(Foto: Reprodução)
O jornalista Ribamar Fonseca defende o
impeachment imediato de Jair Bolsonaro. "O Brasil é hoje um país à deriva,
navegando em direção ao abismo com o coronavírus multiplicando vítimas em meio
a uma vacinação incipiente e desacreditada pelo próprio governo", afirma
26 de janeiro de 2021
Jornalista e escritor
...
No próximo dia primeiro de fevereiro a Câmara dos Deputados elegerá o
seu novo presidente, cuja atuação poderá ser decisiva para o futuro do país.
Vários candidatos estão inscritos, mas apenas dois apresentam condições para a
conquista do cargo, considerando o número de votos prometidos: Arthur Lyra,
apoiado por Bolsonaro; e Baleia Rossi, apadrinhado do atual presidente Rodrigo
Maia. Baleia conseguiu o apoio da esquerda, que acredita que ele é a única
alternativa para impedir que o capitão assuma de uma vez o controle da Câmara
com a eleição de Lyra. A julgar pelas declarações do candidato de Maia, no
entanto, em várias entrevistas divulgadas recentemente, ele poderá se
constituir uma grande decepção, simplesmente porque tende a imitar o
comportamento do seu padrinho, que posa de oposição para enganar os tolos e faz
tudo o que Bolsonaro quer, inclusive engavetando os mais de 60 pedidos de
impeachment que recebeu. Maia não deve tê-lo escolhido como seu candidato por
acaso.
Na verdade, os partidos de esquerda, em especial o PT, deveriam
reavaliar sua posição, pois os sinais emitidos por Baleia em suas entrevistas
não são nada animadores. Depois de afirmar, entre outras coisas, que não
assumiu nenhum compromisso para abrir o processo de impeachment do capitão, ele
disse, após a repercussão negativa, que se eleito irá analisar os pedidos com
critério. Ou seja, vai continuar mantendo os pedidos na gaveta. Não parece
difícil concluir que a eleição de Baleia não mudará o panorama na Câmara, o que
significa que Bolsonaro será vitorioso qualquer que seja o eleito, permanecendo
no Palácio do Planalto destruindo o que sobrou do país após dois anos de
governo. Diante disso, a melhor opção seria a esquerda apoiar, por exemplo,
Luiza Erundina, do Psol, um nome confiável. A possibilidade de um segundo turno
daria tempo para novas negociações. O problema é que como o voto é secreto e o
Congresso está recheado de traíras, o Presidente tem o argumento capaz de
convencer os maus parlamentares mais preocupados com os seus próprios
interesses: as emendas milionárias. Dinheiro para isso não falta, conforme já
observado em outras ocasiões.
O fato é que Bolsonaro continua brincando de Presidente, indiferente aos
mais de 200 mil brasileiros que o coronavirus matou e ao caos em Manaus, e se
não o expulsarem do Planalto as perspectivas ficarão mais sombrias,
especialmente depois das ameaças veladas de um regime de exceção. Habituado a acenar com a força dos militares
todas as vezes em que sofre duras críticas e se sente enfraquecido,
aparentemente endossado pelo silêncio da tropa, recentemente ele chegou a
insinuar que quem determina o regime são os militares e não a Constituição, o
que evidencía, mais uma vez, os seus sonhos ditatoriais. Na verdade, ele está
se sentindo órfão sem Trump, seu ídolo e guru, que perdeu a eleição e deixa o
poder nos Estados Unidos de maneira melancólica, sem choro nem velas, motivo
pelo qual poderá em desespero, diante do cerco em todos os setores de
atividades – até os jornalões, que patrocinaram a sua eleição, já pedem o seu impeachment – lançar-se em uma
aventura de consequências imprevisíveis. Para completar, vem caindo nas
pesquisas, ao mesmo tempo em que cresce o movimento nas ruas pelo seu
afastamento.
Algo precisa ser feito e com urgência porque o comportamento de Bolsonaro diante da
pandemia é assustador. Enquanto todo mundo comemorou a aprovação das vacinas,
que representam a esperança de contenção da pandemia no Brasil, o capitão
recebeu a notícia com frieza, parecendo lamentar a atitude da Anvisa. E o
general ministro da Saúde parece ter sido lançado por ele às feras,
completamente perdido, desmentido pelos diretores da Anvisa quanto ao tratamento
precoce da covid-19, desmoralizado pelo governador paulista que iniciou a
vacinação antes do prazo anunciado por ele e acusado de ter sido informado
da ameaça de colapso no abastecimento de
oxigênio para os hospitais do Amazonas
pelo menos dez dias antes da explosão da crise, sem que tivesse tomado
qualquer providência para evitar o problema, que ocasionou a morte de muitos
pacientes por asfixia.
Aparentemente os dias do general Pazuello à frente do Ministério da
Saúde estão contados, porque Bolsonaro, que é o principal responsável pela
situação sanitária do país, como de hábito, vai transferir para ele a culpa de
tudo e exonerá-lo por incompetência na condução da pasta em momento tão
angustiante. E o general, que já foi humilhado publicamente pelo capitão ao ser
desautorizado na compra da vacina Coronavac, vai cair levando junto o prestígio
do Exército, para onde deve retornar
porque é militar da ativa. Pelo menos ele não estará no governo quando
Bolsonaro for defenestrado do Palácio do Planalto, pois diante dos últimos
acontecimentos cresceu o coro pelo seu
afastamento, que só não aconteceu até agora porque o deputado Rodrigo Maia
sentou sobre os 60 pedidos de impeachment. O atual presidente da Câmara, que tem
representado uma farsa posando de oposição, certamente pretende deixar a
decisão para o seu sucessor que, se for o deputado Baleia Rossi, vai manter os pedidos na gaveta.
O fato é que ninguém mais consegue, dentro e fora do país, admitir a
permanência de Bolsonaro no Palácio do Planalto. O Brasil é hoje um país à
deriva, navegando ao sabor da correnteza em direção ao abismo, com o
coronavírus multiplicando o seu número de vitimas em meio a uma vacinação
incipiente e desacreditada pelo próprio governo. O ministro da Saude, um
general sem nenhuma credencial para comandar a pasta, já não sabe mais nem o
que fala, perdendo-se nas entrevistas. O homem parece cego perdido em meio a um
tiroteio. E o Presidente, seu chefe, se esforça para manter distância dele,
como se isso pudesse isentá-lo da responsabilidade na condução da política de
saúde pública. Por sua vez, as instituições que poderiam imprimir um novo rumo
à nação estão em recesso, de férias, assistindo aos acontecimentos como se não
tivessem nada com o problema. Num país sério, em momento grave como este,
deveriam estar funcionando, tomando as providências de sua alçada para
preencher o vazio da inação do governo. E reagir às ameaças de Bolsonaro, que
costuma acenar com a força militar todas as vezes em que se sente ameaçado. É preciso que alguma coisa
seja feita – e com urgência – porque além
da pandemia, com a suspensão do auxílio emergencial o Brasil voltou para
o mapa da fome, de onde havia sido retirado pelo governo Lula. Impeachment, já!
0 comentários:
[ Deixe-nos seu Comentário ]
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor