(Foto: Adriano Machado - Reuters)
Sempre disse que, tem tendo eu sido um opositor ferrenho desses
dois governos, não tinha vergonha de me sentir brasileiro, nem aqui e nem em
país do mundo pelo qual viajava. As coisas mudaram e mudaram muito e para pior
24 de janeiro
de 2020
Sociólogo,
Professor (aposentado), Escritor e Analista Internacional. Foi professor de
Sociologia e Métodos e Técnicas de Pesquisa da UNIMEP e presidente da Federação
Nacional dos Sociólogos – Brasil
X-X-X
Há tempos
estava adianta a redação de um artigo que analisasse o que tem de pior entre os
e as ministras desse (des) governo Bolsonaro. Achava que sería um artigo de
média dimensão, mas sei que será longo, em função da quantidade de barbaridades
que terei que listar da maioria dos e das ministras. Des de volta da democracia
ao Brasil em 1985, as primeiras eleições ocorreram em 1989, exatos 29 anos após
1960, quando Jânio da Silva Quadros havia sido eleito. Nas eleições daquele ano
de 1989 22 candidaturas concorreram, tendo vencido um populista de um partido
nanico chamado Fernando Collor de Mello e foi sucedido pelo grande implantador
do modelo neoliberal no Brasil, Fernando Henrique Cardoso.
Sempre disse
que, tem tendo eu sido um opositor ferrenho desses dois governos, não tinha
vergonha de me sentir brasileiro, nem aqui e nem em país do mundo pelo qual
viajava. As coisas mudaram e mudaram muito e para pior. Hoje, qualquer
brasileiro/a de compreensão mediana da política, que acompanha os
acontecimentos fora das mídias corporativas e familiares, está literalmente
estarrecido e envergonhado. A mídia internacional debocha quase que diariamente
de nosso país. Não só pelas gafes do presidente como de quase todo o seu
ministérios, pelas bobagens, pelos decretos editados, pelos pronunciamentos,
pelas decisões administrativas.
O Brasil vai
perdendo espaço mundialmente. Vai ficando fora da rota de investimento das
grandes empresas. Está fora dos grandes players mundiais. Não é ouvido para
mais nada na diplomacia internacional. Se e quando houver reforma no Conselho
de Segurança das Nações unidas, jamais poderemos vir a pleitear uma vaga entre
os países permanentes. Uma vergonha histórica.
Não temos informações
precisas, estatísticas confiáveis de quantos ministros do Brasil teve em todas
as suas pastas apenas em 130 anos de República, completados em novembro do ano
passado (aliás, de forma completamente despercebida e sem comemoração alguma).
Só de ministros da economia e da fazenda foram 95 incluindo o atual vende
pátria do Paulo Guedes. Isso porque essa pasta tem relativa estabilidade.
Imagino que foram milhares de ministros. O atual ministério de Bolsonaro é dos
mais enxutos, com apenas 16 ministérios, sendo que apenas cinco com filiações
partidários (três do DEM; um do MDB e um do PSL).
O objetivo
deste artigo é mostrar um perfil ao mesmo tempo cômico e trágico dos e das
ministras bolsonaristas. Alguns mais outros menos, mas todos tragicômicos ao
mesmo tempo. Procurarei apontar suas contradições, suas falhas, seu triste
passado, seus problemas, com base nas informações obtidas a partir de noticias
amplamente divulgadas.
1. Cultura –
No momento que escrevo este trabalho, a pasta está em transição entre um
nazista, admirador/seguidor confesso de Joseph Goebels, Roberto Alvim. Ele já
havia se notabilizado por ofender, tentar desmoralizar e desqualificar ninguém
menos que a melhor atriz e ícone do teatro brasileiro, Fernanda Montenegro. Sua
última diatribe foi fazer um “pronunciamento à Nação” defendendo uma arte
“pura” (sic), nacional, nazista, de extrema direita, à serviço da alienação e
do fundamentalismo religioso. E só foi exonerado do cargo porque deu muito na
cara, pois senão desse, seguiria na sua função. Ele está sendo trocado pela
atriz Regina Duarte, ex-“namoradinha do Brasil” (sic), também de extrema
direita, fazendeira, filha “solteira” de militar e pensionista do exército com
19 mil mensais (apesar de ter-se casado cinco vezes). Regina mostrou a sua cara
direitista pela primeira vez na TV quando apoiou FHC para prefeito em Sampa em
1985 contra Eduardo Suplicy do PT. Já fez a indicação de uma reverenda
(evangélica) para ser a sua “número 2”, com imensa repercussão negativa no meio
cultural. Registre-se que, pela primeira vez, desde a época da ditadura, o
Ministério da Cultura foi extinto. Com a sua extinção, ele foi rebaixado a uma
mera secretaria subordinada ao ministério da Cidadania. Não posso deixar de
registrar que essa senhora precisa acertar contas com o fisco em 319 mil de
reais que deve aos cofres do governo com base na Lei Rouanet, captados da
iniciativa privada por renúncia fiscal, sem jamais prestar conta (que feio,
hein dona Regina?).
2. Educação –
Não perderei tempo em falar do breve ministro Ricardo Vélez, colombiano de
extrema direita que ficou quatro meses e não disse a que veio. Ele foi
substituído pelo atual Abraham Weintraub. Este é um governo que usaremos muitas
vezes o termo “pela primeira vez na história”. Assim, pela primeira vez, pelo
menos nas últimas décadas, temos um ministro que não tem doutorado. Um obscuro
professor da UNIFESP, que prestou concurso tendo apenas mestrado e concorreu
apenas contra ele próprio para uma única vaga existente (cartas marcadas). Um
judeu sionista de extrema direita que persegue diuturnamente os professores, os
intelectuais, os acadêmicos e os pesquisadores. Acusou as universidades de
serem plantadoras de maconha e produzirem em seus laboratórios crack. Seu
histórico escola de graduação na USP foi dos mais medíocres possíveis.
3. Relações
Exteriores – Aqui também, pela primeira vez nas últimas décadas, temos um
ministro que jamais chefiou uma embaixada. Ainda que eu saiba que o cargo de
ministro é político e de livre provimento do presidente, havia décadas que
sempre era nomeado um embaixador. Pois bem, esse Ernesto Araújo, que mal fala o
inglês, que crê que a Terra é plana, de extrema direita, que vem implantando
uma política externa ideologizada, jamais chefiou uma embaixada em 29 anos de Itamaraty,
por menor que seja o país. Uma vergonha para o Brasil. A todo momento ameaça
sair do MERCOSUL, mantém a completa subordinação aos ditames dos Estados Unidos
e Europa e tem dado às costas à África e à Ásia. Estamos, a cada dia, isolados
do mundo. Tudo isso sem falar na grande polêmica de mudar a embaixada
brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, contrariando decisões da ONUE e
irritando 450 milhões de árabes.
4. Mulheres e
Direitos Humanos – Tudo que havia sido construído em 13 anos dos governos Lula
e Dilma foram destruídos em menos de um ano. A Comissão da Verdade foi
dissolvida. A Comissão de Anistia foi completamente reformulada e gora estão
anistiando torturadores. Recentemente negaram a anistia a ex-presidente Dilma
que foi barbaramente torturada nos porões do DOI-CODI. Foi dissolvida a antiga
SEPIR. Nada mais há que se combata o racismo em nosso país. O Conselho da
Pessoa com Deficiência foi extinto, apesar da pantomima da dita “primeira dama”
falar na posse na linguagem dos sinais brasileira, LIBRAS. Nada mais há nesse
ministério que combata a homofobia. A maior campanha que agora será deflagrada
no carnaval para a prevenção de doenças será a abstinência sexual. Um salto ao
século XIX. O modelo dos puritanos estadunidenses do século XVII que para lá
imigraram. Isso sem falar na ministra Damares Alves, aquela que viu Jesus em
uma goiabeira, ter sido acusada de sequestrar uma criança índia para adotá-la
como filha.
5. Meio
Ambiente – O ministro Ricardo Sales é um notório extremista de direita e corrupto.
Acusado de blindar o grupo Bueno Neto em suas devastações ambientais quando foi
secretário do Meio Ambiente de São Paulo, em como foi acusado de improbidade
administrativa pelo MPE paulista (olha que este é o mais tucano do país!!!) na
elaboração do plano de manejo da APA da várzea do Rio Tietê. Ele é francamente
a favor do Dia do Fogo na Amazônia, que devastou grande parte da ainda maior
Floresta da Terra, que é a nossa Amazônia. Aqui vale aquela piada popular que
se diz que uma raposa foi indicada para tomar conta do galinheiro.
6. Agricultura
– A ministra Tereza Cristina é pecuarista (nome pomposo para esconder o que
realmente ela é: latifundiária). Ela vem de um estado que tem mais cabeças de
gado que seres humanos, que é Mato Grosso do Sul, onde Sem Terras são tratados
à bala o tempo todo. É deputada federal da bancada da bala e a favor do
indústria do agrotóxico. No seu primeiro ano à frente da pasta, que engloba
agricultura e abastecimento, ela liberou exatos 474 agrotóxicos a pedido da indústria
da morte, mais do que tudo que já tinha sido liberado anteriormente na
história. Uma barbaridade. Muitos desses produtos proibidos no chamado mundo
civilizado, o que prejudicará nossas exportações agrícolas principalmente para
a Europa. Chegou-se a cogitar a subordinação da FUNAI a este ministério, mas a
repercussão mundial foi tão grande que voltaram atrás e ela ficou na “Justiça”
com Moro.
7. Trabalho –
Não existe mais um ministério do Trabalho. Até porque este é um (des) governo
do Capital. Quase tudo do extinto ministério do Trabalho, criado por Getúlio
Vargas no dia 26 de novembro de 1930 – portanto sobreviveu por 89 anos – foi
deslocado para o Ministério da Economia do ministro pinochetista Paulo Guedes,
o chicago boys, entre eles os importantes setores como geração de emprego e
renda; apoio ao trabalhador; modernização das relações do trabalho; política
salarial; fiscalização do trabalho; aplicações de sanções; formação e
desenvolvimento do trabalhador; saúde e segurança do trabalho; regulamentação
profissional. E a parte mais sensível do antigo ministério, que era o registro
sindical (criação de sindicatos) foi para o ministério da Justiça, do
ultradireitista Moro que agora vai favorecer a criação de sindicatos da sua
turma. O pior de todos os mundos: um dos setores mais importantes, que era a
fiscalização sobre o trabalho escravo foi praticamente extinto.
8. Turismo – O
ministro Marcelo Álvaro Antônio não é flor que se cheire. Aliás, é flor de
laranjeira (refiro-me às acusações que ele sofre de criar um verdadeiro
laranjal de candidatura fictícia de mulheres, falsificar suas prestações de
contas para se apropriar como caixa dois dos seus recursos em função da
obrigatoriedade de legislação de um terço de candidaturas de mulheres). Ele
está literalmente condenado. Isso resultou pela primeira vez na história (é
hilário demais) que um ministro do Turismo do país não poder viajar pelo mundo
por estar condenado!!! E o pior de tudo: em campanha Bolsonaro disse várias
vezes que seu governo será o mais honesto do mundo e que assim que ele souber
de qualquer coisa, demitiria na hora o/os envolvidos.
Bem, estes
oito casos foram aqui apresentados apenas por serem emblemáticos. Há muito
mais. Não há ministros santos e nem honestos naquela turma que ocupa o primeiro
escalão do governo. Não há ninguém brilhante. Não há intelectuais. Não há um
negro no primeiro escalão e o único indicado para o segundo – impedido pela
justiça de tomar posse – disse que a escravidão foi benéfica para os negros no
Brasil e que ele faria de tudo para revogar os feriados de 20 de novembro da
consciência negra no país. As duas mulheres entre as 16 não defendem os
direitos e os interesses das mulheres. São machistas como se diz entre as
feministas. São mulheres patriarcais, tal qual Bolsonaro gosta. Por isso, como
disse no começo, jamais tive vergonha de ser brasileiro perante o mundo. Hoje
me sinto envergonhado. E você, como se sente? Até quando esse martírio durará?
Abraços do
Prof. Lejeune Mirhan.
Brasil 247
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