(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Sem que houvesse qualquer acordo de
cooperação com o Ministério Público da Suíça, procuradores da Lava Jato
passaram a seus colegas informações confidenciais de maneira clandestina. Uma
delas: foram repassados aos suíços nomes de delatores da Odebrecht meses antes
da delação premiada ser firmada com eles
8 de fevereiro de 2021
Em reportagem do correspondente Jamil Chade no UOL, nesta segunda-feira
(8), aparece mais uma ação ilegal e clandestina da Lava Jato: os procuradores
de Curitiba, liderados por Deltan Dallagnol, anteciparam ao Ministério Público
da Suíça nomes de pessoas da cúpula da Odebrechet que, meses depois, seriam
formalizadas como delatores. Nunca houve um acordo de cooperação entre a Lava
Jato e os suíços.
Escreveu Chade: “Diálogos de representantes do MPF (Ministério Público
Federal) em aplicativo de mensagens indicam que procuradores da Lava Jato
repassaram ao Ministério Público da Suíça nomes de suspeitos de envolvimento em
casos de corrupção que, meses depois, fecharam acordos de delação premiada. O
repasse da lista foi retribuído por uma consulta, por parte dos suíços, com
outros dez nomes —com exceção de um doleiro, eles integravam a cúpula da Odebrecht”.
O chat, no Telegram, integra o pacote de mensagens cujo sigilo foi
levantado na segunda (1º) pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski. Nas
conversas pelo aplicativo, os procuradores da Lava Jato sugerem sigilo sobre a
troca de informação. Antes de o acordo com a Odebrecht ser firmado no Brasil, o
procurador Deltan Dallagnol faz no grupo uma consulta sobre o repasse a
"americanos e suíços" de planilha com as penas dos delatores com a
"condição de manterem confidencial".
A cooperação internacional entre procuradores fora dos canais oficiais
estabelecidos em acordos pode levar à anulação de provas.
Segundo o correspondente do UOL, “batizado de ‘Acordo Ode’ (em
referência à empreiteira), o chat abarca mensagens entre procuradores do MPF e
membros da PGR (Procuradoria-Geral da República) de março de 2016 a setembro de
2017. O assunto principal foram os termos do que viria a ser o acordo de
leniência da Odebrecht, firmado com o MPF em dezembro de 2016, mas também se
discutiram as negociações da empreiteira com Estados Unidos e Suíça”.
Procurado, o MPF informou que não vai se manifestar. Tanto a Lava Jato
como os suíços negaram nos últimos meses a hipótese de que a cooperação entre
os dois países tenha ocorrido fora dos canais oficiais.
Em 19 de setembro de 2016, o procurador Orlando Martello escreveu:
"Pessoal, passei a lista com os nomes dos possíveis nomes para acordo para
Stefan (in off)". Stefan Lenz foi o procurador suíço considerado o
"cérebro" da Lava Jato naquele país. A grafia das mensagens foi
preservada conforme os autos do STF.
Martello não explica aos colegas o motivo pelo qual usou o termo
"in off" ao se referir à cooperação com a Suíça. O procurador
continua a mensagem, copiando a resposta que recebeu de Lenz. O suíço se
queixava que, na lista enviada pela Lava Jato, alguns nomes estavam faltando.
"OK Orlando. Está faltando algumas pessoas na lista", disse
Lenz, na tradução do inglês feita pela reportagem. "Eu não verifiquei
todas elas. Mas tenho os seguintes nomes em mente: Fabio Gandolfo, Leandro
Azevedo, Newton de Souza, Eduardo Barbosa, Renato Jose Baiardi, Aluzio Rebello
Araujo, Paulo Lacerda de Melo, Carlos Mendonca Alves Dias, Renato Antonio
Machado Martins (Alvaro Galliez Novis). Algum comentário sobre esses
nomes?", questiona o suíço.
0 comentários:
[ Deixe-nos seu Comentário ]
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor