17 de Outubro de 2020
O que há em comum entre a primeira-dama e o senador da cueca? Os dois
conseguiram folclorizar a corrupção da extrema direita com seus casos envolvendo
‘trocados’.
Michelle Bolsonaro recebeu R$ 89 mil depositados em sua conta por
Fabrício Queiroz e a mulher dele. Chico Rodrigues foi flagrado com R$ 33 mil
enfiados na cueca.
Vistos assim, os trocadinhos para gastos diários não significam quase
nada. Mas encobrem cifras e negócios milionários que ainda estão em sua maior
parte encobertos.
Será que, na média, as pessoas estão interessadas em saber o que há além
disso? Talvez seja bom não saber que elas na verdade não querem saber. E que
basta a história de Michelle e o causo do senador.
A denúncia do caso de Michelle é de agosto. De lá até agora já se expôs
quase tudo sobre as movimentações milionárias, e em dinheiro vivo, de Flavio
Bolsonaro, no esquema que era gerido em parte do Fabrício Queiroz.
Mas também é evidente há horas que Fabrício Queiroz era um operador do
varejo, o chinelão que captava o dinheiro de assessores fantasmas do então
deputado empreendedor da família.
O dinheiro grosso, da lavagem de dinheiro, envolve mais de R$ 15 milhões
em imóveis e outros negócios.
O dinheiro de Queiroz para Michelle era o troquinho para gastos do dia a
dia. Eram depósitos mensais de R$ 2 mil a R$ 3 mil e foram feitos entre 2011 e
2016.
O dinheiro do senador das cuecas deve ser, na mesma linha, de trocados
que a quadrilha por ele financiada enviava para gastos diários. Era dinheiro
para ter na carteira, para pequenos prazeres, cigarro, pão e leite.
Cuecas não escondem tudo. O rolo do senador também é grande. Ele
integrava a comissão parlamentar do Senado responsável pela execução
orçamentária e financeira das medidas de combate à pandemia. É de onde saíam as
previsões de dinheiro para os políticos.
A Polícia Federal já sabe que ele se envolveu com o superfaturamento de
kits de testes rápidos da Covid-19 em Roraima. O conluio era com uma empresa de
amigos contratada sem licitação.
O que há além dos 89 mil de Michelle e os R$ 33 de Chico das Cuecas? O
esquema de Flavio Bolsonaro está exposto e só espera a denúncia do Ministério
Público.
Foi sustentado pelas rachadinhas e pela lavagem (talvez também com
dinheiro de campanha) em imóveis e na fantástica loja de chocolate.
O esquema de Chico ainda precisa ser melhor entendido. Mas não só o
dele. As verbas para o combate à pandemia eram liberadas por emenda dos
congressistas. Chico era o cara que abria a primeira porta das dotações.
Além de Chico, outros devem estar envolvidos em casos semelhantes. A
polícia, o Ministério Público e o Judiciário sabem que há muito mais dinheiro
do que a bunda do sujeito escondia.
Só que aí vem aquela pergunta incômoda: o dinheirinho de Michelle e o
dinheirinho do Chico da Cueca não ficarão apenas como folclore? Talvez fiquem,
ao lado de outros casos que ainda vão surgir.
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