(Foto: ADRIANO MACHADO)
A colunista Tereza Cruvinel afirma que Bolsonaro cruzou a
fronteira da saúde mental. Ela diz: "Bolsonaro age como um doente “border
line”, cruza a toda a hora a fronteira entre sanidade e demência". Ela
completa: " (...) à noite recaiu, numa fala em que trombou com a ciência,
com as práticas internacionais adotadas contra a pandemia, com as orientações
das autoridades nacionais, inclusive de seu governo"
25 de março de
2020
Colunista do
247, Tereza Cruvinel é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País
X-X-X
Quando se pensa que Bolsonaro caiu
na real, abriu diálogo com os governadores e rendeu-se à força inegável da
pandemia, ele reincide no negacionismo, volta a falar em “gripezinha” e
“resfriadinho” referindo-se ao coronavirus,
ataca a mídia e os governadores,
defende o fim do confinamento para os não-idosos e a volta ao trabalho. Sabotando ostensivamente o esforço do país
para mitigar os efeitos devastadores do coronavirus, Bolsonaro age como
genocida. É preciso interditá-lo antes que seja tarde.
Bolsonaro age como um doente
“border line”, cruza a toda a hora a fronteira entre sanidade e demência.
Durante o dia ele estava de um lado, falou com o presidente da China, fez
teleconferência com governadores. E à noite recaiu, numa fala em que trombou com a ciência, com
as práticas internacionais adotadas contra a pandemia, com as orientações das
autoridades nacionais, inclusive de seu governo, buscando culpados, como se todos estivessem
errados e interessados apenas em criar pânico para piorar a situação. Em sua fala, ele disse que tudo o que está
sendo feito está errado. O que pensarão os brasileiros que ouvem uma coisa de
dia e outra à noite?
E se todos resolvessem amanhã
seguir a orientação de Bolsonaro? Isso não vai acontecer, a população está
lúcida e consciente, mas se ocorresse, iríamos para o pior dos mundos. E se todos resolvessem amanhã sair da
quarentena e voltar ao trabalho, expondo-se à contaminação por um vírus tão
tenebroso? E se os governadores, como
ele recomendou, recuassem do fechamento do comércio e das restrições à
circulação, reabrindo inclusive as escolas? Teríamos o pandemônio completo.
Para completar, ele voltou a fazer propaganda da cloroquina, no dia em que um
paciente morreu nos Estados Unidos após fazer uso do medicamento que está sendo
testado. Então, o presidente está sabotando o esforço do país, está confundindo
a população, criando uma situação de grave risco sanitário.
Mas o surto não é só dele, é
compartilhado pelo bolsão mais radical do bolsonarismo. Nesta terça-feira
circularam nas redes bolsonaristas um vídeo denunciando uma conspiração para
derrubá-lo, tendo como pretexto a pandemia. Fariam parte deste complô a mídia,
Rodrigo Maia, os partidos de esquerda e os de centro.
Diz o vídeo: “Um golpe de Estado
está sendo planejado pela mídia, a esquerda e o centrão, e todos os
intelectuais contrários ao presidente.” O nome do presidente da Câmara não é
citado mas aparece nas imagens. “O plano
é derrubar o capitão a qualquer preço. Tudo está sendo arquitetado neste
momento. O plano tem três vertentes”, explica o locutor.
A primeira seria desgastar a
imagem de Bolsonaro, qualificando-o como radical que não consegue dialogar. A
segunda seria desacreditá-lo, com
análises distorcidas de suas palavras produzidas dentro das redações. “Eles
pegam frases soltas de Bolsonaro e tiram do contexto para prejudicá-lo”. E por fim, o “plano inescrupuloso” estaria
passando a ideia de que o presidente está criando uma crise institucional por
desrespeitar as instituições, como o
Congresso e o STF. Diz ainda o locutor que, com a pandemia, a economia que
estava crescendo foi atingida e caminha para a recessão, e o sistema de saúde vai entrar em
colapso. E com isso estará criado o
cenário para o golpe.
“A imprensa
trabalha 24 horas por dia para inocular na mente das pessoas o pânico e o
medo”, criando a ideia de que tudo é culpa dele. “Está tudo pronto para o golpe
dos canalhas”, que já tratam do impeachment de Bolsonaro abertamente, segue o
locutor, conclamando à resistência: “Se
abandonarmos o capitão Bolsonaro, ele vai cair, e com ele a esperança de um
novo Brasil”.
Mas é
Bolsonaro, apenas ele, que está tornando
sua permanência na Presidência um risco para o Brasil. As crises testam os
governantes e ele está sendo reprovado, queimando o crédito que lhe foi
dado. Ninguém distorceu o que ele disse
ontem, ninguém editou o vídeo de seu pronunciamento. Está aí, para quem quiser
conferir, como prova do mal que ele está causando.
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