O prognóstico foi divulgado em nota técnica pelo Centro de Previsão de
Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe). (Foto: Sandro Valentim)
Fenômeno climático conhecido por atuar nas
chuvas no Norte e na porção norte do Nordeste do Brasil pode colaborar para
chuvas no Estado. Porém, o cenário final depende da temperatura do Oceano
Atlântico, avaliam especialistas
Por Lais Oliveira | 6 de Janeiro de 2021
O Ceará tem chances de registrar chuvas acima da média histórica nas
mesorregiões do Noroeste e Norte do Estado, Sertões e Jaguaribe durante
janeiro, fevereiro e março de 2021. A perspectiva envolve dois meses da quadra
chuvosa cearense, que vai de fevereiro a maio, e aponta influência do fenômeno
La Niña, que pode atuar positivamente no Estado. Porém, o cenário final depende
da temperatura do Oceano Atlântico, avaliam especialistas.
O prognóstico foi divulgado em nota técnica pelo Centro de Previsão de
Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe) no dia 18 de dezembro. A previsão conta com a cooperação do Instituto Nacional
de Meteorologia (Inmet) e da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos
Hídricos (Funceme).
“A previsão indica maior probabilidade de chuvas na categoria acima da
normal climatológica sobre a região Norte do País, na porção norte da região
Nordeste e no sudoeste do estado de Mato Grosso”, descreve o documento.
Mapa em nota técnica divulgada pelo Inpe aponta previsão de chuvas acima
da média em algumas regiões do Ceará. (Foto: Divulgação/Inpe)
No mapa trazido, as áreas em branco indicam igual probabilidade para
chuvas acima do normal, dentro do normal e abaixo do normal — situação da maior
parte do Brasil. Em amarelo, estão regiões com tendência de chuvas abaixo do
normal no trimestre. Já o azul aponta para possibilidade de chuvas acima da
média.
A maior parte do território do Estado aparece em branco. Contudo, o
Ceará também apresenta uma área demarcada em azul, que corresponde às
mesorregiões do Noroeste e Norte cearenses, Sertões cearenses e Jaguaribe, de
acordo com o Inpe.
A professora Maria Elisa Zanella, do Departamento de Geografia da
Universidade Federal do Ceará (UFC), acredita que o fenômeno La Niña é muito
positivo para o Estado e para o norte do Nordeste brasileiro, porém sua
repercussão depende da temperatura do Oceano Atlântico, que precisa estar mais
quente na porção sul para garantir boas chuvas no Ceará.
“Quando tem La Niña podemos ter chuva na média ou acima da média.
Provavelmente a gente vai ter regiões que vão ficar na média e outras acima da
média. Não tem previsão para ser abaixo da média”, reforça.
A geógrafa, que atua na área de Climatologia Geográfica e Meio Ambiente,
observa ainda que o Estado pode se beneficiar da tendência de chuvas que
aparece sobre a Amazônia, onde existe previsão de precipitações acima da média.
“Essa região sofre forte influência da Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT), que é o mesmo sistema que atua aqui de fevereiro a maio
[período de quadra chuvosa no Ceará]. Acredito, particularmente, que vamos ter
uma quadra chuvosa muito boa neste ano, da média para cima”, afirma Maria
Elisa.
Em 2020, a previsão do Inpe apontava maior probabilidade de chuvas
abaixo da média histórica nos meses de janeiro, fevereiro e março no Ceará. No
entanto, havia sinalização de possível mudança, que foi o que ocorreu. No ano
passado, pela primeira vez na década, o Ceará acumulou precipitações acima da
média histórica durante a estação chuvosa. Todas as macrorregiões tiveram
registros acima da média.
Apesar da expectativa positiva sobre chuvas, o meteorologista David
Ferran, da Funceme, informa que as maiores chances de ocorrência do La Niña no
Ceará estão em dezembro, janeiro e fevereiro, onde a possibilidade de ter o
fenômeno climático é alta: de 98%, segundo as previsões atuais da Funceme.
Enquanto isso, nos meses de março, abril e maio, que constituem a maior
parte da quadra chuvosa no Estado, a chance de ter La Niña cai para 52%. Caso o
fenômeno aconteça, serão meses chuvosos. “Se tivéssemos 100% de certeza que
teria La Niña a chance de ter um ano seco é muito baixa. Agora como não temos
100% de chance de ter La Niña em março, abril e maio, essa chance diminui”,
assinala.
A Funceme divulga sua previsão para fevereiro, março e abril apenas na
segunda quinzena de janeiro. O motivo é que o órgão espera obter um cenário
mais concreto sobre as temperaturas do Atlântico.
“Passa a depender do Oceano Atlântico, que se define mais para janeiro e
fevereiro. A gente aguarda chegar mais perto pra divulgar quando tiver uma
melhor visão do que vai acontecer com as temperaturas do Oceano Atlântico”,
comenta.
O fenômeno climático La Niña ocorre quando as águas do Oceano Pacífico,
entre a Austrália, Indonésia e a América do Sul, ficam mais frias que o normal.
Quando o contrário acontece, isto é, há um aquecimento anormal das águas do
Pacífico, temos o El Niño. Os fenômenos têm seus picos em dezembro.
Mas já em novembro de 2020, devido às condições de La Niña e pelo
Atlântico Tropical mais aquecido, foram registradas chuvas acima da média
climatológica sobre o norte da região Norte e na região Nordeste do Brasil.
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