Por Moisés Mendes | 8 de setembro de 2020
Dizer que essa foto é chocante é pouco. É da agência EFE e estava
domingo à noite na capa da edição online do jornal argentino Página 12.
O jornal traz uma reportagem sobre a campanha liderada por Bolsonaro em
meio à pandemia na América Latina contra o isolamento, a quarentena, o uso da
máscara e até contra a vacina.
A foto parece ter sido tirada na viagem de Bolsonaro sábado ao interior
de São Paulo. A camisa é a mesma que aparece em outras imagens.
O conjunto da foto tem muito mais do que as sempre lembradas mil
palavras capazes de descrevê-la.
Tem o olhar do homem com corte de cabelo militar e a máscara com
camuflagem, talvez um segurança ou apenas um militarista, porque aquele cabelo
hoje é moda.
Há no seu olhar e no cenho franzido a expressão de quem torce para que
tudo dê certo, mas não se sente à vontade para ajudar.
Tem a observação do sujeito que aparece de costas e também acompanha o
desfecho da operação de Bolsonaro para retirar a máscara.
Não se enxerga o rosto do homem, mas ele está com a cabeça ladeada, em
posição de expectativa, e é possível, sim, mesmo de costas, perceber sua
expressão de quem também torce para que Bolsonaro encontre uma solução.
E há o centro da foto, com Bolsonaro tentando tirar a máscara do rosto
com apenas uma mão, porque até a mão esquerda de Bolsonaro não se presta para
socorrer a direita.
Uma mão direita decidida, uma mão militar, puxa o elástico preso às
orelhas, como se Bolsonaro estivesse fazendo o movimento infantil de uma
criança irritada que não sabe como se livrar de um adereço desconfortável.
A foto é a imagem de uma dificuldade. Há esforço, há a mão pesada de
Bolsonaro tentando arrancar algo delicado e há a apreensão de quem está no
entorno.
Bolsonaro tem a expressão de quem não consegue se destrinchar, mas
parece estar certo de que a força é que vai desvencilhá-lo daquele desafio e do
pano que o sufoca.
A máscara, que ele sempre combateu, é o estorvo que Bolsonaro não sabe
usar, porque alguém o constrangeu a colocá-la no rosto.
Bolsonaro fecha os olhos, a franja escorre para a testa, o braço é
tensionado. E a máscara resiste, como se tivesse criado vida só para desafiar
Bolsonaro.
A foto é a prova da incapacidade de solução de algo singelo, como se
Bolsonaro não tivesse visto o tutorial sobre como se livrar das máscaras. Há na
foto a força da estupidez em estado bruto.
A máscara que incomoda Bolsonaro é o Brasil que ainda o desafia com o
que nos resta de racionalidade. Bolsonaro não consegue se livrar do que não
entende direito, por mais simples que pareça.
Essa é a imagem do nosso 7 de setembro de 2020, de um negacionista
atormentado que finge nos governar e tenta se livrar, com um gesto brusco, não
só de uma máscara, mas de todo o simbolismo de humanismo, respeito e civilidade
que uma máscara carrega.
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