
Foto: Antonio Rodrigues
27 de Julho de
20207
Ferramenta
usada pelas equipes de segurança identificou veículo usado na fuga. Nota fiscal
também foi usada em investigação.
Detalhes da
investigação sobre a morte de João Gregório, mais conhecido como João do Povo,
eleito prefeito de Granjeiro em 2016, apontam que câmeras de segurança e a nota
fiscal de uma lanchonete foram os principais elementos para encontrar o
suspeito do crime: Ticiano Tomé, vice-prefeito na mesma chapa.
Além dele,
outras sete pessoas e o pai de Ticiano Tomé foram presos no último dia 15
suspeitos de envolvimento no caso. As investigações indicam que o crime teria
sido para que o vice assumisse a gestão.
Em 24 de
dezembro de 2019, João do Povo foi morto a tiros enquanto fazia uma caminhada
próximo à casa dele. "Ele recebeu algumas ameaças, inclusive foi alertado
por amigos próximos que deveria tomar cuidado quanto a isso", contou o
advogado da família de João, Igor César Rodrigues. Três dias depois do crime,
Ticiano assumiu a prefeitura.
De acordo com
a promotoria responsável pelo caso, ao assumir a Prefeitura de Granjeiro,
Ticiano intimidava testemunhas para dificultar a apuração do caso.
Investigação
Com
depoimentos de testemunhas que afirmaram ter visto os criminosos fugindo em um
veículo modelo Gol, de cor escura, na época do assassinato, os investigadores
descobriram uma imagem de câmera de segurança que mostra o automóvel usado
pelos autores dos disparos que mataram João do Povo.
Equipes da
Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) usaram
tecnologia e melhoramento da imagem e identificaram que, na verdade, o carro em
questão era um modelo Polo. "Foi um fato até curioso porque o carro que
participou foi um Polo, só que ele estava com a calota de um Gol", lembra
Aloísio Lira, superintendente de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública.
A partir
disso, parte da placa do veículo foi decifrada pela equipe de Segurança. No entanto,
a baixa qualidade da imagem dificultou a identificação de todos os caracteres.
Os policiais passaram, então, a trabalhar com três hipóteses para a placa e
vistoriaram carros modelo Polo com uma dessas identificações.
"Aí
podemos monitorar quais eram os Polos que poderiam estar na região e acompanhar
essa movimentação dentro desses veículos que possivelmente estavam envolvidos
no delito", detalha Lira.
Os
investigadores souberam que um Polo estaria numa fazenda de parentes de Ticiano
Tomé. A Polícia foi até o local e não encontrou o veículo. Mas achou outra
pista: a nota fiscal de uma lanchonete, com data e horário em que a compra foi
feita.
Com a
continuidade dos trabalhos, os investigadores identificaram um veículo Polo que
passou no drive thru da lanchonete; a placa do carro batia com uma das
combinações que a Polícia tinha como hipótese. "A partir daí, a gente teve
certeza realmente que se tratava daquele carro", relata o delegado de
Granjeiro, Luiz Eduardo da Costa.
Tecnologia
Para auxiliar
as investigações, as equipes utilizaram uma ferramenta utilizada pela Polícia
desde 2017, o Sistema Policial Indicativo de Abordagem (Spia). A tecnologia
permite que, quando uma ocorrência envolvendo veículo suspeito entra no
sistema, cada operador que fica em uma central tenha acesso à rota do carro nas
quatro horas anteriores. Assim, ele passa a ser monitorado.
São 3.300
sensores e câmeras de trânsito e de segurança interligados a esse sistema.
Mesmo nos pontos onde não há câmeras do Spia, a inteligência artificial pode
ser usada para ajudar a elucidar crimes. "Ele (o Spia) faz toda uma
análise de movimentação e consegue predizer uma rota de fuga com até 87% de
acerto", explica Aloísio Lira.
De acordo com
informações da investigação, o Polo usado pelos executores do assassinato havia
sido alugado. Com a informação completa da placa, o sistema identificou locais
por onde o veículo passou e encontrou outra pista importante: as pessoas no
Polo costumavam andar sempre acompanhadas por um grupo em outro veículo - uma
caminhonete que pertencia a Ticiano.
"A partir
daí que realmente abriu todo o leque da investigação. Tudo começou a se
encaixar, na verdade", diz o delegado Luiz Eduardo.
A investigação
avançou com o depoimento de testemunhas e a análise de celulares.
A polícia
acusou Ticiano Tomé e o pai dele, Vicente Tomé, de mandarem matar João do Povo.
"Vários
fatos, várias conversas e depoimentos demonstram uma inimizade entre a vítima e
o pai do vice-prefeito por conta de briga de poder", explica o delegado.
Vida política
Vicente Tomé
foi prefeito de Granjeiro duas vezes. Em 2014, a Justiça o condenou por desvios
na Saúde e na Educação, e o tornou inelegível por seis anos. Foi Vicente quem
indicou o filho Ticiano, que nunca tinha sido nem vereador, para ser vice na
chapa de João do Povo.
"Embora o
filho desse senhor fosse o vice-prefeito, ele queria tomar a frente de tudo, a
ponto de querer uma mensalidade. E isso foi vetado pela vítima", diz o
delegado. A mensalidade seria uma espécie de salário pago pelo Município.
Com a morte do
titular e prisão do vice-prefeito, o presidente da Câmara Municipal de
Granjeiro, Luiz Márcio Pereira, se tornou prefeito da Cidade. Questionado se
Ticiano Tomé tentou influenciar os vereadores contra o prefeito João Gregório,
ele confirma.
"Aconteceu
(a tentativa de influência). Simplesmente chegaram pessoas lá dizendo que ele
oferecia alguma quantia pra gente formalizar alguma denúncia", diz o atual
gestor.
Em 2018, a
Polícia Federal chegou a investigar desvio de dinheiro por parte de João
Gregório. No entanto, não há nada comprovado contra ele até a data da
publicação desta reportagem.
No último dia
15, foram presos Ticiano, Vicente e mais sete pessoas acusadas de participação
na morte de João do Povo. A defesa dos dois políticos contesta as prisões e
alega inocência.
"A defesa
já buscou os meios legais, acredita na Justiça e acredita que, futuramente, nós
teremos todos os meios de provas necessários a comprovar a nossa tese, a tese
defensiva da não autoria intelectual dos nossos constituintes frente a esse
bárbaro assassinato que ocorreu no município de Granjeiro", afirma o
advogado de Ticiano, Luciano Alves Daniel.
Efeitos do crime
Até hoje os
efeitos da morte de João do Povo são sentidos pelos moradores do Município. O
atual prefeito, Luiz Márcio Pereira, diz que "não tem culpa" de
assumir a gestão da cidade e trabalha para unir adversários político, no
entanto, após o crime que chocou a cidade, ele admite ter medo por estar no
cargo.
"Eu
fiquei um pouco com medo. Fazer caminhada, eu não vou mais. De jeito
nenhum."
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