23 de outubro de 2020
Depois de
confessar numa entrevista à GloboNews que conspirou pela eleição do então
candidato Jair Bolsonaro, em 2018, contra o petista Fernando Haddad, o
ex-procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, ex-decano da força-tarefa Lava
Jato em Curitiba, anunciou em artigo que está pedindo ‘Fora Bolsonaro’.
“Desisto da
polidez e boa educação. Fora Bolsonaro!”, defende o decano, que deixou a Lava
Jato assim como o ex-coordenador Deltan Dallagnol.
Santos Lima
afirma no artigo de opinião publicado na Folha/UOL que a ex-presidente Dilma
Rousseff (PT) era “incapaz” para o cargo, mas, compara ele, “Bolsonaro
transcende qualquer definição de inadequação ou irresponsabilidade.” Daí o
procurador, arrependido, pede “Fora Bolsonaro!”
Na prática,
tacitamente, o ex-procurador da Lava Jato se junta ao PT e ao ex-presidente
Lula que também defendem o Fora Bolsonaro, impeachment já!
‘O mundo gira, a
Lusitana roda’, como diz aquele comercial de transporte de mudanças.
O artigo de
Carlos Fernando dos Santos Lima foi originalmente publicado no UOL, do grupo
Folha. Confira a íntegra abaixo:
Desisto da polidez e boa educação. Fora Bolsonaro!
Desisto da
polidez e boa educação. A gota d’água foi mais uma decisão indecorosa,
indecente, infame e todos os adjetivos correlatos que foram e vierem a ser
inventados para descrever a ação mal-intencionada e irresponsável de Jair
Bolsonaro. A politização de uma crise de saúde pública que, até agora, levou
mais de 150 mil brasileiros a óbito já era inadmissível, mas a continuidade de
sua postura negacionista, de seu contínuo esforço de arrastar o Brasil para o
lamaçal de sua ignorância é insustentável.
Não podemos mais
aceitar o que acontece. Nem estou falando da corrupção evidente nos gabinetes
de seus filhos, nem sua união com a escória política do Congresso Nacional, nem
de suas escolhas de pessoas subalternas aos interesses dos políticos,
aplaudidas até pelo PT, para altos cargos do STF e do Ministério Público
Federal. Finjamos, como querem, que a corrupção acabou e que o problema do
Brasil seja a Lava Jato, o casamento gay ou outra pauta qualquer dessa
intelectualmente indigente direita cultural. Mas salvemos os brasileiros de
morrer quando é possível salvá-los.
Já tinha a
impressão de que a natureza humana não tinha realmente mudado somente por dez
mil anos de civilização, mas agora tenho certeza. Bolsonaro está aí para
provar. Foram pessoas como ele e seus seguidores fanáticos da internet que
aplaudiram pessoas nas fogueiras, que se regozijaram quando nazistas levaram
judeus, ciganos, homossexuais e deficientes físicos e mentais para câmaras de
gás, que, enfim, resistem à civilização humana em tudo que ela tem de positivo
e bom. Preconceituosos, ignorantes que ouvem a insensatez e loucura de seus iguais
nas redes sociais e desacreditam a ciência, o progresso e os mínimos preceitos
éticos. Sim, infelizmente como disse Umberto Eco, a internet deu voz a esses
imbecis.
Mas mesmo os
ladrões costumeiros do nosso dinheiro, mesmo os conformados que tratam tudo
como se fosse apenas uma guerra de versões, precisam reagir. A estratégia de
Bolsonaro é conhecida. Com sua postura de confronto e declarações polêmicas
preocupa-se mais em criar uma cortina de fumaça sobre a ausência de qualquer
plano de governo e sobre os escândalos envolvendo sua família e
correligionários, bem como em agradar seus seguidores fanáticos e,
principalmente, atacar qualquer potencial rival nas próximas eleições.
O que estamos
vivenciando não se trata mais de esquerda versus direita, mas sim de salvar
pessoas e a economia brasileira de repetirmos em 2021 o desastre deste ano. A
saída de Bolsonaro do poder é uma obrigação moral. Seja pela sua não reeleição
ou, a via mais urgente, pelo impeachment, que existe para dar uma solução para
situações em que haja um crime de responsabilidade. E deixar que brasileiros
morram por opção política é sim suficiente para isso.
Entretanto,
espanta-me a pasmaceira. Vivemos em um país que dinheiro é escondido no reto de
políticos, que milícias dominam parte do território nacional, que líderes de
organizações criminosas fogem do país sob o beneplácito irresponsável de um
magistrado das altas cortes. Tudo cansa, refugiamo-nos em nossas prisões
particulares, fingindo-nos de mortos na esperança de sermos poupados. Mas
ninguém será poupado da omissão. O sangue de cada brasileiro que podia ser
salvo da peste, mas não o foi por covardia, passividade ou ignorância está nas
nossas mãos.
Se corrupção
mata, falta de caráter e irresponsabilidade matam também. É mais que hora de
dizermos não a essa ideologização da saúde pública. Vacinas não têm ideologia,
não têm partido político ou pertencem a alguém. Seja qual for sua origem, desde
que aprovada segundo critérios científicos e os procedimentos adequados, ela
deve ser aplicada. Precisamos de mais de 400 milhões de doses. O mundo lutará
por poucos milhões quando serão necessárias bilhões de doses. Não se pode
desprezar qualquer vacina com eficácia e segurança comprovada. Pouco importará
para quem for salvo qual foi sua origem.
É preciso
revolta e indignação, por muito menos brasileiros foram às ruas em 2013. Foi
triste ver imagens de tentativas de invasão do Congresso Nacional ou do
Itamaraty, mas foi ali que iniciou a percepção de que havia algo de muito podre
no Brasil. Dilma Rousseff foi “impichada´´ por muito menos que Bolsonaro já
fez. A ex-presidente realmente era incapaz para o cargo, mas Bolsonaro
transcende qualquer definição de inadequação ou irresponsabilidade. Fora
Bolsonaro!
*Carlos Fernando
dos Santos Lima é advogado e consultor em compliance. Foi procurador Regional
da República e atuou na força-tarefa Operação Lava Jato em Curitiba até
setembro de 2018.
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