
Frederic Kachar (Foto: Reprodução | USP Imagens)
Documento enviado por Frederic Kachar sinaliza que a Globo
passará pela maior reestruturação de sua história em razão da depressão
econômica. Leia a íntegra da carta
23 de abril de
2020
O diretor
geral do jornal Globo, Frederic Kachar, sinaliza uma demissão em massa na
emissora. De acordo com o dirigente, o impacto da pandemia do coronavírus
"é muito rápido e devastador". "Dado o cenário nas receitas, se
faz necessário adotar medidas mais profundas de ajustes nos custos", diz.
"Infelizmente,
o horizonte de curto prazo não é promissor. Não somente porque o confinamento
não tem prazo definido para acabar, mas principalmente porque o impacto na
saúde financeira dos consumidores e anunciantes já é real. E os hábitos de
ambos já estão mudando. Aqui e no mundo", continua.
"Somos
uma empresa de serviços, em que a folha representa mais da metade do custo. Já
implementamos ações imediatas, como a utilização do banco de horas, a aplicação
das férias compulsórias e o congelamento das admissões e movimentações
internas", complementa.
Leia a íntegra da carta:
Prezados,
Como sabem,
estamos diante de um desafio sem precedentes para nossa geração. A pandemia do
novo coronavírus está impactando a tudo e a todos de maneira profunda e
estrutural. Temos várias perguntas e pouquíssimas respostas. Uma coisa, porém,
me parece clara: o mundo mudou e a retomada, que não sabemos ainda quando e
como ocorrerá, será rumo a uma nova normalidade.
O que isso
significa pra nossa empresa?
Muitas coisas.
A mais importante delas é que a velocidade com que vínhamos transformando
nossos negócios com vistas a nos tornarmos uma media tech vai ter que crescer
bastante. Os prazos que tínhamos nos colocado para atingir metas dessa
travessia foram definitivamente encurtados.
Nesse sentido,
vivíamos um período promissor nos seis meses antes do estouro da pandemia.
Tivemos um último trimestre em 2019 com relativa estabilidade nas receitas e
resultados muito melhores que os do restante do ano. Começamos 2020 num ritmo
melhor ainda, o que nos possibilitou o melhor primeiro tri dos últimos anos.
Estamos
colhendo os frutos do que plantamos até então, reforçando a trajetória de
transformação que temos buscado desde 2015.
No entanto, o
impacto da pandemia é muito rápido e devastador, apesar de todos os esforços do
nosso jornalismo, que vêm resultando em recordes de audiência, e das demais
áreas para manter nossa operação funcionando, mesmo que trabalhando
remotamente.
Em março, os
efeitos ainda estavam controlados, mas em abril já estamos enfrentando quedas
importantes e preocupantes em nossas receitas. Com exceção de assinaturas
digitais — que ainda não têm um peso relevante nas receitas totais, mas cujo
crescimento se acelerou ainda mais desde o início da crise, reforçando que
estamos no caminho certo —, todos os demais canais estão sofrendo quedas agudas.
Principalmente a publicidade, que ainda é a parte mais representativa do
faturamento total e a pedra fundamental do nosso resultado.
Infelizmente,
o horizonte de curto prazo não é promissor. Não somente porque o confinamento
não tem prazo definido para acabar, mas principalmente porque o impacto na
saúde financeira dos consumidores e anunciantes já é real. E os hábitos de
ambos já estão mudando. Aqui e no mundo.
Diante de um
cenário emergencial como o de agora, infelizmente não temos como fugir da revisão
dos custos para tentar restabelecer minimamente um equilíbrio operacional.
Ainda em março, começamos a renegociar todos os nossos contratos com
fornecedores. Não há uma única despesa que não esteja sendo revista.
No entanto,
isso é insuficiente. Somos uma empresa de serviços, em que a folha representa
mais da metade do custo. Já implementamos ações imediatas, como a utilização do
banco de horas, a aplicação das férias compulsórias e o congelamento das
admissões e movimentações internas.
Ainda assim,
dado o cenário nas receitas, se faz necessário adotar medidas mais profundas de
ajustes nos custos. Diante das poucas alternativas que temos, acredito que a
mais adequada ao momento, e levando em conta nosso histórico recente, seja a
adesão à Medida Provisória 936.
A primeira
faixa de redução de jornada e salários estipulada por esta MP, fixada em 25%,
para todos os funcionários de todas as áreas, níveis hierárquicos e funções,
nos dará um fôlego extra para a parte mais difícil da travessia e,
principalmente, para tomarmos as atitudes necessárias para acelerar a
transformação de nossos produtos e receitas.
Conforme
previsto na própria MP, o governo fará a complementação devida da renda a cada
trabalhador, e este processo é automático (depósito feito na conta do empregado
após a comunicação do RH da empresa). Os benefícios serão mantidos
integralmente. Em alguns casos, avaliados pontualmente, aplicaremos a suspensão
do contrato de trabalho, também prevista na MP.
Estamos
disponibilizando um canal exclusivo no RH para dúvidas e questões gerais sobre
o tema (falecomrh@infoglobo.com.br).
Se por um lado
é frustrante tomar essas medidas depois de uma razoável sequência de meses
contundentes em nossa caminhada, por outro temos de ver que estamos mais fortes
do que nunca para lidar com um desafio dessa envergadura.
Isso é fruto
do talento, do comprometimento e da paixão que temos pelo nosso negócio.
Acredito que vamos nos fortalecer com essa travessia e retomar, ainda em 2020,
a trajetória que vínhamos construindo. Seguiremos firmes e motivados na busca
das respostas para as muitas dúvidas que temos sobre o futuro da sociedade, da
economia e do jornalismo.
Nossa missão
como empresa jornalística está em seu ápice nas últimas décadas. Somos mais
importantes do que nunca para a sociedade. Precisamos assegurar a melhor
cobertura dos fatos, assegurando a toda nossa vasta audiência informação e
conhecimento para lidar com essas novas normas.
Nossas áreas
comerciais seguem buscando soluções de mídia para nossos anunciantes,
assegurando que o impacto das mensagens transmitidas a nossos leitores seja positivo
para seus negócios, que também enfrentam esse desafio.
Agradeço a
todos desde já. Contem comigo e com os demais diretores. Protejam suas famílias
nesse momento delicado. A coesão e a cumplicidade entre nós crescerão bastante
nos próximos meses.
Sigo otimista
com a nossa empresa. Com trabalho, entusiasmo, disciplina e talento vamos
superar mais esse desafio.
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