
Moro e Bolsonaro. (Foto: Reuters)
"Sem foro privilegiado e sem o corporativismo da Justiça,
que trocou por seus projetos pessoais, está sujeito aos mesmos processos a que
estão expostos qualquer brasileiro, o que significa que poderá provar do seu
próprio remédio, curtindo o sol quadrado", escreve o jornalista Ribamar
Fonseca
27 de abril de
2020
Ribamar
Fonseca é Jornalista e escritor
X-X-X
Qual a diferença entre Bolsonaro e Moro? Resposta:
os olhos azuis do capitão. Os dois são como irmãos siameses, parecidos em tudo,
na ambição pelo poder, no autoritarismo, na ausência de escrúpulos, na
facilidade para mentir, etc. Eles são a melhor comprovação do enunciado da
Física, segundo o qual “os semelhantes se atraem”. E são responsáveis, juntos,
pela situação desastrosa do país. Graças a Moro, que impediu o ex-presidente
Lula de concorrer às últimas eleições presidenciais, o medíocre deputado Jair
Bolsonaro, admirador do torturador Brilhante Ulstra, conquistou o Palácio do
Planalto e trouxe os militares de volta ao poder, agora pela via democrática. Nada mais natural, portanto, que tivesse
convidado o juiz Sergio Moro, famoso por sua atuação na operação Lava-Jato,
para ser o seu ministro da Justiça, com a promessa de indica-lo para uma
cadeira no Supremo Tribunal Federal. A
separação traumática dos dois, no entanto, os transformou em inimigos, após um
breve período de lua de mel. Na verdade, a saída de Moro do governo começou a
se desenhar aos primeiros sinais de desagrado dos filhos do Presidente, motivo
porque não chegou a ser uma surpresa.
Também não foi
surpresa como o ex-juiz deixou o cargo: atirando. Depois da sua criticada
atuação na Lava-Jato, sobretudo após a revelação pelo site Intercept Brasil do
seu modus operandi, todos ficaram sabendo que ele é capaz de qualquer coisa
para atingir seus objetivos. Ao fazer graves acusações a Bolsonaro,
especialmente no que diz respeito à sua tentativa de interferir nas
investigações da Policia Federal e do próprio STF, Moro acabou confessando que
foi conivente com as ações do capitão, aprovando-as com o seu silêncio. Só
colocou a boca no trombone quando percebeu que, após a demissão de Mandetta do
ministério da Saúde, era a bola da vez. E, como sempre, contando com a
cobertura da grande imprensa, em especial da Globo, deu o seu showzinho particular,
apresentando-se como um herói, defensor da Policia Federal. Obviamente que o
seu prestigio dentro da PF subiu às alturas, principalmente quando ele disse
que precisava de uma “causa” para aceitar a
demissão do diretor geral da
corporação. Ora, o Presidente da República não precisa de “causa” para demitir
quem ele quiser e nem de autorização de subordinado. Se ele quisesse poderia, inclusive, exonerar os dois juntos: ministro e diretor.
Moro sabia disso mas, obviamente, quis fazer média com os policiais federais.
O erro de
Bolsonaro, na verdade, não estava na troca do diretor mas no motivo. Ele quer
alguém que lhe seja fiel e lhe mantenha informado de todos os passos das
investigações realizadas pelos federais. Os seus objetivos são: primeiro,
impedir que os policiais cheguem até os seus filhos, alvos de várias acusações;
e, segundo, ter em mãos informações privilegiadas que lhe permitam manipular os
seus adversários políticos. Durante algum tempo Moro comportou-se como um fiel
escudeiro, entre outras coisas evitando que a PF localizasse e prendesse
Fabricio Queiroz, acusado de operador de supostas “rachadinhas” do então
deputado Flavio Bolsonaro, e também fez
vista grossa para as criminosas fakenews que invadiram as redes sociais
brasileiras, cujo ponto de partida seria o chamado “gabinete do ódio”,
instalado dentro do próprio Palácio do Planalto. Não fora a CPMI das fakenews,
em funcionamento no Congresso, e o inquérito aberto pelo Supremo Tribunal
Federal e até hoje os responsáveis por esses crimes estariam operando
tranquilamente, sem receio de punições, atacando adversários de Bolsonaro e
ameaçando autoridades, particularmente ministros da Corte Suprema. A pressa do
capitão em mexer na Policia Federal deve ser porque o cerco em torno dos filhos
dele está se fechando.
O fato é que
as acusações de Moro a Bolsonaro, que escandalizaram o país, podem servir não
apenas para destituir o capitão da Presidência da República mas, também, para
levar o ex-juiz à cadeia, porque ele é tão culpado quanto o outro. Esse esforço
da Globo em transformar Moro em herói, como fez quando ele comandava a
Lava-Jato, só funcionou num primeiro momento, ao impacto das acusações.
Passados alguns dias, porém, com as emoções voltando ao seu leito normal, já é
possível observar-se a extensão das responsabilidades do ex-juiz nas ações do
Presidente. Resta saber agora apenas como se dará a punição de ambos: se
através de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que investigue com
profundidade a atuação dos dois ou, então, a aprovação do impeachment de
Bolsonaro, que já conta com cerca de 25 pedidos na Câmara dos Deputados. Ou,
então, através da renúncia do capitão, o que parece mais difícil, ou a cassação
da chapa presidencial pelo Tribunal
Superior Eleitoral. Apenas neste caso haveria novas eleições, pois nos outros o
vice Mourão assumiria o governo.
De qualquer
modo, parece que os dias de Jair Bolsonaro na Presidência da República estão
contados. Afora os seus fanáticos seguidores, que praticamente tem orgasmos
quando ele fala em matar, já existe um consenso em todos os setores de
atividades para a sua saída do Planalto. A maioria do povo brasileiro, segundo
as pesquisas, já o quer fora do governo, o que deve acontecer ainda este ano,
em meio à guerra contra o coronavirus. Com a sua queda os seus filhos, que se
revelaram os seus maiores adversários
com as crises que provocaram, estarão sujeitos às penas da lei, mais
precisamente à prisão, e tudo leva a
crer que todos os três também perderão seus mandatos. Com Moro não será muito
diferente. Sem foro privilegiado e sem o corporativismo da Justiça, que trocou
por seus projetos pessoais, está sujeito aos mesmos processos a que estão
expostos qualquer brasileiro, o que significa que poderá provar do seu próprio
remédio, curtindo o sol quadrado. Afinal, essa fama de paladino do combate à
corrupção não passou de publicidade, já que à frente do Ministério da Justiça
não prendeu nem o Queiroz. A corrupção ,
na verdade, nunca acabou, embora o aparentemente ingênuo governador
Romeu Zema, de Minas Gerais, tenha declarado recentemente que Bolsonaro “acabou
com a corrupção no país”, uma declaração vergonhosamente bajulatória.
Os juristas
Pedro Serrano e Eugênio Aragão também são de opinião que Moro é cúmplice de
Bolsonaro e, portanto, deve igualmente responder pelos crimes de que acusou o
Presidente. A pergunta que muitos se fazem, agora, é: para onde Moro vai? Para
o Supremo não tem mais jeito. Em principio ele teria emprego garantido em
alguns governos, como secretário de Justiça e Segurança, mas os seus possíveis
empregadores deverão pensar duas vezes antes de convidá-lo, porque assim como
ele grampeou Bolsonaro poderá fazer o mesmo com eles. Depois do que ele
fez com o Presidente, que o levava para
todo lado como troféu, vai ser difícil conquistar a confiança de algum
governador, a não ser que queiram correr riscos. Uma opção para ele poderia ser
o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, com quem trabalhou de braços
dados para derrubar Dilma, prender Lula, eleger Bolsonaro e destruir as grandes
empresas nacionais da construção civil. Até porque se for para lá poderá
escapar das possíveis penas a que está sujeito. A sua primeira grande derrota
deverá ser a anulação da condenação injusta de Lula, com a provável aprovação
da sua suspeição pelo Supremo Tribunal Federal, cujo processo será julgado nos
próximos dias. Afinal, quem planta colhe.
Brasil 247
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