
(Foto: Reuters / Sergio Moraes)
Ao contrário do que afirma o Ministério da Saúde, o Brasil ainda
não estabilizou a pandemia de COVID-19, segundo profissionais da saúde
3 de julho de
2020
Sputnik – Em
entrevista coletiva em Brasília na segunda-feira (1º), o secretário de
Vigilância em Saúde, Arnaldo de Medeiros, afirmou que o número de mortes
causadas pelo coronavírus tem se mantido constante e que o país atingiu um
platô na curva de contágio, ou seja, o número de infectados não deverá crescer
de maneira aguda e deve se manter estável.
O médico
epidemiologista e professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Guilherme Werneck afirma que "não há
evidência clara" de que o país tenha estabilizado a pandemia.
"Hoje
está claro que a epidemia está se expandindo para a região centro-oeste e sul
do país, que foi relativamente poupada no início da epidemia. Nessas regiões, a
gente deve esperar que a epidemia esteja iniciando de certa forma, que o número
de óbitos vá aumentar. Em outros estados, por exemplo o Ceará, Amazonas, já
foram mais atingidos e estão esperando um decréscimo. Mas eu diria que na maior
parte do país não se está observando o platô que eles estão alegando", diz
Werneck à Sputnik Brasil.
O professor da
UERJ também aponta outro fator que demonstra a falsidade da afirmação do
Ministério da Saúde: as notificações sobre mortes e infecções no Brasil são
atualizadas com "grande defasagem".
No Rio de
Janeiro, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) autorizou a reabertura com
restrições de bares, restaurantes e academias a partir do dia 2 de julho. No
Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha (MDB) estabeleceu cronograma para
a reabertura total do comércio nas próximas semanas e a retomada das aulas
presenciais.
O
epidemiologista Guilherme Werneck afirma enxergar com "preocupação
imensa" a reabertura. "O que está acontecendo é uma abertura precoce
em que não temos clareza do ponto em que nos encontramos na epidemia nas
diferentes partes do Brasil e, também, não estamos completamente preparados
para enfrentar essa flexibilização que implicaria, por exemplo, em uma
ampliação substantiva no número de testes, na busca de pessoas sintomáticas e
seus contatos"
Brasil caminha
para um genocídio, diz professor da USP
O médico
sanitarista e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São
Paulo (USP) Gonzalo Vecina Neto compartilha a preocupação com a reabertura e
também discorda da avaliação do Ministério da Saúde sobre o momento do
coronavírus no Brasil.
"O que o
secretário de Vigilância em Saúde está falando não confere com a realidade. Nós
não estamos em um platô, nós reduzimos a velocidade de crescimento, mas
continuamos crescendo e, pior, o Ministério não está realizando os testes e,
portanto, estamos frente, também, a um grande sub-registro de casos. Portanto,
está na hora de tomar cuidado e não pensar em relaxamento. Uma coisa é o que o
secretário, o ministro, o presidente quer. Outra coisa é a realidade e a
realidade, infelizmente, como nós não estamos fazendo o que temos de fazer em
termos de isolamento social, em termos de testagem e em termos de quarentena de
pessoas que estão infectadas, os casos continuam a crescer", diz Neto à
Sputnik Brasil.
O Brasil está
em seu terceiro ministro da Saúde desde o início da pandemia. Luiz Henrique
Mandetta foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) semanas após
pesquisa indicar que a gestão do Ministério da Saúde tinha mais que o dobro de
aprovação popular do que o próprio presidente. Seu sucessor, Nelson Teich,
deixou o cargo após se opor ao uso de cloroquina no tratamento da pandemia,
medicamento sem eficácia comprovada. O atual ministro, Eduardo Pazuello, é
interino e militar.
O Brasil tem,
nesta quinta-feira (2), 61.884 mortes causadas pela COVID-19 e 1.496.858
pessoas infectadas pela enfermidade.
"A
flexibilização só poderá ocorrer se houver queda consecutiva de 14 dias. E,
além disso, em regiões onde as taxas de ocupação das UTI's estejam abaixo de
60%. Caso contrário caminhamos para um genocídio", avalia Neto.
"Temos que ser sérios com o tratamento de vidas e não é isso que o
Ministério da Saúde está propondo."
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