(Foto:
GOVSP | Reuters | PR)
Em mais um capítulo da politização em torno da pandemia da
COVID-19, a Anvisa rebateu o governador de São Paulo, João Doria, sobre a
possibilidade de aplicar a vacina CoronaVac sem a autorização da agência
reguladora brasileira
28 de novembro
de 2020
Sputnik – A
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) declarou na última
quinta-feira (26) que, mesmo que agências reguladoras de outros países
autorizem o registro da vacina CoronaVac, é necessário o aval do órgão
brasileiro para a aplicação da vacina no Brasil.
O comunicado
foi uma resposta à declaração do governador de São Paulo, João Doria (PSDB),
que afirmou que a CoronaVac está sendo avaliada por agências reguladoras dos
EUA, na Europa e na Ásia. De acordo com ele, se essas agências validarem a
vacina, "ela estará validada independentemente da própria Anvisa".
"Mesmo
após o registro em algum outro país, a avaliação da Anvisa é necessária para
verificar pontos que não são avaliados por outras agências
internacionais", declarou a Anvisa em nota.
O professor de
Políticas Públicas da UERJ, Roberto Santana, em entrevista à Sputnik Brasil,
declarou que a posição do governador de São Paulo, João Doria, é uma resposta à
disposição do presidente Jair Bolsonaro de sabotar a vacinação da população por
conta de um alinhamento ideológico hostil à China.
"O
presidente Bolsonaro sabotou o quanto pôde o combate ao coronavírus, sabotou o
quanto pôde todas as medidas de prevenção e, ao que parece, está disposto a
sabotar também a vacinação da população por um preconceito bobo e ideológico,
de querer negar a participação da vacina chinesa no processo de imunização da
população", disse.
De acordo com
ele, a declaração do governador João Doria vem no sentido de que, com essa
"aversão à China que o presidente Bolsonaro tem, ele está arriscando a
vida de milhões de brasileiros". "Portanto, da mesma forma que foi
feito no pior momento da pandemia, os governadores e prefeitos estão começando
a se mexer e se articular para adquirir as vacinas à revelia do governo
federal", acrescentou.
De acordo com
ele, é muito preocupante a "utilização política da Anvisa por parte do
governo de Jair Bolsonaro de querer negar a eficácia de uma vacina, caso seja
mostrada a sua eficácia em outros países".
"Realmente,
o governador João Doria tem razão. Se as agências de vigilância sanitária de
outros países comprovarem que a vacina chinesa é eficaz, não tem porque a
Anvisa negá-la", completou Roberto Santana.
Hostilidade com a China
Já o professor
de Relações Internacionais e especialista no Grupo BRICS, Diego Pautasso, em
entrevista à Sputnik Brasil, enfatizou que a politização da vacina no Brasil
diz respeito a uma continuidade das declarações do presidente de transformar
uma questão sanitária grave em um "cavalo de batalha político-eleitoral
ligado às suas preferências e ao seu grupo mais radical e ideológico".
"O fato
concreto é que essa vacina vem sendo desenvolvida por uma empresa
respeitabilíssima na China, que já desenvolveu fármacos e medicamentos para
vários países e para várias doenças, em parceria com o Instituto Butantan, que
é um instituto de renome internacional, e com supervisão da Anvisa, obedecendo
a todos os protocolos de saúde e de pesquisa habituais", afirmou.
De acordo com
o especialista, o discurso hostil com a China é irradiado da administração
norte-americana de Donald Trump e tem produzido efeitos muito nocivos para as
relações bilaterais do Brasil com a China, seu principal parceiro comercial,
além de prejudicar o enfrentamento da pandemia da COVID-19 através de uma
vacina.
O especialista
em políticas públicas, Roberto Santana, por sua vez, destacou também que a
"politização da vacina é um movimento da extrema-direita mundial, na qual
se encaixam tanto o presidente norte-americano Donald Trump, quanto o
presidente brasilero Jair Bolsonaro".
De acordo com
ele, o alinhamento do Brasil com a extrema-direita dos EUA "vai contra
todos os interesses internacionais do Brasil, ainda mais quando falamos do
nosso principal parceiro econômico, a China".
"A China
é o único país do mundo que vai ter capacidade produtiva de produzir e
distribuir essa vacina para todos os países do mundo. A maior parte das
fábricas estão na China, os demais países que têm parques farmacêuticos de
grande envergadura produzirão para suas próprias populações, mas a comercialização
dela em larga escala, com certeza sua fabricação será no parque industrial
chinês", explicou.
"A vacina
da China será mais barata do que as suas contrapartes norte-americana e
europeia. A própria vacina russa, a Sputnik V, já apresentou um preço internacional
mais barato do que as grandes farmacêuticas norte-americanas e europeias. E
para a humanidade, é positivo que haja várias vacinas de vários locais
diferentes, isso leva à concorrência no mercado, abaixa o preço da
vacina", completou o especialista.
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