
(Foto: Reprodução | Carolina Antunes/PR)
Jornalista também afirma que os deputados do centrão não vão
pular na cova de Jair Bolsonaro
20 de junho de
2020
O jornalista
Merval Pereira, do Globo, avalia em sua coluna deste sábado que o impeachment
de Jair Bolsonaro parece ser inevitável e que ele já entrou no GPS político.
Merval também afirma que nem mesmo os deputados do centrão deverão salvá-lo
porque têm instinto de sobrevivência e não costumam pular na cova de um cadáver
político. Saiba mais sobre o caso, em reportagem da agência Sputnik:
Para cientista
político Ricardo Ismael, a prisão de Fabrício Queiroz pode deixar a família
Bolsonaro “na berlinda” e provocar afastamento de aliados.
A operação que
levou à prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, na casa do
advogado da família, trouxe preocupações com as implicações políticas que pode
acarretar para o governo e para o presidente.
A prisão, numa
operação que investiga a chamada "rachadinha" no gabinete de Flávio,
acontece logo após a prisão de apoiadores de Bolsonaro.
Para Ricardo
Ismael, cientista político e professor da PUC-Rio, "o caso Fabrício
Queiroz, embora o presidente Jair Bolsonaro tenha procurado reagir com
serenidade, deve causar muitas preocupações".
O professor,
em conversa com Sputnik Brasil, citou dois aspectos que devem geral tensões no
seio da família presidencial.
"Como se
trata de um caso anterior ao exercício do mandato do senador Flávio Bolsonaro,
ele não tem foro privilegiado", explicou o especialista, acrescentando que
o caso, dessa forma, não será investigado no Supremo Tribunal Federal, mas na
justiça do Rio de Janeiro,
"O
presidente, é claro, deve ficar preocupado se essas investigações podem atingir
o seu filho e ele sempre tem procurado pautar muitas das suas ações na
tentativa de blindar os filhos", destacou Ismael.
O segundo
fator relevante seria o fato de Fabrício Queiroz estar "escondido numa
casa em Atibaia que é do advogado Frederico Wassef, advogado do próprio Flávio
Bolsonaro, no caso Queiroz, e também advogado do presidente no caso Adélio
Bispo".
"Então
essa é uma outra questão delicada, porque há de se perguntar se o presidente
tinha conhecimento de que o próprio advogado, Frederico Wassef, estava
escondendo o Fabrício Queiroz", afirmou o especialista.
Ricardo Ismael
alertou que, nos próximos meses, Flávio Bolsonaro enfrentará pressões durante
as investigações no estado do Rio de Janeiro, pois o inquérito aponta que
Fabrício Queiroz pagava algumas contas do filho do presidente.
"Existia
portanto uma relação muito estreita entre os dois. A quebra de sigilo bancário
mostra movimentação financeira entre eles. Isso é um aspecto que pode amparar inclusive
uma denúncia do Ministério Público estadual na justiça contra Flávio Bolsonaro
e que, como esses aspectos aconteceram antes dele ser eleito senador, ele terá
que responder na justiça do Rio de Janeiro".
Em um efeito
cascata, a situação pode se agravar para o filho do chefe de Estado também no
Senado, se uma representação contra o senador for aberta na Comissão de Ética
da casa, inclusive com possibilidade de cassação do seu mandato por quebra de
decoro parlamentar.
"A gente
sabe que essa é uma questão de natureza política. Dependendo do que for
revelado no curso das investigações, pode ser que haja um movimento no Senado,
que já existe mas pode crescer, para cassar o mandato do senador",
ponderou o interlocutor da Sputnik Brasil.
O professor
ressaltou que Fabrício Queiroz, até o momento, "tem tido uma postura de
permanecer em silêncio, sem comprometer o senador Flávio Bolsonaro e tampouco o
presidente".
No entanto, o
cientista político acredita que, a medida em que as pressões crescem sobre sua esposa
e as filhas, que também podem ser indiciadas, o ex-assessor possa mudar de
postura e revelar fatos novos.
De todo modo,
segundo Ismael, a prisão terá fortes repercussões, "porque Fabrício
Queiroz, por muitos anos, foi muito ligado à família Bolsonaro". Para ele,
também é importante considerar o aspecto político.
Enquanto no
Rio de Janeiro, o principal adversário do presidente, o governador Wilson
Witzel, enfrenta um pedido de impeachment e não deverá desperdiçar energias
para atacar Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Dória e demais
adversários políticos, certamente "vão procurar se aproveitar do desgaste
da repercussão dessa prisão e capitalizar".
No entanto,
segundo o cientista político, o principal golpe contra Bolsonaro é o silêncio
de seus aliados, que agora tendem a manter uma boa distância do presidente,
temendo novas revelações.
"Muita
gente está se colocado com cautela, sem querer se pronunciar, porque não sabe
exatamente o que vai ser ainda descoberto, o que ainda vai se revelar nestas
investigações. Então a tendência é que Bolsonaro seja muito pouco defendido.
Até porque os parlamentares aliados no Congresso Nacional ficam receosos de
aparecem fatos novos. Então a tendência é de que a família Bolsonaro fique na
berlinda, com poucas pessoas assumindo o papel de defendê-los", destacou o
professor.
No momento
atual, as principais ameaças a Jair Bolsonaro partem do Poder Judiciário. O STF
aprovou nesta semana a continuação do inquérito das Fake News. O Tribunal
Superior Eleitoral ainda avalia a questão da cassação da chapa
Bolsonaro-Mourão. A isso tudo se soma a investigação que atinge o senador Flávio
Bolsonaro.
"Isso
muda o foco do governo e do presidente, como também pode fazer com que ele se
isole mais", concluiu Ricardo Ismael.
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