
(Foto: ABr | Reuters | Reprodução)
"Diante da inércia dos dirigentes dos poderes Legislativo e
Judiciário, que não atenderam aos apelos para afastamento da Presidência da
República do homem que vem destruindo o país, os militares teriam encontrado
uma solução menos traumática para o problema: retiraram-lhe os poderes sem
afastá-lo do cargo", diz o colunista Ribamar Fonseca
7 de abril de
2020
Jornalista e
escritor
X-X-X
Aparentemente,
a julgar pelos rumores que circularam na semana recém-finda, o presidente Bolsonaro
foi transformado em rainha da
Inglaterra: reina mas não manda nada. Segundo aqueles rumores, diante da
inércia dos dirigentes dos poderes Legislativo e Judiciário, que não atenderam
aos apelos para afastamento da Presidência da República do homem que vem destruindo o país, os militares teriam
encontrado uma solução menos traumática para o problema: retiraram-lhe os
poderes sem afastá-lo do cargo. E o Brasil já estaria sendo governado de fato
pelo general Braga Neto, atual ministro-chefe da Casa Civil, que ultimamente
tem tomado a frente dos encontros com a imprensa no Palácio do Planalto.
Bolsonaro, na realidade, perdeu espaço
no noticiário, sendo visto praticamente apenas à saída do Palácio da
Alvorada, nos encontros matinais com seus seguidores, oportunidade que
aproveita para despejar suas costumeiras grosserias e ataques à imprensa e
governadores. Se a grande imprensa retirar seus repórteres da porta do Alvorada
ele sairá do foco, com enormes danos para a sua vaidade, e passará a ser
notícia apenas nas redes sociais.
O capitão, na
verdade, já vinha isolado há algum tempo, perdendo o apoio de aliados por conta
sobretudo do seu comportamento diante da pandemia do coronavirus. Sentindo a
debandada, inclusive de ministros que antes o acompanhavam para todo lado, como
Sergio Moro, verdadeiros papagaios de pirata, Bolsonaro passou a se queixar da
ingratidão dos auxiliares. E, enciumado com a popularidade do ministro da
Saúde, Henrique Mandetta, que o superou nas pesquisas em função do combate ao
coronavirus, Bolsonaro passou a fritá-lo, ameaçando inclusive demiti-lo,
chegando a dizer que estava “de saco cheio dele”. Não é difícil perceber
que o capitão parece perdido. Depois do
pronunciamento considerado conciliador na televisão, quando muitos pensaram que
haveria uma mudança no seu comportamento, em menos de 24 horas ele voltou a ser
o mesmo Bolsonaro de sempre, contrariando tudo o que dissera na noite anterior.
Quem melhor o definiu foi o general Hamilton Mourão, vice-presidente, segundo o
qual Bolsonaro não muda porque “já tem 65 anos”. Traduzindo: pau que nasce
torto...
Embora aqui o
assunto ainda não tenha merecido espaço na imprensa, jornais da Argentina e da
Itália noticiaram que o general Braga Neto já seria o “presidente operacional”
do Brasil, responsável por todas as decisões, inclusive pela manutenção de
Mandetta no Ministério da Saúde. Se verdadeira tal informação, Bolsonaro, que
foi diagnosticado por psiquiatras contratados pela “Folha” como “paranóico”, já
não é mais presidente, conforme disse um haitiano, mas dificilmente conseguirá
conformar-se com essa nova situação que, obviamente, o deixará na sombra. E não
renunciará, mesmo pressionado, porque
surpreendentemente ainda tem o apoio da maioria do povo para continuar no
Planalto, segundo pesquisa do Datafolha, e sabe que no momento em que deixar
formalmente o cargo estará vulnerável a diversos processos, junto com os
filhos, o que seria um final melancólico para quem chegou ao Planalto com todo
gás, prometendo acabar com a velha politica do toma-lá-da-cá e com a corrupção.
Em quase um ano e meio de governo não fez nem uma coisa nem outra, tornando-se
uma grande decepção para todo mundo por sua absoluta falta de preparo para
comandar uma nação do tamanho do Brasil.
Parece difícil
entender como Bolsonaro, apesar de isolado, acusado de insano e de despreparo
para governar o país, ainda tenha 59% de apoio para permanecer no cargo.
Aparentemente esse número da pesquisa seria
proporcionado pelos evangélicos, a base de apoio do capitão, que
conseguiu atrair os principais líderes das igrejas evangélicas. Por mais
incrível que possa parecer, no entanto, segundo revelou um diretor do
Datafolha, é justo entre os pobres, suas maiores vítimas, que ele tem maior
apoio. E sem esgotar o seu repertório de ações polêmicas ele convocou o
povo para um dia de jejum, um
“sacrifício” para ajudar na solução dos problemas do Brasil. Se jejuar
resolvesse alguma coisa o pais há muito não teria mais nenhum problema, pois
milhões de brasileiros já estão passando fome, sem empregos e sem rendas. Por
isso, sua convocação soou como um deboche, pois o que ele deveria fazer mesmo
era acelerar o pagamento do socorro emergencial já aprovado pelo Congresso e
ainda engatado em algum gargalo – ou má vontade – da burocracia federal.
O ministro
Mandetta, que está resistindo no cargo mesmo contra a vontade de Bolsonaro por
estar navegando na fama conquistada no combate ao coronavirus, ganhou um novo
inimigo: o guru do capitão, Olavo de Carvalho, que está exigindo a sua
demissão. O capitão estaria impedido de demiti-lo, mas já o teria afastado da
frente das câmeras nas entrevistas coletivas para esvaziá-lo e, desse modo,
exonera-lo quando ele estiver mais esquecido, evitando uma repercussão negativa
para o seu governo. Ninguém tem dúvidas, porém, de que os dias de Mandetta à
frente do Ministério da Saúde estão contados, pois ele ousou ser mais
protagonista do que o Presidente da República. Isso significa que sua
exoneração deve acontecer tão logo a crise do coronavirus esteja menos grave,
com a queda no número de infectados e de mortos, caso até lá o capitão ainda
esteja de posse da caneta, hoje um mero detalhe decorativo.
Resta saber
agora se o general Hamilton Mourão está participando dessa operação silenciosa
de tomada de poder de Bolsonaro, pois na qualidade de vice-presidente ele é o
substituto legal do titular e provavelmente não aceitaria quieto levar um
drible da vaca. É possível, no entanto,
que isso seja apenas um processo de transição para que dentro em breve
Mourão assuma o governo em definitivo, sem traumas, legalizando um “golpe
branco” que, pelo menos em parte, atenderia à reivindicação de quantos não
suportam mais o capitão no comando da nação. Se tal acontecer resta saber,
também, se Mourão manteria o atual ministério ou faria modificações,
considerando que nem todos os ministros são simpáticos a ele. De uma coisa,
porém, ninguém tem dúvidas: o chamado “gabinete do ódio” deve ser desmontado,
inclusive com a expulsão, do Palácio do Planalto, do “conselheiro” Carluxo, que
se instalou perto do pai para melhor falar ao seu ouvido.
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