
(Foto: Alan Santos/PR | Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados)
De acordo com um membro do Poder Judiciário, Jair Bolsonaro
"queria autonomia para 'pilotar' a PF como um todo, principalmente para
investigar Maia, a quem ele vem pedindo mais empenho nas investigações".
Também cobrava investigação sobre a atuação de João Dória e Wilson Witzel, dois
possíveis adversários dele na eleição presidencial de 2022
25 de abril de
2020
Aliados de
Jair Bolsonaro e integrantes do Judiciário afirmam que ele reclamava, com
frequência, por acreditar que a Polícia Federal "fazia corpo mole" ao
não investigar o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e
os governadores João Doria (SP) e Wilson Witzel (RJ).
"A recusa
em atuar no inquérito das Fake News que pode respingar no Eduardo (Bolsonaro)
foi o estopim", disse, em reserva, um membro do Judiciário, que pediu
anonimato. "Bolsonaro queria autonomia para 'pilotar' a PF como um todo,
principalmente para investigar Maia, a quem ele vem pedindo mais empenho nas
investigações", complementou. As entrevistas desta matéria foram
concedidas ao jornal O Globo.
A crise
política no governo aumentou após Bolsonaro exonerar o Maurício Valeixo da
Diretoria-Geral da PF. Moro apontou crimes de responsabilidade por parte do seu
ex-chefe. "O presidente me relatou que queria ter uma indicação pessoal
dele para ter informações pessoais. E isso não é função da PF",
complementou.
Um inquérito
do Supremo Tribunal Federal (STF) apura a disseminação de fake news e ataques a
parlamentares e ministros da Corte pelas redes sociais. O outro apura a
organização de atos a favor da intervenção militar no governo no último fim de
semana. De acordo com integrantes da Polícia Federal, a primeira investigação
atinge um dos filhos de Bolsonaro.
Superintendentes
e diretores que participaram da reunião com Valeixo na quarta-feira (22)
ficaram perplexos ao ver o Bolsonaro dizer em pronunciamento nesta sexta-feira
(24) que o diretor-geral teria dito que estava "cansado" e queria deixar
o cargo. Duas pessoas presentes na conversa com Valeixo afirmaram que ele disse
apenas não ter "apego a cargos".
"É muito
diferente de dizer que ele tava cansado e que ia sair, comunicando a
exoneração. Ele não disse isso", afirmou um delegado da PF presente à
conversa com Valeixo.
De acordo com
delegados, Bolsonaro demonstra desconhecimento do papel da PF. Outro delegado
afirma: "Nossos relatórios não são como os do Exército ou da Inteligência
do governo. Muitas vezes nem o superintendente tem acesso se não é para ter
acesso. Pode ser só da competência do delegado que conduz a investigação. É
diferente de relatório de inteligência que produz no órgão governamental, que,
em tese, é de interesse do presidente. Enquanto o juiz determina sigilo num procedimento,
ninguém que não seja parte pode ter conhecimento".
Witzel e Doria
Um aliado de
Bolsonaro no Palácio do Planalto também afirmou que ele reclamava da falta de
investigações sobre a atuação dos governadores João Dória (PSDB-SP) e Wilson
Witzel (PSC-RJ), dois possíveis adversários de Bolsonaro na eleição
presidencial de 2022.
O embate com
Witzel aumentou principalmente após serem evacuadas na imprensa informações
sobre supostas ligações da família Bolsonaro com o assassinato da ex-vereadora
Marielle Franco (PSOL), em março de 2018. O clã presidencial sinalizava que o
governador do Rio interferia de alguma forma nas investigações para prejudicar
a família Bolsonaro.
Em março,
foram presos dois suspeitos de serem os assassinos de Marielle: o policial
militar reformado Ronnie Lessa e o ex-militar Élcio Vieira de Queiroz. O
primeiro é acusado de ter feito os disparos e o segundo de dirigir o carro que
perseguiu a parlamentar. Lessa morava no mesmo condomínio de Bolsonaro. Outro
detalhe é que Élcio Vieira de Queiroz, de 46 anos havia postado no Facebook uma
foto ao lado de Jair Bolsonaro. Na foto, o rosto de Bolsonaro está cortado.
O confronto
com o governador João Doria, que apoiou Bolsonaro, veio após o tucano se
fortalecer cada vez mais dentro do PSDB como candidato do partido à presidência
da República. O chefe do Executivo paulista chegou a fazer uma autocrítica por
ter votado em Bolsonaro. "Não tinha a perspectiva de ter um presidente que
pudesse vir a ter comportamentos tão irresponsáveis, tão distantes da verdade,
tão condenáveis sobretudo numa situação de pandemia como essa", disse ele,
em entrevista a Sérgio Dávila, na Folha de S. Paulo.
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