(Foto: Reprodução | ABr)
O nome de Bolsonaro apareceu numa escuta
telefônica autorizada pela Justiça nas investigações sobre o miliciano Adriano
da Nóbrega, assassinado em fevereiro de 2020. A seguir, o MP cancelou a escuta.
Caso deveria ter sido enviado à Procuradoria-Geral da República, o que nunca
aconteceu
10 de fevereiro de 2021
Escuta telefônica da Polícia Civil do Rio sob comando do Ministério
Público, durante investigações depois da decretação da prisão do chefe do
Escritório do Crime, o ex-PM Adriano da Nóbrega, foi interrompida em fevereiro
de 2020 depois da menção ao nome de Jair Bolsonaro nas gravações. O assunto
deveria ter sido remetido à Procuradoria Geral da República, que tem a
prerrogativa de apurar suspeitas relacionadas ao chefe do Executivo, mas isso
nunca aconteceu. A revelação é do Intercept Brasil.
Reportagem de Sérgio Ramalho informa que cinco dias depois da morte de
Adriano da Nóbrega, em 9 fevereiro de 2020, uma de suas irmãs afirmou em um
telefonema que queriam ligar seu irmão a “Bolsonaro”. Tatiana Magalhães da
Nóbrega referia-se ao presidente da República, Jair Bolsonaro, segundo trecho
do relatório técnico da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Polícia
Civil do Rio de Janeiro.
O monitoramento teve início em 6 de fevereiro de 2019, poucos dias
depois de Adriano ter tido a prisão decretada na operação Intocáveis, que levou
o Ministério Público a denunciar policiais e ex-policiais militares ligados à
milícia de Rio das Pedras e da Muzema, na zona oeste do Rio. Uma das principais
atividades da organização criminosa é a construção ilegal de prédios em
terrenos invadidos.
Na conversa interceptada em 14 de fevereiro de 2020, Tatiana fala com
uma mulher não identificada, lamenta a dificuldade em liberar o enterro do
irmão e diz que Adriano “tinha muita coisa e mexia com muita gente”. Depois,
cita o presidente.
Sete dias depois da conversa em
que o nome do presidente aparece, um relatório obtido por Sérgio Ramalho mostra
a opção do MP por não renovar as escutas no telefone da irmã do ex-capitão. O
Ministério Público fluminense não tem atribuição para investigar o presidente
da República. Entretanto, cabe à instituição encaminhar as informações à
Procuradoria-Geral da República, a PGR, que tem a prerrogativa de apurar
suspeitas relacionadas ao chefe do Executivo, o que nunca foi feito.
O clã e os milicianos
A ligação dos Bolsonaros com os milicianos da zona oeste do Rio vem de
longa data. Flávio, então deputado estadual, nomeou a mãe e a ex-mulher de
Adriano em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio. Raimunda Veras
Magalhães e Danielle Mendonça da Nóbrega recebiam sem trabalhar e devolviam
parte dos salários ao ex-PM Fabrício Queiroz, que atuava como assessor do
parlamentar – as famosas rachadinhas. Inclusive, o MP do Rio protocolou uma
denúncia contra Flávio citando Adriano como um dos envolvidos no caso.
Amigo do ex-capitão Adriano nos tempos de Polícia Militar, Queiroz é um
dos muitos PMs e militares que orbitam a família Bolsonaro desde os anos 1980.
“Ele [Queiroz] é meu amigo desde 1985, é meu soldado”, já afirmou Bolsonaro ao ser
questionado sobre a relação com o assessor.
0 comentários:
[ Deixe-nos seu Comentário ]
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor