mas documentos provaram o contrário do que disse.
Em fevereiro,
o ministro deu guarida a um pedido de inquérito formulado por um Instituto
Conservador de São Paulo, o que levou a Polícia Federal investigar os
organizadores do coletivo punk Facada Fest – um festival de música punk –
realizado no Pará. Foi uma demonstração de que, no seu atual cargo, resolveu
decidir o que pode ou não ser divulgado. Para ele, “publicar cartazes ou
anúncios com o PR (Presidente da República) ou qualquer cidadão empalado ou
esfaqueado não pode ser considerado liberdade de expressão. É apologia ao
crime, além de ofensivo”. Falta convencer disso os ministros do Supremo
Tribunal Federal, que defendem a total liberdade de expressão.
Nessa sua
preocupação de defender a imagem do presidente que o alçou da província
curitibana ao planalto central, Moro busca crimes onde não existe, mas não os
enxerga quando ele acontece à vista de todos. Com repercussão nacional. Por
exemplo, os ataques de milícias digitais. Inclusive quando elas atingem seus
aliados, que os defenderam quando atacado pela perseguição e parcialidade nos
processos envolvendo petistas.
É o caso da
jornalista Vera Magalhães que o venera desde os tempos em que atuou na Rádio
Jovem Pan. Ela ainda inaugurou sua participação no programa Roda Viva, em 20 de
janeiro, dando palco ao ex-juiz. Vilipendiada nas redes sociais pelos
eleitores/seguidores da família Bolsonaro, a jornalista não teve da parte de
Moro – pelo menos publicamente – qualquer gesto ou palavra de apoio. Tampouco
ele se preocupou em providenciar junto à Polícia Federal investigação sobre os
detratores da mesma.
Vera, como o
próprio Estadão noticiou, viu criarem uma “conta falsa” em seu nome no WhatsApp
com mensagens fraudadas, distribuídas também em outras redes sociais. Além
disso, publicaram uma cobrança de 2015 do colégio onde estudam seus filhos.
Tudo como forma de constrangimento à jornalista e ao seu trabalho.
Não se trata,
portanto, de meras postagens críticas ao seu trabalho. Mas sim de uma forma
direta de tentar intimidá-la com ameaças e vilipêndios pelas redes sociais,
disseminando falsidades. Isto sim é atentar contra a Liberdade de Expressão e a
liberdade de imprensa. Logo, um crime.
Sendo um crime
– certamente muito mais caracterizado do que nas supostas ofensas de Lula a
Bolsonaro, ou nos cartazes de gosto duvidoso da festa punk – tais fatos
deveriam ser motivos de o ex-juiz, hoje ministro, providenciar uma investigação
isenta e aprofundada pela Polícia Federal. Quem postou? Quem a ameaçou? quem
publicou reproduziu tais ataques?
Mas, muito
provavelmente, Moro sabe que uma investigação a fundo em torno de ataques
digitais e combate a fake news vai esbarrar em milícias digitais a serviço do
governo do presidente ao qual ele hoje atende, inclusive buscando mostrar
serviço ao tentar perseguir quem o critica.
Milícias que,
muito provavelmente são comandadas e/ou insufladas por membros deste mesmo
governo, quando não pela própria família presidencial. Afinal, é público, que
os filhos de Bolsonaro administram perfis digitais que produzem mensagens
parecidas. Não estariam por detrás de mais estes ataques? Moro teria coragem de
levar à fundo uma investigação como esta?
Recordemos que
pai e filho atacaram, muito recentemente, a jornalista Patrícia Campos Mello
reverberando falsidades ditas por um dos operadores que deflagraram fake news
nas redes sociais. A repórter foi atacada por expor publicamente um dos
responsáveis pelos disparos de campanhas eleitorais via rede digital. Atacadas
com mentiras.
Ainda assim,
apesar de todas as evidências da falsidade do que foi dito contra a jornalista,
tanto o presidente, como seu filho deputado federal, tratou de dar eco às
acusações e aleivosias, inclusive de cunho sexual. O pai, inclusive o fez em
tom de chacota.
Da mesma forma
que o presidente tentou desvalorizar o trabalho de Vera Magalhães, quando esta
denunciou que ele zapeou a convocação para as manifestações de 15 de março.
Bolsonaro tem
o direito de criticar o trabalho de qualquer jornalista. Não, tentar esconder o
que é fato. Recorrer às mentiras, como fez e acabou ridicularizado.
Já seu
ministro da Justiça não pode deixar passar batido crimes como os de
intimidações às pessoas. Menos ainda quando se trata de uma tentativa de
prejudicar a liberdade de imprensa, preceito constitucional. Quando deixa de
agir em horas como essas, apenas mostra que continua sendo parcial. Escolhe
sempre quem atacará ou defenderá. Geralmente, fazendo as escolhas erradas.
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