O capitão e o tamanho do mar
POR FERNANDO
BRITO · 05/01/2020
A crise no
Oriente Médio não vai ser um surto.
Deve haver,
sim, um pico imediato, mas será o prenúncio de uma temporada de mar encapelado.
Quem quiser
imaginar os iranianos como um bando e fanáticos, que vão lançar um míssil sobre
algum alvo e darem-se por satisfeitos, está redondamente enganado.
É claro que
haverá ações armadas, mas isso será o menos importante.
Sem excluir
que bombas possam ( e vão) explodir aqui e ali, até porque o nível e tensão é
alto e mantê-lo assim ajuda a retaliação aos norte-americanos, porque é
impraticável a Donald Trump ir além da “guerra de joysticks”e colocar tropas em
grande escala em terreno hostil como o Iraque ou o próprio Irã. O 3,5 mil
soldados enviados desde Fort Bragg não são absolutamente nada, apenas pessoal
basicamente destacado para proteger plantas de petróleo.
Os iranianos
estão considerando o fato de terem obtido apoio em escala global. Os chanceleres
da Rússia, Serguei Lavrov, e a China, Wang Yi, emitiram hoje nota conjunta
condenando “o uso da força em violação à Carta da ONU” e falando em tomar
“medidas conjuntas” para evitar uma escalada bélica. A Europa também se recusou
a subscrever as ações de Trump e o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo
revelou publicamente seu desapontamento com a reação europeia.
Portanto, a
arma mais importante de retaliação será manter o sobressalto e a
intranquilidade no mundo do capital, de forma persistente, pela via da crise
política.
E quanto a
nós?
Nós? Nós
entramos de gaiatos nessa crise, com um capitãozinho que não só não tem
capacidade de manobrar com inteligência como tem como obrigação de, diante de
sua tropa de lunáticos, brandir sua espadinha de madeira, proclamando-se
valente.
Demonstrou
isso já na sua primeira fala sobre a crise, excluindo completamente a hipótese
de uma administração dos preços – a que chamou tabelamento – mesmo temporária.
Ora, permitir
a transmissão imediata para os preços internos de um eventual pico no preço
internacional causado por um ataque a instalações petrolíferas é abrir a porta
para um surto de reajustes que, para debelar depois é quase impossível.
Em seguida, chancelou
uma nota do Itamaraty onde desconsiderou todos os avisos e alinhou-se ao
Governo Trump, novamente sem nada em troca.
O que vai
fazer na semana que vem ou na próxima se cenário não se desanuviar, afastando a
nuvem negra que chegou rápido e tampou o sol do “agora vai” que nem tinha ido
ainda?
Governantes se
revelam nas crises, como comandantes nas tempestades.
E experiência
não se vende no “Posto Ipiranga”.
0 comments:
[ Deixe-nos seu Comentário ]
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor