Por Fernando
Brito | 27/09/2020
A coluna da
ombudsman da Folha hoje é, desde o título, um exemplo de como as verdades podem
ser ditas por inteiro.
Bolsonaro mentiu
e a Folha amarelou, a sentença que encabeça o texto de Flávia Lima é dura, mas
não um exagero, por conta das duas verdades ditas ali.
Já se tinha
observado aqui, dias atrás, que os jornais praticaram farto malabarismo verbal
para fugir desta cristalina verdade: o presidente mentiu.
Certo que o
verbo mentir é destes do qual se tenta escapar nos discursos bem educados pelo
clássico “fulano faltou com a verdade” ou as tais “falácias” que, já o ironizou
Veríssimo, parece carneirinhos dóceis e inofensivos.
Mas há limites
para o relativismo, quando se trata de confrontar-se com um tipo como
Bolsonaro, afinal a “escolha nada difícil” da mídia nas eleições de 2018, e o
festival de asneiras que ele imantou e ergueu, como uma onda tenebrosa sobre o
país.
Exagero?
Diz a própria
ombudsman: “Nunca é demais lembrar que Bolsonaro usa a mentira como estratégia,
e a imprensa brasileira ainda não sabe bem o que fazer com isso”.
Ah, que bonito:
que tal, por exemplo, tratar o boi pelo nome?
Por onde se olhe,
desde a terra plana, à ditadura socialista ou bolivariana, passando por kits
gay e mamadeiras de piroca, há muito tempo era necessário dizer que o
bolsonarismo alicerçou-se num pantana de mentiras, assim mesmo, mentiras
deslavadas.
Mas a grande
mídia tudo “relativizou” em nome de uma “imparcialidade” que não pratica e
normalizou, cinicamente, o que é intolerável: apologias à ditadura, à tortura,
à morte, e o acobertamento do que já era uma gangue familiar – a vasta fauna de
bolsonaros filhos, mulheres e ex – cujas ligações policiais e milicianas era
sobejamente conhecida.
Curioso é que,
tão pródiga em exigir autocríticas à esquerda, jamais pensou que deve ao país o
mesmo por ter patrocinado a barbárie da extrema-direita.
Sobretudo por
ter participado, anos a fio, do processo de “selvagerização” do Brasil, em nome
da liberdade do capital.
Bolsonaro mentiu
sempre e a Folha – como toda a mídia – não amarelou: acumpliciou-se,
aceitando-o como remédio, ainda que amargo a seus modos educados – para que se
evitasse um governo de centro-esquerda no país.
Tijolaço
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