(Foto: Valdenio Vieira/PR | STF | Najara Araujo/Câmara
dos Deputados)
"Os três poderes parecem afinados na
tarefa de destruir as conquistas duramente alcançadas ao longo dos últimos
vinte anos", escreve o colunista Ribamar Fonseca. "Bolsonaro se
mantém no poder sustentado pelas fakenews que o elegeram e escravizaram parte
da população, iludindo-a com mentiras diárias nas redes sociais", afirma.
"O Brasil navega à deriva", alerta
31 de julho de 2020
O Brasil vive hoje, talvez, o período mais difícil de toda a sua história. Além da corona vírus, que já matou mais de 90 mil brasileiros por conta da negligência do governo federal no combate à pandemia, o nosso país, com mais de 11 milhões de desempregados e sem nenhuma perspectiva a médio prazo, voltou para o mapa da fome, de onde havia sido retirado pelo governo Lula. Ao mesmo tempo vai perdendo a floresta amazônica, destruída de forma acelerada com o incentivo do governo, e com ela os investimentos, notadamente os estrangeiros, com graves prejuízos para a nossa economia. Despreparado para o cargo e preocupado apenas com a questão ideológica, assombrado com o velho comunismo junto com militares anacrônicos que integram o seu governo, o presidente Bolsonaro se mantém no poder sustentado pelas fakenews que o elegeram e escravizaram parte da população, iludindo-a com mentiras diárias nas redes sociais. Para completar o quadro, ressuscitou o velho Serviço Nacional de Informações (SNI), criado na ditadura para monitorar seus opositores no serviço público.
Afora pequenas divergências, graças à democracia ainda vigente, os três
poderes parecem afinados na tarefa de destruir as conquistas duramente alcançadas
ao longo dos últimos vinte anos. Depois da derrubada de Dilma no golpe de 2016,
com a cumplicidade do Judiciário, o Brasil mergulhou num retrocesso que se
iniciou com a extinção da CLT, prosseguiu com a reforma da Previdência e tem
sequência com a destruição das leis ambientais, até então consideradas as mais
avançadas do mundo. Cooptado pelo
capitão, ao custo de cargos e verbas, o Congresso garante a aprovação de tudo o
que o governo manda, algumas vezes rebelando-se e alterando certos dispositivos
dos projetos enviados. No geral, porém, faz o que Bolsonaro quer. Mais de 30
pedidos de impeachment do Presidente já deram entrada na Câmara, mas o seu
presidente, deputado Rodrigo Maia, se recusa a apreciá-los, preferindo
engavetá-los sob os mais diferentes e cínicos pretextos.
Na verdade, o impeachment não mudará em nada a situação caótica do país,
pois a saída de Bolsonaro implicará na assunção do general Hamilton Mourão, que
só é diferente do capitão na patente. Ele defende a política ambiental
desastrosa do governo e enrola todas as vezes em que, como presidente do
Conselho da Amazônia, é questionado sobre a devastação da floresta amazônica.
Fala, fala e não diz absolutamente nada e nem toma qualquer providência para
conter o desmatamento. E mais recentemente defendeu a reeleição de Bolsonaro,
afirmando, inclusive, que o capitão chegará em 2022 “extremamente competitivo”.
Pelo visto o general também se convence das próprias mentiras do governo,
propagadas pela indústria oficial de fakenews e, a exemplo dos bolsonaristas,
acredita que o capitão se reelegerá no próximo pleito. Para observadores, nem
Bolsonaro aqui e Trump nos Estados Unidos conseguirão reeleger-se, pois
cometeram os mesmos erros no comando de suas nações. Eles foram eleitos e
sobrevivem graças às fakenews que, no entanto, estão perdendo força.
Constata-se que o comportamento de Maia em relação ao governo é idêntico
ao adotado pelo Supremo Tribunal Federal, cujo presidente, o ministro Dias
Toffoli, às vezes funciona até como conselheiro do presidente Bolsonaro. Toffoli, que foi acusado de ser petista
quando assumiu a cadeira na Corte Suprema, como seu presidente acabou mostrando
as pontas das penas tucanas escondidas sob a toga: ao mesmo tempo em que tomava
decisões prejudiciais ao ex-presidente Lula, que o nomeou para o STF,
beneficiava tucanos emplumados como José Serra e Aécio Neves. Determinou a
suspensão das investigações sobre Serra e Aécio, acusados de receberem
propinas, inclusive proibindo que o material suspeito já apreendido em operações
de busca e apreensão sejam examinados. Aliás, ele nem precisava expor-se tanto,
pois o relator “sorteado” para os inquéritos no Supremo, envolvendo os dois
tucanos, foi o ministro Gilmar Mendes, nomeado por Fernando Henrique e cujas
penas estão inteiramente à mostra.
E por falar em Gilmar, o polêmico ministro decidiu adiar, mais uma vez,
o julgamento da ação que pede a suspeição do ex-juiz Sergio Moro, que vem sendo
procrastinado há bastante tempo porque a sua aprovação implicará na anulação da
condenação de Lula. Por conta da pandemia, os julgamentos no STF em sido
virtuais, mas Gilmar quer, agora, que o julgamento da suspeição do ex-ministro
da Justiça seja presencial. Foi o melhor pretexto que ele arranjou para, mais
uma vez, adiá-lo, embora o processo já estivesse em pauta muito antes do
aparecimento da Covid-19. Vale lembrar que o ministro Gilmar Mendes é o mesmo
que tem livrado a cara de tucanos na Corte Suprema e que, em contrapartida,
atropelando a Constituição em 2016 impediu Lula de assumir a chefia da Casa
Civil no governo Dilma.
Enquanto isso, a antes toda poderosa Lava-Jato vai derretendo e poderá,
inclusive, ser alvo de uma CPI da Câmara dos Deputados, proposta pelo deputado
Paulo Pimenta para investigar seus abusos, especialmente a sua “caixa preta”. O
próprio Procurador Geral da República, Augusto Aras, declarou em recente
entrevista que é preciso abrir a caixa de segredos daquela operação. Aras,
aliás, teve de recorrer ao Supremo Tribunal Federal para que fosse obedecido
pelos seus subordinados da Lava-Jato, que se recusavam a compartilhar com ele
as suas investigações. Como durante algum tempo os lavajateiros foram os homens
mais poderosos do país, criando um poder paralelo – a República de Curitiba –
que atropelava a Constituição e afrontava até o Supremo, Dallagnol e companhia
achavam que ainda estavam com essa bola toda e, por isso, afrontaram o PGR. Até
o ex-chefão da operação, o ex-juiz Sergio Moro, que se promoveu à frente
daquela força-tarefa, resolveu criticar Aras, agindo, evidentemente, em defesa
própria, pois ele sabe o que fez “no verão passado”.
E por falar em Moro, ele está preocupado, também, com a possibilidade do
Congresso Nacional aprovar um projeto de lei estabelecendo uma quarentena de
oito anos para que ex-magistrados e membros do Ministério Pública possam
concorrer a cargos eletivos. Esse prazo foi defendido por Dias Toffoli e
Rodrigo Maia, presidentes, respectivamente, do Supremo e da Câmara dos
Deputados, mas as associações de classe dos magistrados protestaram, considerando-o
desproporcional. Maia informou que já existe um projeto tramitando no Congresso
e que a tendência é que seja aprovado, o que poderá frustrar o sonho de Moro de
concorrer à Presidência da República. A Globo, no entanto, que abraçou a candidatura
do ex-juiz, já iniciou uma ofensiva contra o PGR Augusto Aras e, também, contra
a proposta de quarentena para magistrados que, se aprovada, obviamente
prejudicará o seu candidato. Enquanto isso o Brasil navega à deriva, em águas
turvas e destino incerto, a reboque dos Estados Unidos. Diante disso, só nos
resta rogar: Deus tenha misericórdia de nossa Nação.
Brasil 247
0 comments:
[ Deixe-nos seu Comentário ]
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor