Por Fernando Brito | 5 de janeiro de 2021
Segue completamente obscuro o início do longo processo de vacinação
contra a Covid, sem que haja no país uma dose sequer além das chineses da
Sinovac, em parceria com o Butantã.
Não obstante, cada um fala numa data – como fez hoje Eduardo Paes, ao
mencionar que “ouviu dizer” que a vacinação nacional começaria no dia 20 de
janeiro, o que foi formalmente desmentido pelo Ministério da Saúde, que
preferiu dizer que a data é, apenas, “a melhor das hipóteses”.
Como o mundo inteiro com a vacinação já em marcha (lenta, aliás, pela
baixa disponibilidade dos imunizantes), não é preciso ser muito atilado para
saber que – como aconteceu há meses com os respiradores – há uma guerra para
capturar os pequenos estoques de vacinas já prontas.
O Globo publica agora à tarde que a “Vacina de Oxford, a maior aposta do
governo, pode levar cerca de um mês para ficar disponível“, apontando razões
burocráticas para tamanho atraso.
Há, porém, etapas anteriores a elas.
É preciso, primeiro, receber as vacinas e ter a garantia de um fluxo de
fornecimento que permita planejar a vacinação, do contrário estaremos causando
mais confusão, como fez hoje o novo prefeito do Rio ao falar em vacinar 2,6
milhões de pessoas numa primeira fase. Ora, isso é o equivalente a 38% dos
cariocas e significaria que, recebendo vacinas segundo sua proporção na
população brasileira, seria necessário que o país tivesse disponíveis 83
milhões de vacinas, o que nem o mais otimista espera que tenhamos até o terceiro
trimestre de 2021!
Além disso, o Reino Unido, sede da empresa que produz a vacina de Oxford
e a Índia, onde se encontra a maior planta de produção do imunizante – o Serum
Institute – começam amanhã a usá-la e é claro que não seremos a prioridade. Aliás,
o Serum já assinou um protocolo de intenções com a associação de clínicas
vacinais privada brasileira, para o fornecimento de 5 milhões de doses (2,5
milhões de imunizações), certamente a preço melhor do que o cobrado do governo
brasileiro.
Tudo está, ainda, na base do “se cumprirem o prometido”, que a gente nem
sabe o que foi, como no caso do vai-não vai com a vacina da Pfeizer.
Depois do show aquático com direito a xingamentos a João Doria é
legítimo duvidar que Jair Bolsonaro vá deixar o seu arqui-inimigo posar de
pioneiro da vacina no Brasil, embora seja ele que tem, na mão, 10,6 milhões de
doses dela para aplicar.
Se isso será feito apressando a de Oxford, mesmo em pequena quantidade,
para o que tenho chamado de “vacinação cenográfica” ou atrasando a liberação da
Anvisa do imunizante chinês, logo iremos saber.
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