
Reprodução
Por Nathalí
Macedo - 27 de Maio de 2020
A entrevista
de Willian Bonner ao Conversa com Bial na madrugada de hoje é mais uma triste
amostra do que vêm colhendo todos aqueles que de algum modo apoiaram o golpe e
fecharam os olhos para o bolsonarismo.
São eles, na
verdade, os primeiros e verdadeiros responsáveis pela onda fascista que temos
experimentado nos últimos anos.
Na conversa –
por videoconferência, cada um na sua casa, é claro – Bonner reclamou da
crescente cultura do ódio nas redes sociais e nas ruas e dos ataques à
imprensa.
“Minha
quarentena começou em 2018, quando a polarização política tornava a minha
presença em determinados locais públicos motivo de tensão”, disse.
Contou, ainda,
sobre os episódios de insultos e acusações a ele próprio e ao seu filho
Vinícius Bonner.
Recentemente,
Vinícius teve seu nome usado por um criminoso para solicitar o auxílio
emergencial, em uma das fraudes que, segundo Bonner, vêm acontecendo há três
anos.
“Ele não fez
isso pra ficar com os 600 reais. Fez isso para que o filho do âncora do Jornal
Nacional aparecesse como alguém que fez algo muito feio”, disse, ao comentar o
episódio.
As histórias
do pobre âncora perseguido e insultado apenas por fazer o seu trabalho
(coitado!), vão de falsidade ideológica a agressão verbal por uma bêbada numa padaria
numa manhã ordinária de sábado.
“Pessoas que
hoje estão me xingando, dois, três anos atrás, batiam palma”, comenta, buscando
conferir à própria voz algum tom de absurdo.
O âncora e
editor-chefe do Jornal Nacional, homem de confiança da família Marinho,
embaixador do antipetismo no horário nobre, se vê no direito de reclamar do
ódio bolsonarista?
Faça-me uma
garapa.
O gado de
Bolsonaro – esse monstro que a Globo ajudou a criar e alimentou por muito tempo
– só responde ao berrante de seu líder. Sempre foi assim.
Agora que
grande parte desse ódio (um ódio eclético, convenhamos, que vai de Marcelo
Freixo à Organização Mundial de saúde) está direcionado à Globo, Bonner finge
surpresa?
Será que
quando dava publicidade aos áudios criminosamente vazados por Sérgio Moro em
matérias gigantescas cheias de acusações a Lula e ao PT, ele imaginava-se
ajudando a criar um monstro tão perverso quanto este do bolsonarismo?
Quando
endossava a narrativa cínica e antidemocrática que abriu alas para o golpe
contra Dilma, poderia supor que o que viria depois seria o fascismo, a barbárie
e a incivilidade?
Mesmo com esse
gostinho de “eu avisei”, um progressista que se preze não se sente satisfeito
com a perseguição ao filho Vinícius, não ri dos insultos de uma bêbada às 10 da
manhã, mas, verdade seja dita:
Bonner não é
uma vítima – no máximo, vítima da própria narrativa fascista que fugiu ao
controle.
É triste viver
num país onde ódio virou uma bandeira, mas todos aqueles que contribuíram para
essa catástrofe são cúmplices.
Quem planta
ódio e fascismo não pode ir à padaria em paz.
Força, ícone.
0 comentários:
[ Deixe-nos seu Comentário ]
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor