Foto: Reprodução/YouTube
22 de março de
2020
POR DILMA
ROUSSEFF, ex-presidente do Brasil
O desembarque
de uma brigada de médicos cubanos neste domingo na região da Lombardia, na
Itália, é uma forte ação de cooperação e solidariedade entre nações. A Itália,
embora sendo um dos países mais ricos do mundo é, neste momento, o que mais tem
perdido vidas para o COVID-19. Os italianos celebraram o apoio humanitário
cubano com aplausos.
A brigada de
médicos que chegou à Itália dá continuidade à ajuda sanitária que, de forma
sistemática, tem sido realizada por Cuba na Nicarágua, Jamaica, Suriname,
Venezuela e Granada. Tais brigadas reafirmam que o caminho para uma vitória
sobre a pandemia passa necessariamente pela cooperação e solidariedade entre as
Nações.
O povo e o
governo de Cuba são um exemplo aos governantes que se rendem a atitudes
mesquinhas e mentiras, desdenham da gravidade da crise com um comportamento
irresponsavelmente agressivo e diversionista, e não descem do palanque sequer
quando o mundo vive a sua maior tragédia em décadas.
Bolsonaro, na
sua ignorância irresponsável, já tratou os médicos cubanos com a mesma visão
míope e o mesmo preconceito ideológico que dedicou, semana passada, aos
chineses, e que o levou a chamar o coronavirus de “gripezinha”.
Em 55 anos,
Cuba cumpriu 600 mil missões internacionalistas, em 164 países, envolvendo 400
mil profissionais de saúde. Entre outras ações, lutou contra o ébola na África
Ocidental, tratou a cegueira na América Latina e no Caribe, enfrentou a cólera
no Haiti e enviou 26 brigadas de resgate e salvação para países como Paquistão,
Indonésia, México, Equador, Peru, Chile e Venezuela, diante de grandes
desastres e epidemias. A maioria destas missões foi patrocinada pelo governo
cubano, que também ofereceu cursos para 35.613 médicos oriundos de 138 países.
Estas ações
internacionais correspondem à vocação humanista e solidária do povo cubano,
razão pela qual seus médicos são reconhecidos internacionalmente, ao prestar
serviço em cerca de 70 países.
No Brasil, os
médicos cubanos foram centrais para que o programa Mais Médicos se efetivasse,
fortalecendo o SUS e suprindo a falta de profissionais brasileiros no
atendimento à população pobre e mais vulnerável. Com mais de 18.000 médicos, o
programa Mais Médicos atendeu 63 milhões de brasileiros. Uma parte
significativa deste trabalho foi feita pelos mais de 11.000 médicos cubanos que
foram o núcleo duro do programa.
O Mais Médicos
fez dezenas de milhões de atendimentos, em mais de 4.058 municípios, sobretudo
nas regiões metropolitanas, em favelas, nas áreas de periferia, cidades do
interior, áreas quilombolas e reservas indígenas. Os cubanos nos ajudaram a
tornar possível, pela primeira vez na história, ter um médico em 700
municípios, que jamais haviam tido um único profissional desta área.
No Brasil, a
presença dos médicos cubanos seria agora ainda mais estratégica, diante da
necessidade de combater o coronavirus e fortalecer a atenção básica de saúde.
No entanto, essa parceria em saúde pública, tão fundamental para o País, não
sobreviveu à ascensão do governo de extrema-direita de Bolsonaro, que esteve
sempre mais preocupado em espalhar mentiras contra “inimigos ideológicos”
inexistentes em vez de se dedicar ao cuidado com a saúde da população.
Desrespeitados
por Bolsonaro e hostilizados de forma tão infame por seus seguidores
fanatizados, os médicos cubanos foram, entretanto, amados pelos pacientes.
Bolsonaro os
insultou tanto que o governo de Cuba sentiu-se no dever de chamá-los de volta e
encerrar a participação no programa. A chancelaria de Cuba reagiu: “Não é
aceitável questionar a dignidade, o profissionalismo e o altruísmo dos nossos
médicos”.
E assim, por
meio da ofensa e da calúnia, Bolsonaro expulsou do Brasil milhares de
profissionais de saúde que seriam de extrema importância neste momento em que o
coronavírus começa a se espalhar pelo nosso território. Submete dezenas de
milhões de brasileiros ao desamparo e à absoluta impossibilidade de consultar
um médico num momento de grave crise e de muito medo e desorientação. Os mesmos
médicos que, neste domingo, são recebidos calorosamente pelo governo e pelo
povo da Itália. Os mesmos médicos que países do mundo inteiro reconhecem como
qualificados e competentes. O mínimo que se poderia dizer, agora, ao presidente
despreparado e tosco que finge que governa o Brasil é: “Viu o que você fez?”
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