(Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara)
Para o jornalista Laurez Cerqueira, "o ex-juiz parece ter perdido o eixo com o fechamento do cerco contra ele". "Sérgio Moro se perdeu no labirinto da política, sem partido, e ninguém parece querer dar-lhe a mão para a saída. Apenas usam o prestígio dele – agora rolando ladeira abaixo – e surfam na onda de combate à corrupção que ele criou, que deu sustentação para o golpe e para a eleição de Jair Bolsonaro"
Autor, entre outros trabalhos, de Florestan Fernandes - vida e obra; Florestan Fernandes – um mestre radical; e O Outro Lado do Real
10 de julho de
2019
O ex-juiz
Sérgio Moro parece ter perdido o eixo com o fechamento do cerco contra ele.
Pode estar ensaiando sair de fininho da vida pública, depois de ver sua imagem,
tal qual a de boneco de arreia ser desfeita na ventania política. Brasília não
é para amadores.
Para ser
ministro do Supremo Tribunal Federal – um dos seus sonhos –, o provinciano
ex-juiz precisaria passar pelo portal do Senado Federal. A chance minguou, é
quase zero, depois da revelação das ilegalidades praticadas por ele, pelo procurador
Deltan Dallagnol, e seus subordinados na operação Lava Jato.
Sua possível
candidatura à presidência da República foi descartada por Jair Bolsonaro
recentemente, ao lhe oferecer a vice, num de seus gestos intempestivos, sem
consultar Hamilton Mourão, que anda um tanto decorativo, como queria Olavo de
Carvalho.
Ainda no mesmo
campo da direita e da extrema-direita João Dória e Rodrigo Maia estão ocupando
quase todo o espaço. Na política não existe espaço vazio. Um desses possíveis
candidatos, dependendo do que o jornalista Glenn Greenwald tem em seu poder, a
ser revelado, sequer o convidaria para ser vice. Diz o jornalista Ricardo
Noblat que Greenwald tem mais de 2 mil áudios das conversas entre integrantes
da Lava jato.
Ou seja,
Sérgio Moro se perdeu no labirinto da política, sem partido, e ninguém parece
querer dar-lhe a mão para a saída. Apenas usam o prestígio dele – agora rolando
ladeira abaixo – e surfam na onda de combate à corrupção que ele criou, que deu
sustentação para o golpe e para a eleição de Jair Bolsonaro.
Querem o
ex-juiz apenas para tirar proveito, como fez Bolsonaro no Maracanã, no jogo da
seleção. Se nos áudios em poder de Glenn Greenwald forem revelados segredos
indecentes, Jair Bolsonaro descartará Sérgio Moro com tapinha nas costas e um
“passe bem”. Ele não é mais juiz e pode não ser mais candidato a nada. Estudar
nos Estados Unidos talvez seja uma saída. Lá ele é amigo do rei.
A última
pesquisa Datafolha, a estrondosa vaia no Maracanã e as ilegalidades praticadas
pela operação Lava Jato, divulgadas pelo site The Intercept, em parceria com o
jornal Folha de S. Paulo, revista Veja, TV BandNews e o jornalista Reinaldo
Azevedo, são fatos muito fortes. Devem ter abalado Sérgio Moro, levando-o a
fazer uma parada para um balanço do caminho percorrido até o Ministério da
Justiça.
Caso as novas
revelações do conluio da Lava Jato com o ex-juiz sejam ainda mais graves, é
possível que outros órgãos de imprensa descolem do alinhamento incondicional a
ele e se juntem aos parceiros do The Intercept. A Globo tem dado sinais de que
deve desembarcar.
A economia vai
de mal a pior, com o desemprego corroendo a popularidade de Bolsonaro e do
desastroso governo. Agências internacionais como Bloomberg, Reuters e outras já
noticiam até a possível queda de Paulo Guedes, devido a absoluta inoperância do
governo diante do precipício da recessão e da falta de medidas que apontem
saída da crise e volta do crescimento econômico. Ninguém aguenta mais
fundamentalismo.
O que o
governo Bolsonaro está fazendo nas áreas econômica, do meio ambiente, educação,
saúde, direitos humanos, segurança pública, entre outras, é indefensável numa
campanha eleitoral futura.
Prender o
jornalista norte-americano Glenn Greenwald, ou qualquer outra pessoa da equipe
que investiga as ilegalidades da Lava Jato, seria mexer numa caixa de
marimbondos. Seria comprar uma briga com jornalistas no Brasil e no mundo, na
questão do direito sagrado à liberdade de imprensa, com consequências políticas
imprevisíveis. Isso liquidaria definitivamente a imagem de Sérgio Moro, já
bastante danificada internacionalmente.
No segundo
semestre, será instalada no Congresso uma Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito (Câmara e Senado), para investigar as fake news.
Respaldada
pelo Supremo Tribunal Federal, que também investiga o caso, deve colocar para
depor, no banco de inquisição, diante das câmeras, gente graúda do governo,
políticos do PSL, partido de Jair Bolsonaro, empresários, pessoas envolvidas
nesses crimes, que atuaram na campanha eleitoral.
Como dizem no
Congresso, “CPI, sabe-se delas quando começa. Mas nunca se sabe como acaba”,
Com um mês de trabalho, com transmissão ao vivo, o desgaste do governo será
devastador.
No Tribunal
Superior Eleitoral, arrasta-se um processo de investigação da campanha que
elegeu Jair Bolsonaro, desde novembro de 2018.
A denúncia é
de que a campanha teria sido beneficiada pelo impulsionamento de fake news
contra o PT, por empresas que prestam esse tipo de serviço e que teriam sido
pagas com recursos de Caixa Dois.
Dependendo do
andamento das investigações da CPI, o TSE deverá enfrentar uma situação
bastante constrangedora. Caso constatado o Caixa Dois pela CPI, ao tribunal
restará a única alternativa, de cassar a chapa Bolsonaro-Mourão. Ou será
decretado o fim da justiça brasileira, que anda mal aos olhos do Brasil e do
mundo.
No caso de
cassação da chapa, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assumiria a
presidência da República e, num prazo de 90 dias, o Brasil realizaria novas
eleições. Assim determina a Constituição.
Se Rodrigo
Maia e David Alcolumbre estiverem à altura dos cargos que ocupam, se tiverem
grandeza cidadã e percepção clara da gravidade situação do país, chamarão o
povo para o grande debate da restauração institucional, para o restabelecimento
do Estado democrático de direito e para decidir soberanamente sobre os destinos
da nação.
Mais fortes
são os poderes do povo.
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