
(Foto: Júlio Nascimento/PR | Câmara dos Deputados | ABr)
A jornalista Tereza Cruvinel escreve sobre a crise mais grave do
governo Bolsonaro, que pode ter tintas definitivas, e de sua tentativa
desesperada de salva-se: "Buscando um bote salva-vidas, um seguro-impeachment,
Bolsonaro atira-se aos braços do centrão". Ela, entretanto, adverte:
"nas próximas horas a água ainda vai subir mais, vinda do STF"
24 de abril de
2020
Colunista/comentarista
do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O
Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.
X-X-X
Por Tereza
Cruvinel, para o Jornalistas pela Democracia -
Os últimos movimentos de Bolsonaro falam de um presidente que começa a
se desesperar diante dos sinais de deterioração de seu governo e do cerco que
vai se fechando contra ele. Bolsonaro busca um bote salva-vidas e por isso rifa
Moro, negocia com o que há de mais fisiológico e velha política no Centrão,
escreve mensagem de contrição democrática ao ministor Toffoli e ameaça jogar
também Paulo Guedes ao mar.
A indulgência
do sistema jurídico-político foi grande
mas ele apostou alto demais contra as instituições, contra os outros poderes e
federação, e finalmente contra a própria população, ao sabotar os esforços para
conter os efeitos da pandemia de Covid19.
Ele mesmo forçou a formação de uma coalizão contra ele, integrada pelos
governadores, o Congresso, o STF e a
sociedade civil democrática. Isso é a
frente ampla. A palavra impeachment agora é pronunciada sem rodeios.
Nessa crise
com o ministro Moro, que atravessou o dia sem desfecho, as motivações de
Bolsonaro são óbvias. Ele precisa de um
diretor da PF para chamar de seu, que lhe deva o cargo e possa controlar os
inquéritos sobre fake news e sobre quem bancou os atos golpistas de domingo,
comandados pelo STF. Pediu a cabeça do
atual diretor Maurício Valeixo sabendo que Moro não aceitaria. A carta branca
para comandar a PF foi dada a Moro ao ser convidado para o cargo, assim como a
promessa de uma cadeira no STF.
Até aqui, Moro
foi útil. Na campanha, emprestou a Bolsonaro a bandeira do combate à corrupção
e engrossou o bolsonarismo radical com a ala morista/anti-petista. Ministro, ao governo conferiu prestígio e um
certo verniz, derivado da alta aprovação a sua trajetória de justiceiro da Lava
Jato. Agora, Bolsonaro precisa muito mais de um comandante leal da PF do que de
um ministro da Justiça que, além de tudo, faz-lhe sombra e até pensa em ser
candidato em 2022. Ele e Moro
dificilmente se entenderão em torno de um nome comum. Bolsonaro quer um nome
seu, não quem deva o cargo ao ministro.
O custo será a
perda de uma fração importante do bolsonarismo, que antes de aderir ao candidato
Bolsonaro em 2018, era morista e lavajatista. E antipetista.
Buscando um bote salva-vidas, um
seguro-impeachment, Bolsonaro atira-se aos braços do centrão. E estas
negociações significarão uma traição a parte da base, a quem prometeu acabar
com a “velha política”. Empossado, não
respeitou a exigência do sistema que temos, não montou uma coalisão. Pensou
governar quatro anos usando as redes sociais para pressionar o Congresso a
aprovar o que pedia. Não funcionou. Quando a economia não respondeu às políticas
de Guedes, e as estrepolias políticas de Bolsonaro o levaram ao isolamento, o
Congresso começou a jogar com autonomia, rejeitando ou deixando caducar MPs do
Governo. Mas não é pelas reformas nem
pelas MPs que Bolsonaro se rende ao Centrão. É para garantir votos contra um
eventual impeachment ou para a negação de uma licença para processo que venha a
ser pedida pelo STF.
Para o bolsão radical, Bolsonaro tornou-se a
moralidade, na medida em que se ligou a Moro. O mito era também a “nova
política”, e isso exigia distância dos velhos políticos. E era também a política econômica neoliberal
de Guedes, que viu agora o general Braga Neto, presidente operacional, anunciar
um plano de investimento de viés estatista para a pós-pandemia absolutamente
contrário à sua crença de que não será o Estado, mas a própria iniciativa
privada, que ressuscitará a economia em coma.
E com isso,
antes que o galo cante Bolsonaro nega três vezes o que prometeu na campanha. O
nome disso é estelionato eleitoral.
Mas nas próximas
horas a água ainda vai subir mais, vinda do STF.
0 comentários:
[ Deixe-nos seu Comentário ]
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor