(Foto: Reprodução | Reuters | Mídia Ninja)
Colunista Ribamar Fonseca avalia que, após o "abraço
extremamente apertado e afetuoso de Toffoli", Jair Bolsonaro "não
mais precisará se preocupar com o Supremo, para onde no próximo ano pretende
indicar um evangélico, para aplacar a fúria, entre outros, de Silas
Malafaia". "E ninguém precisará mais ter medo de ditadura, porque ela
já está praticamente instalada"
6 de outubro de
2020
Jornalista e
escritor
...
O Brasil vive o
pior período da sua história, adaptando-se vergonhosamente a uma disfarçada
ditadura sob os olhares complacentes do Congresso, da Suprema Corte e da
imprensa tradicional. O capitão Jair Bolsonaro, embora tenha chegado ao poder
pelo voto direto, nunca escondeu sua natureza ditatorial: antes mesmo de
assumir a Presidência da República já revelava sua tendência ao indicar,
através do seu filho Eduardo, que o Supremo Tribunal Federal poderia ser
fechado “apenas com um cabo e um soldado”. Mais tarde, depois de aboletado no
Palácio do Planalto, o mesmo filho ameaçou o país com a possibilidade de
ressurreição do AI-5, o ato institucional que permitiu à ditadura militar
fechar o Parlamento e suspender as garantias individuais. Na verdade, por atos e
palavras o capitão já deixou bem claro que sonha com o poder absoluto, não
suportando ser contrariado e muito menos criticado, o que o levou a brigar com
os principais veículos de comunicação do país.
Sua primeira
providência, ao assumir o mais alto cargo da Nação, foi militarizar o governo:
nomeou mais de dois mil militares da ativa e da reserva das Forças Armadas para
postos, inclusive, do primeiro escalão. E hoje até o ministro-chefe da Casa
Civil é um general, assim como o ministro da Saúde. Com isso ele conquistou o
apoio dos militares que, desse modo, voltaram ao poder pelo voto popular. E
tratou, também, de controlar o aparelho policial: após uma queda de braço sobre mudanças no
comando da Policia Federal que custou a cabeça do ministro Sergio Moro, até
então o homem forte do seu governo, Bolsonaro colocou nos principais postos da
corporação nomes da sua total confiança, com os quais mantém linha direta. Com
isso conseguiu não apenas blindar seus filhos, que estavam sendo investigados,
como, também, montar extra-oficialmente uma polícia política que se empenha
agora em intimidar os adversários.
O comportamento
agressivo dos bolsonaristas lembra os nazistas da época de Hitler. Mesmo sem os
recursos tecnológicos atuais de comunicação, o medíocre cabo do exército alemão
conseguiu em apenas quinze anos, através de uma bem estruturada propaganda,
ascender ao poder absoluto num país de tradição intelectual como a
Alemanha. E anestesiou o povo alemão com
seus discursos teatralizados, fazendo aflorar nas pessoas os seus piores
instintos, materializados pela Gestapo no assassinato de mais de seis milhões
de judeus. A estratégia de propaganda é
a mesma adotada por Bolsonaro que, usando as redes sociais, já conseguiu,
segundo pesquisas, a aprovação de 52% dos brasileiros, mesmo em meio às queimadas,
ao desmonte da Petrobrás e ao desemprego de mais de 50 milhões de
trabalhadores. Segundo a DataPoder, o maior índice de aprovação está,
surpreendentemente, justamente entre os desempregados.
O fato é que
Bolsonaro, mudando o seu comportamento agressivo do início do mandato, foi
gradativamente assumindo o controle de tudo, inclusive do Congresso, da Suprema
Corte e da imprensa tradicional e hoje vivemos uma ditadura disfarçada em que
as instituições funcionam apenas para oferecer, ao resto do mundo, a aparência
de democracia, pois aceitam sem gemido todas as ações do governo, mesmo aquelas
que contrariam a Constituição e os interesses nacionais. O Supremo Tribunal
Federal, por exemplo, acaba de autorizar a venda de ativos da Petrobrás sem o
aval do Congresso que, por sua vez, adota um silêncio cúmplice. E a imprensa
igualmente se cala diante da escandalosa destruição da mais importante estatal
brasileira. Gradativamente, sem alarde, um sorridente capitão foi envolvendo o
Congresso e o Supremo, virando rotina os seus encontros festivos com ministros
da Corte Suprema e o senador Davi Alcolumbre, com abraços de velhos amigos que,
sem dúvida, estarão sempre prontos a fazer a sua vontade. E o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia, engaveta todos os pedidos de impeachment.
Ao mesmo tempo,
ele criou um clima de medo entre os seus adversários. Quem ousa criticá-lo fica
sujeito a ser investigado pela Policia Federal e a responder inquérito. Além da jogadora Carol Solberg, que vem sendo
perseguida porque gritou “fora Bolsonaro”, o chargista Renato Aroeira e os
jornalistas Ricardo Noblat e Helio Schwartsman, por exemplo, foram enquadrados
na Lei de Segurança Nacional, esta herança da ditadura militar, porque
criticaram o capitão. O ministro da Justiça, André Mendonça, como um eficiente
cão de guarda do Presidente, está atento a qualquer movimento que possa
representar uma crítica, enquanto os fanáticos bolsonaristas agridem
verbalmente – e às vezes até fisicamente – quem ousa chama-lo de feio. A
imprensa, em especial a Globo, afora algumas críticas tímidas, faz agrados
disfarçados para tentar recuperar as gordas verbas publicitárias que perderam.
Os Marinho, aliás, embora com a espada no pescoço, ameaçados de perder a
concessão da televisão, preferem tentar uma conciliação com o capitão a
aproximar-se de Lula que, mesmo atacado por eles, nunca lhes fez qualquer tipo
de ameaça. Nem cortou a publicidade.
Aparentemente,
com o ministro Celso de Mello fora da Suprema Corte – ninguém conseguiu até
agora entender a estranha antecipação da sua aposentadoria – Bolsonaro terá o
domínio do STF, sobretudo com a nomeação do desembargador Kassio Muniz para a
vaga do decano. Isso significa que ele
ganhará todas as ações naquela Corte, sem precisar mais fechá-la com um cabo e
um soldado. Depois daquele abraço extremamente apertado e afetuoso de Toffoli,
que os bolsominions não gostaram, Bolsonaro não mais precisará se preocupar com
o Supremo, para onde no próximo ano pretende indicar um evangélico, para
aplacar a fúria, entre outros, de Silas Malafaia. E ninguém precisará mais ter
medo de ditadura, porque ela já está praticamente instalada.
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