
17 de junho de
2020 | Por: Moisés Mendes
Ele blefa pela
manhã e tenta consertar o blefe à tarde. Bolsonaro gostou do alerta sobre a
corda esticada, usado pelo general Luiz Eduardo Ramos, repetiu a figura e
passou a brincar com metáforas sobre o golpe, sempre para blefar.
É só o que
faz. Anunciar o golpe é sua diversão. Brincar de ditadura, como diz Gilmar
Mendes, é sua obsessão. Assim mantém sua turma atenta e motivada e o país em
dúvida sobre o que de fato estaria preparando. O objetivo mesmo é amedrontar o
Supremo.
Bolsonaro
gostava de usar imagens associadas a casamento, namoro e sexo, sempre para dar
a entender que tudo o que faz é parecido com um caso amoroso. Ele é sedutor.
Foi assim que
já casou com Sergio Moro, já se separou de Sergio Moro, namorou Regina Duarte,
mandou Regina embora. E casa e descasa a todo momento com Rodrigo Maia. Há
pouco se separou de Olavo de Carvalho.
Bolsonaro
agarra-se ao que é aparentemente singelo, mas é raso, não por orientação de
algum marqueteiro, mas porque é assim mesmo. Hoje, decidiu avisar que não será
o primeiro a chutar o pau da barraca.
Já foi dito
que o grande risco com Bolsonaro não é mais a ameaça de golpe, mas o desastre
total da economia, a incompetência para governar. O blefe é apenas um blefe
para desviar atenções e mete medo.
Está ficando
evidente que ele não tem lastro militar para tentar o que promete. E, se
tentar, como último recurso para se fortalecer, como reação ao avanço do
Supremo, pode ficar sozinho, ou o golpe pode se virar contra ele mesmo.
Alguém
acredita que os generais darão um golpe (como seria esse golpe?) para ficar sob
a liderança de Bolsonaro? Os generais seriam capazes de seguir as orientações
de um Bolsonaro ditador e segurar um golpe? Por quanto tempo?
Corre e ganha
adeptos a tese segundo a qual já vivemos sob um regime militar, em que a última
instituição ainda intacta, apesar dos ataques, seria o Supremo. É uma tese
forçada.
Bolsonaro é o
cara que não sabe como se livrar do truque que inventou. Está viciado em
ameaçar todos os dias com golpe.
Escreve notas
anunciando o golpe e pede que os militares assinem. Diz num dia, todo cordial,
que irá usar as leis para contestar as ações do Supremo. E avisa no outro que
está chegando a hora de colocar as coisas no lugar.
O que
Bolsonaro talvez espere é um gesto mais forte dos generais. E aí o que temos é
Hamilton Mourão, também ameaçado pelo processo eleitoral no TSE, falar que uma
bola é feita de couro e que o couro sai da vaca.
Hoje,
Bolsonaro largou essa, na posse do novo ministro das Comunicações: “Não são as
instituições que dizem o que o povo deve fazer, é o contrário. O povo é quem
diz o que as instituições devem fazer”.
O recado é
claro. Ele tem voto, tem legitimidade como eleito e sustentação do povo. O
Supremo não tem voto.
Mas isso é
frase de discurso escrito. Bolsonaro é bom no improviso no cercadinho. Amanhã,
se ele se empolgar com o público, poderemos ter outro blefe para comentar a
decisão do STF de manter sob controle da Corte o inquérito das fake news.
Pode chegar o
dia em que os blefes de Bolsonaro provocarão gargalhadas da própria claque do
cercado do Alvorada. Está se esgotando o repertório de blefes de Bolsonaro.
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