
(Foto: ABr)
"Caso fracassem, os militares no ministério da saúde têm
que se demitir, renunciando às responsabilidades que hoje assumem".
escreve o cientista político Emir Sader
23 de maio de
2020
Colunista do
247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos
brasileiros
X-X-X
Uma dimensão
notável da pandemia que nos afeta é revelar a grande quantidade de
extraordinário pessoal da saúde pública – médicos, enfermeiros, técnicos de
enfermagem -, na linha de frente, lutando para proteger as vítimas. Centenas
deles já morreram nessa luta.
Por outro
lado, os debates públicos revelam a qualidade e a quantidade do pessoal das
universidades públicas e dos centros de pesquisa públicos, presentes em todos
os órgãos da mídia e nos textos de análise da pandemia.
No entanto,
Bolsonaro afirma que “os civis fracassaram”, como justificativa para apelar a
militares para dirigir o ministério da saúde e ocupar, já com algumas dezenas
de militares nos cargos mais importantes. Do conjunto de mais de 3 mil
militares no governo, cerca de 20 se situam já no ministério da saúde, incluído
no cargo de ministro.
Bolsonaro e os
militares assumem a responsabilidade na condução da política governamental
sobre a pandemia e sobre os graves efeitos que ela tem sobre o Brasil. O país
se tornou, na falta de condução governamental e na falta de prioridade que o
tema deveria ter, no segundo país do mundo com mais vítimas da pandemia e no
novo epicentro mundial do coronavírus. Não se vê nenhuma política, nenhum plano
de ação, nenhuma prioridade e nenhuma atenção especial do governo no
atendimento da pandemia.
Nomear
militares para dirigir o ministério da saúde em plena pandemia é um tapa na
cara de todos os profissionais de saúde no Brasil. Um presidente que nunca
reconheceu o papel deles no atendimento da pandemia, que não dedica recursos
para que eles se protejam e exerçam suas funções em melhores condições, os
desconhece totalmente, despreza o esforço que eles desenvolvem, nomeia a
militares, sem nenhuma qualificação, para se ocupar da responsabilidade na
condução da política governamental sobre a pandemia.
E o que esses
militares fazem? Nada, absolutamente nada. Quem está no cargo de ministro da
saúde chega a apelar para a reza, na falta de capacidade de propor medidas. O
ministério divulga, agora de maneira incompleta e deformada, o balanço das
vítimas do dia. Sem nenhuma análise dos dados e, menos ainda, sem qualquer
medida para se contrapor ao crescimento acelerado das vítimas.
Como
consequência da subestimação da pandemia por parte o presidente, da entrega do
ministério da saúde a militares leigos, sem nenhuma qualificação na área da
saúde, o Brasil tornou-se a maior preocupação mundial. Mesmo nos Estados
Unidos, que têm vítimas em muito mais quantidade, já se revela uma contenção da
curva de vítimas, com grande quantidade dos estados normalizando seu
funcionamento. Até mesmo em Nova York, a cidade que evidenciou o pior
resultado, já há resultados positivos.
Enquanto que,
no Brasil, todos os índices são negativos, até porque não há nenhuma medida
para conter essa expansão. Se produz já um verdadeiro genocídio de brasileiros.
Rapidamente o número de mortos chegou a 800, reproduziu essa quantia por alguns
dias, até chegar a mil mortos e mais, por dia.
Nenhuma reação
do presidente, nem do ministro da saúde. O presidente considera que só chegando
ao massacre de 70% dos brasileiros com o vírus, se poderia gerar uma limitação,
critério que nenhum outro país do mundo adota. Seria uma chacina ter mais de
100 milhões de brasileiros com o vírus, dos quais uma porcentagem de 5 ou 6%
morreriam.
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