
"Ao julgar o habeas corpus impetrado pela defesa de
Fabrício Queiroz, o amigo, ex-assessor e sabe-tudo dos Bolsonaro, o presidente
do STF se esmerou. Não apenas mandou Queiroz cumprir a pena em casa, como
estendeu o benefício à mulher de Queiroz, Márcia Aguiar, procurada pela polícia
desde 18 de junho", escreve Gilvandro Filho
10 de julho de
2020
Jornalista e
compositor/letrista, tendo passado por veículos como Jornal do Commercio, O
Globo e Jornal do Brasil, pela revista Veja e pela TV Globo, onde foi
comentarista político. Ganhou três Prêmios Esso. Possui dois livros publicados:
Bodas de Frevo e “Onde Está meu filho?”
...
É difícil
saber o que é mais inacreditável. Se a decisão do presidente do Superior
Tribunal de Justiça, ministro João Otávio de Noronha, de conceder prisão
domiciliar a uma foragida da Justiça para que ela possa ficar em casa cuidando
do marido doente ou se a naturalidade como os políticos e parte da Imprensa
encara o fato ao avaliar que, com isso, Noronha “se cacifa” para uma vaga de
ministro do Supremo tribunal Federal (STF). As duas opções revelam a falência
da lógica e a vitória da desfaçatez. É o Brasil.
Ao julgar o
habeas corpus impetrado pela defesa de Fabrício Queiroz, o amigo, ex-assessor e
sabe-tudo dos Bolsonaro, o presidente do STF se esmerou. Não apenas mandou
Queiroz cumprir a pena em casa, por estarmos numa pandemia e ser o preso um
paciente de câncer, como estendeu o benefício à mulher de Queiroz, Márcia
Aguiar, procurada pela polícia desde 18 de junho, data em que o marido foi
preso.
Noronha é bem
quisto no Governo Bolsonaro e na família do presidente. Vai a posses de
ministros e é citado, praticamente, como aliado. Queiroz e Márcia são os
píncaros do esquema das “rachadinhas” que deixa o senador Flávio Bolsonaro –
deputado estadual, na época do escândalo – no centro de um crime. O casal
também está envolvido em tenebrosas transações que envolvem relações com
milicianos, inclusive os matadores da vereadora Marielle Franco. Um emaranhado
que deixa de mãos dadas uma legião de políticos, autoridades, assessores,
assassinos, mandantes, corruptos e corruptores.
O benefício ao
casal já causa estranheza, em si. Quantas detentas deixaram maridos e filhos
doentes em casa e, pelo mesmo raciocínio do presidente Noronha, poderiam pegar
uma domiciliar para ficar em casa tratando dos seus enfermos. Seria o caso de
mandar todas pra casa? E quantos presos de amontoam nas prisões de norte a sul
do País, se contaminando com o Corona vírus e morrendo por Covid-19? Não
mereciam o mesmo tipo de decisão?
A indicação ao
STF é do presidente Jair Bolsonaro, como se sabe. Tudo bem que as nomeações e
promoções feitas por Bolsonaro não levam mesmo em conta um currículo primoroso
(mesmo que fictício, como tem sido) ou um preparo para o cargo, como no manco
Ministério da Educação. Agora, assistir no noticiário, candidamente, que ter
facilitado a vida de dois acusados da Justiça – o marido preso e a mulher,
foragida – “cacifa” o presidente do STJ a um cargo no STF, isso é de deixar
pasmo qualquer jurista com o mínimo de distanciamento do caso.
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