"A destruição do Pantanal, da Amazônia e do que resta do Cerrado faz parte do programa da coalizão governista, que reúne grileiros, mineradores, madeireiros ilegais e vândalos do agronegócio", diz o escritor Frei Betto
20 de setembro de 2020
O Brasil é incendiado pelo
descaso do governo, enquanto o presidente ignora o desastre ambiental e
econômico, assim como faz com o genocídio sanitário que já ceifou a vida de
quase 140 mil vítimas da Covid-19.
Na primeira quinzena de
setembro, houve mais queimadas na Amazônia do que em todo o mês de setembro de
2019. Até o dia 15 foram registrados 20.485 focos de calor no bioma amazônico
pelo programa Queimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). No
mesmo período do ano passado foram 19.925 focos.
A média é de 1.400 novas
queimadas por dia. Nessa época do ano, em que a seca predomina na Amazônia, os
desmatadores (latifundiários, mineradoras, garimpeiros, grileiros e empresários
do agronegócio) aproveitam para queimar os recursos biológicos derrubados para
abrir espaços ao gado, à soja, à exploração de minerais preciosos.
Segundo a Global Forest
Watch, que mantém plataforma online de monitoramento de florestas, o Brasil foi
responsável pela destruição de um terço de todas as florestas tropicais virgens
desmatadas no planeta em 2019: 1,3 milhão de hectares perdidos.
O governo brasileiro ignora
suas próprias leis. Em 16 de julho deste ano, proibiu o uso de fogo na Amazônia
e no Pantanal por 120 dias. No entanto, os incendiários agem impunemente e os
órgãos de fiscalização são sucateados. O vice-presidente, general Mourão,
reclama que algum funcionário impatriota do Inpe deve estar vazando
informações... “Há alguém lá dentro (do Inpe) que faz oposição ao governo”,
declarou. Falta apenas mandar prender o satélite do órgão que detecta as
queimadas.
Este ano houve aumento de
34% no desmatamento da Amazônia brasileira. E o presidente insiste: “Essa
história de que a Amazônia arde em fogo é uma mentira”, declarou em reunião
virtual com chefes de Estado da América do Sul (“Folha de S. Paulo”, 16/9, p.
B7).
O fogo se alastra também,
sem controle, no Pantanal, uma das regiões de maior biodiversidade do planeta.
Já foram destruídos 16% da maior planície alagada do mundo. Ali as queimadas
reduziram a cinzas 23mil km2 de riquezas vegetais e animais (área pouco maior
que a de El Salvador ou o triplo da área da região metropolitana de São Paulo,
onde vivem quase 22 milhões de pessoas em 39 cidades). Foi também devastado o
maior refúgio do mundo de araras-azuis, e estão sob ameaça projetos de
preservação de onças. São comoventes as imagens exibindo a quantidade de
animais mortos por queimadura ou asfixia, ou em busca de água em estradas e
cidades.
De acordo com estimativa do
Ibama/Prevfogo, em três biomas que cruzam o território sul-mato-grossense -
Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica - a área atingida pelo fogo já ultrapassa
1.450.000 hectares.
O governo age na contramão
da preservação ambiental. Para 2021, cortou os orçamentos dos dois principais
órgãos federais de defesa da natureza e fiscalização de crimes ambientais, o
Ibama (-4%) e o ICMBio (-12,8%).
A destruição do Pantanal,
da Amazônia e do que resta do Cerrado faz parte do programa da coalizão
governista, que reúne grileiros, mineradores, madeireiros ilegais e vândalos do
agronegócio.
O secretário da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) do Mato Grosso, Flávio José Ferreira, afirmou em
entrevista ao “Fórum Café”, dia 15/9, que o Ministério da Defesa tem proibido o
Exército de atuar no combate aos incêndios no Pantanal. Bombeiros e voluntários
são os principais responsáveis por conter as chamas no bioma. Ferreira também
criticou o avanço do agronegócio no Pantanal e disse que o meio ambiente tem
sido “desrespeitado” na região há anos.
BolsoNero é mestre em se
eximir de culpas. Faz de conta que nada tem a ver com o genocídio da pandemia
no Brasil, a invasão de terras indígenas, a interferência na Polícia Federal do
Rio para defender os filhos, os milicianos condecorados por seus familiares, os
cheques do Queiroz, a alta do preço do arroz, o crescimento do desemprego (13
milhões de trabalhadores) e tantas outras medidas de seu governo que arruínam o
nosso país.
Ao cantar o hino nacional,
em vez de proclamar “Se em teu formoso céu risonho e límpido, a imagem do
Cruzeiro resplandece”, é mais condizente com a realidade entoar “Sob teu
cinzento céu tristonho e enfumaçado, as labaredas das queimadas resplandecem”.
Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Gleiser e Waldemar
Falcão, de “Conversa sobre fé e ciência” (Agir/Nova Fronteira), entre outros
livros. Site e livraria virtual: www.freibetto.org
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