
(Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil)
"O afastamento de Bolsonaro pode resultar em confrontos
políticos e no acirramento da divisão que o país já vive. Mas deixar de
enquadrá-lo por temor das consequências será pior. Deixará o caminho livre para
que ela vire ditador", escreve a jornalista Tereza Cruviel
3 de maio de
2020
Neste domingo,
03 de maio, em ato com apoiadores que novamente pediram intervenção militar e
fechamento dos outros poderes, e espancaram jornalistas, Bolsonaro voltou a
desafiar as instituições e a sugerir que pode dar um golpe. Vamos ficar
esperando que ele o consume?
Ao dizer que
tem o apoio do povo e das Forças Armadas, e que não aceitará mais intervenções
em seu governo, está dizendo que pode ir para o golpe, para a ruptura
institucional. Lembremos que ele disse, na semana passada, que quase houve uma
crise institucional com a decisão do ministro Alexandre Morais de barrar a
nomeação de Alexandre Ramagem para diretor-geral da Polícia Federal. A reação
de ontem foi contra o STF, que ao contrário do inerte Congresso, está mais
ativo na defesa da democracia e na imposição da legalidade a Bolsonaro.
Bolsonaro está
em apuros criminais, está acuado. Na manhã de sábado, em reunião com
comandantes militares e generais de seu governo, ele teria reclamado do SFT e
dito que não aceitará mais decisões contra seu governo. E elas virão, em
decorrência dos inquéritos que estão sendo tocados pela PF sob o comando do
Supremo: o das fake news, o que investiga responsabilidades pelo ato golpista
de domingo, 19 de abril, e o que investiga as acusações de Sérgio Moro. E ainda
há um mandado de segurança nas mãos do ministro Celso de Mello, que pede uma
série de providências contra o presidente, inclusive a limitação de seus
poderes para que não continue delinquindo.
O
procurador-gerla da República, por coerência, deve pedir hoje que o inquérito
em curso para apurar os atos do dia 19 de abril passe a investigar também quem
organizou e quem financiou o de ontem, e quem são os que atacaram os
jornalistas. Se ele não o fizer, a oposição terá que pedir. Ou que se abra
outro inquérito.
Se Bolsonaro
deixar de acatar uma decisão do STF, que farão o Supremo e o Congresso? Quando
ele ignorar um dos outros poderes, já estaremos na ditadura.
Alguns
generais ouvidos neste domingo voltaram a dizer que as Forças Armadas mão
entrarão em aventuras golpistas com Bolsonaro. Ótimo. Mas qual é a unidade que
têm hoje as Forças Armadas? Não sabemos. Mas é certo que, na tropa, Bolsonaro
tem apoio.
Ele planeja o
golpe para quando ele for afastado, seja pelo STF, por crime comum, ou pelo
Congresso, num processo de impeachment que Rodrigo Maia continua se recusando a
abrir. Nesta hora contará com as hordas fanáticas que foram à Praça dos Três
Poderes ontem e com os segmentos policiais e militares com ele alinhados.
O afastamento
de Bolsonaro, que só não acontecerá se a Constituição e a legalidade deixarem
de prevalecer, pode resultar em confrontos políticos e no acirramento da
divisão que o país já vive. Mas deixar de enquadrá-lo por temor das
consequências será pior. Deixará o caminho livre para que ela vire ditador.
Brasil 247
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