
Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)
"Esse governo acabou, tenta sobreviver, mas sua
sobrevivência só pode ser fazer às custas do Brasil, da situação social e da
vida dos brasileiros, da democracia", escreve o sociólogo Emir Sader.
"Fora Bolsonaro e seu governo. Fora os militares que tentam sequestrar o
Estado. Fora os que resistem à democracia, aos direitos do povo"
8 de abril de
2020
Colunista do
247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos
brasileiros
X-X-X
Os mesmos que
arquitetaram a chegada desse governo ao poder, agora tratam de colocar-lhe
esparadrapos, como se fosse possível corrigir o já nasceu errado, como farsa,
como atentado contra a democracia.
E o fazem,
porque se dão conta que esse governo se esgotou e fracassou. O homem a quem
eles apelaram para presidir o governo é incompetente para assumir o cargo, para
presidir o país. E destitui até da capacidade de mudar um ministro que o
afronta abertamente, sabendo que o presidente não preside, nem decide.
Quem se ocupa
da economia, já antes da pandemia, já se havia revelado incapaz de fazer a
economia andar, de criar empregos, mesmo destruindo patrimônio público, mesmo
fazendo todas as concessões aos grandes empresários e em especial aos bancos.
Estes preferem a especulação financeira ao investimento produtivo que gera
crescimento e empregos. Preferem a sonegação à fuga de capitais.
Tiram poder a
quem entregaram o poder. Relegam a um pape decorativo quem deveria estar
comandando o país, mas que só atrapalha, desagrega ao invés de unir, ameaça em
lugar de pacificar.
A direita – os
grandes empresários, a mídia, os militares – tratam agora, embaixo da mesa, na
calada da noite, de mudar as regras do jogo, de construir um governo dentro do
governo, um poder que maneje as coisas de maneira subrepticia. Querem um
parlamentarismo em que quem manda não foi eleito, não está submetido a nenhum
tipo de controle, nem do Parlamento, nem do Judiciário, porque não dá as caras,
governo e manda, sem assumir o ônus de fazê-lo.
Se constrói
uma caricatura de democracia, em que vão aparecendo personagens soturnos,
saídos das casernas, que festejam o golpe, a ditadura e as torturas. Que
desprezam a democracia e a destroem cotidianamente. Que mandam de costas para a
sociedade civil e para a cidadania, porque os negam com seu poder clandestino,
que não foi delegado pelo povo, mas escolhido pelo presidente declarado
incompetente para governar, depois de ter suas qualidades cantadas em prosa e
verso por aqueles que agora se distanciam ou buscam uma forma de se
reconciliarem com quem usurpa o poder desde dentro do Estado.
Mas não tem
jeito, não ha remendo que recupere esse governo. Ele está doente de morte pela
forma não legítima como foi eleito. Pela política econômica suicida para o
Brasil, para o povo brasileiro e para a democracia. Pelo presidente que foi
colocado lá, seus filhos e suas milícias. Pela participação dos militares, não
eleitos, que ocupam o governo com fins de afirmarem seu papel conservador e
repressivo. Pela incapacidade de todos eles de enfrentarem os graves problemas
que o Brasil enfrenta. Não foram capazes de enfrentar a recessão e o
desemprego. Não são capazes de enfrentar a pandemia. Não serão capazes de
encarar a reconstrução do Brasil.
Porque o
Brasil pós-pandemia vai ter que ser reconstruído inteiro: o Estado, a economia,
a sociedade, a educação, a saúde, a cultura, a política internacional. Tudo,
tudo. E ele só poder ser reconstruído a parir da sua esfera pública: de um
Estado fortalecido, da recuperação da produção econômica, das políticas de
distribuição de renda, da escola pública, da saúde pública, da mobilização de
toda a população para a reconstrução do país: dos trabalhadores, dos pequenos e
médios proprietários, dos jovens, das mulheres, dos negros, dos professores,
dos artistas, dos intelectuais, de todo o povo, para que seja uma reconstrução
coletiva, democrática, solidária.
Esse governo
acabou, tenta sobreviver, mas sua sobrevivência só pode ser fazer às custas do
Brasil, da situação social e da vida dos brasileiros, da democracia. Fora
Bolsonaro e seu governo. Fora os militares que tentam sequestrar o Estado. Fora
os que resistem à democracia, aos direitos do povo, à liberdade, ao livre
debate, à criação artística, às escolas e aos estudantes, a um Brasil orgulhoso
de si mesmo, porque dono de novo do seu destino.
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