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O JN, no caso do golpe, será como nos tempos de Medici |
O 'Jornal NaZional' imediatamente voltará aos tempos de Medici, em que retratava um paraíso — de mentira
POR PAULO
NOGUEIRA | 28/03/2016
Em suas
memórias, Samuel Wainer notou o óbvio: os analfabetos políticos, ou perfeitos
idiotas, acham que o que veem nos jornais, revistas e telejornais é verdade.
Em sua
ingenuidade desumana, eles não imaginam que por trás do que é noticiado estejam
famílias riquíssimas dedicadas a preservar seus próprios interesses, Marinhos,
Frias, Civitas e por aí vai.
Tais famílias
escolhem, com capricho criminoso, o que vai chegar a seu público, e como. Com o
mesmo apuro, decidem também o que não vai chegar.
Mas o
analfabeto político não pensa nisso. Com o mesmo fervor obtuso, ele crê que
decisões de juízes são sagradas. Se ele atinasse que um juiz da Suprema Corte –
como Gilmar, Toffoli etc – podem ser tão tendenciosos quanto um juiz de futebol
vinculado a um time, seria mais crítico. Mas não é o que acontece.
Vamos agora
fazer um exercício.
Na hipótese
extrema de que o golpe funcione: como a Globo vai passar a noticiar a Lava Jato
para os analfabetos políticos que ainda a levam a sério?
Vai tirar do
ar. A Lava Jato deixará de ocupar intermináveis minutos no Jornal Nacional, na
Globonews e demais telejornais da casa porque já terá cumprido seu objetivo.
Moeo será abandonado como Joaquim Barbosa, ou caso seja o candidato a
presidente da Globo, artificialmente inflado.
Corrupção,
igualmente, não será mais tema de reportagens.
Quem, como eu,
militou demorados anos em grandes empresas jornalísticas como Globo e Abril
sabe como elas agem na defesa de suas mamatas e privilégios.
O general
Medici, um dos presidentes da ditadura, teve uma reflexão histórica sobre o
Jornal Nacional de seu tempo. “Você vê o mundo em chamas e ao assistir o Jornal
Nacional depara com um paraíso”, disse ele.
Jovens
idealistas morriam torturados nas masmorras da ditadura que a Globo ajudara a
construir e manter. Direitos trabalhistas como a estabilidade eram roubados sem
que os trabalhadores pudessem fazer nada porque greves eram proibidas e líderes
sindicais perseguidos. Políticos destemidos eram cassados. A corrupção grassava
por baixo do pano em civis como Paulo Maluf.
Mas o que
aparecia no JN era um paraíso. De mentirinha.
É isso, este
circo sinistro, que teremos de volta caso o golpe vença.
Eduardos
Cunhas continuarão a ter a vida mansa que sempre tiveram, porque ao mesmo tempo
em que roubarão prestarão serviços sujos à Globo: farão aprovar medidas contra
os trabalhadores e impedirão que sequer se discuta uma regulamentação da mídia
que impeça a empresa dos Marinhos de ser o monstro manipulador que é.
O país, como
na ditadura militar, se encherá de confrontos porque os movimentos sociais e
jovens estudantes como os secundaristas de São Paulo não aceitarão passivamente
um crime de lesademocracia.
Sangue
fatalmente correrá, graças aos métodos conhecidos da Polícia Federal, mas também
isso não será notícia.
A Globo,
acossada pela Era Digital que a fará em circunstâncias normais uma empresa em
grossa decadência, terá mais uma vez livre acesso aos cofres públicos, por meio
de publicidade e financiamentos indecentes.
Terá cada vez
menos público, porque isso é inexorável, mas os Marinhos serão cada vez mais
ricos num país cada vez mais desigual.
Mas o JN, como
no tempo de Medici, trará a seus analfabetos políticos um paraíso. De
mentirinha. Mas, em sua ignorância majestosa, é disso mesmo que eles gostam, um
mundo falso em que só haja brancos, ricos, cheirosos, sorridentes — em suma,
perfeitos idiotas como eles mesmos.
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