(Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)
"A saída do procurador Deltan
Dallagnol do comando da força tarefa da Lava Jato em Curitiba teve, para muita
gente nos meios políticos e jurídicos, um cheiro de acordão — no mínimo, de
trégua no acirrado conflito interno do Ministério Público e também nos
confrontos entre a operação e outras instituições, como o STF", escreve a
jornalista Helena Chagas
5 de setembro de 2020
Por Helena Chagas, do Jornalistas pela Democra
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Além de marcar o fim de uma era, a saída do procurador Deltan Dallagnol
do comando da força tarefa da Lava Jato em Curitiba teve, para muita gente nos
meios políticos e jurídicos, um cheiro de acordão — no mínimo, de trégua no acirrado conflito interno do
Ministério Público e também nos confrontos entre a operação e outras
instituições, como o STF. Apesar das
negativas, o afastamento voluntário do procurador, sem ataques a ninguém e nem
críticas à PGR ou ao STF, seria sua parte no acordo em que se livrou de maiores
punições no CNMP por seus atos.
É bom lembrar: há dias, Dallagnol, alvo de uma série de representações
no Conselho por excessos cometidos na condução da operação, foi salvo por dois ministros do STF — Luiz Fux e
Celso de Mello, que determinaram o arquivamento ou adiamento desses
julgamentos. Pelas contas de muita gente, havia maioria para punir Dallagnol, o
que seria um desgaste imenso para a Lava Jato, que já não vive seus melhores dias,
tendo quase que diariamente procedimentos e decisões revogados no Judiciário.
Foi para salvar o pouco que resta da Lava Jato, tirando-a dos holofotes,
que a turma de Curitiba concordou com a operação Dallagnol, que coincidiu com
um momento pessoal difícil para o procurador e deu-lhe também razões de cunho
familiar para o afastamento. Seu substituto, Alessandro Oliveira, é considerado
um técnico, avesso ao estrelismo e com interlocução mais fácil com Brasília.
A pergunta que não quer calar hoje é se a Lava Jato, que nos últimos
tempos vem se esforçando para mostrar que está
viva desengavetando denúncias menores e antigas, acabou de acabar.
Formalmente não, até porque, com esse entendimento com Curitiba, o PGR Augusto
Aras deve prorrogar sua vigência, ainda que com enxugamento de pessoal.
Mas é óbvio que aquela Lava Jato que cresceu no imaginário popular no
papel heróico do combate à corrupção acabou há muito tempo. Perdeu sua aura de intocabilidade com a ida
do ex-juiz Sergio Moro para o governo Bolsonaro, e, sobretudo, por excessos e injustiças que estão agora
sendo revistos pelo Judiciário. O que se tenta agora, tanto por parte da PGR
quanto da força tarefa, é um armistício que preserve a imagem de uns e de outros,
já que o conflito público estava sendo desgastante para todos.
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