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Eólica alcançou maior nível de geração desde outubro do ano
passado e solar o maior volume desde o início da série histórica, iniciada em
2018. Expectativa é que novos recordes sejam atingidos até o fim do ano
Por Bruno Cabral
| 03 de Setembro de 2020.
Com o início da
temporada de ventos fortes, o Ceará registrou, no último domingo (30), o maior
nível de geração eólica deste ano, com 1.236,5 MWmed (megawatts médios). Este
foi o maior valor registrado desde 8 de outubro de 2019, quando a geração foi
de 1.326,5 MW, o maior valor registrado pelo Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS) desde janeiro de 2010, quando teve início os registros de
geração eólica.
Já as usinas
solares do Ceará conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) geraram, no
dia 24 de agosto, 73,9 MWmed, maior volume da série histórica, iniciada em
novembro de 2018. Apesar dos resultados ainda em agosto, a expectativa é que
novos recordes sejam atingidos por essas duas fontes até o final do ano, seja
pelo aumento da intensidade dos ventos como pela maior incidência solar,
sobretudo, em dezembro.
"Estamos no
período que chamamos de 'safra dos ventos', que vai até mais ou menos novembro.
Até lá, portanto, podemos ter novos recordes no Nordeste, que concentra grande
parte dos parques eólicos do Brasil, cerca de 80% deles", diz Elbia
Gannoum, Presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).
"Temos que
considerar a curva prevista para o ano, que é sempre de geração maior nessa
época do ano, sendo que os primeiros meses do ano são mais baixos", diz
Gannoum. "O Nordeste como um todo concentra grande parte do potencial
brasileiro e o Ceará faz parte disso com destaque, sendo o terceiro estado em
capacidade instalada hoje", diz.
Diferentemente
de outras matrizes energéticas, a eólica e solar não dependem da demanda para
produzir, de modo que mesmo com a queda do consumo de energia, por conta da
desaceleração econômica, essas matrizes continuarão com níveis máximos de
geração. Jurandir Picanço, consultor de energia da Federação das Indústrias do
Estado do Ceará (Fiec), diz que a produção eólica e solar contribui para
preservar o nível dos reservatórios das hidrelétricas e o combustível das
térmicas.
"A produção
eólica e solar se dá em função do que está instalado e da incidência de vento e
sol. Independe da demanda. Então as renováveis ajudam a preservar as outras
fontes", diz Picanço. "Além de estarmos no melhor período de ventos,
nós temos uma quantidade maior de usinas eólicas em funcionamento, então
deveremos ter novos recordes até o final do ano".
Solar
Segundo Jonas
Becker, coordenador da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica
(Absolar) no Ceará, no início do ano a expectativa era de que o segmento de
geração solar instalasse mais 3 gigawatts (GW) no País. Mas, depois da
pandemia, o valor foi ajustado para cerca de 1 GW. "Mesmo com essa crise,
o mercado de energia solar, diferente de outros setores, cresceu neste ano. Não
foi a expectativa que a gente tinha mas, dentro desse contexto, é um resultado
positivo", diz.
Para o quarto
trimestre, Becker avalia que as perspectivas são "muito boas" para o
setor pela retomada das atividades no País e no mundo, devendo permanecer ao
longo do próximo ano. "Apesar do nosso produto ser importado, que tem as
fragilidades do câmbio, estamos com uma perspectiva muito boa com relação às
políticas públicas e com financiamentos mais atrativos. Então a gente acredita
que o cenário previsto para 2020 vai acontecer em 2021", diz. "A
gente tem caminhado bem na busca de um desenvolvimento econômico com
sustentabilidade".
Novos
empreendimentos
Segundo dados da
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Ceará conta hoje com 86 usinas
eólicas em operação, com potência instalada de 2.187,9 MW. E para os próximos
anos estão previstos a adição de mais 176,4 MW referentes a 7 empreendimentos
em construção, e 267,6 MW referente a 10 empreendimentos já contratados com
construção não iniciada.
Quanto à matriz
solar, o Estado conta com oito empreendimentos em operação, com 218 MW, e nos
próximos anos receberá a injeção de 2.036,5 MW, referentes a 56 empreendimentos
com construção não iniciada. "Com novos leilões ou novos contratos,
especialmente no mercado livre, que tem crescido muito, esses números podem vir
a crescer", diz Elbia Gannoum.
A presidente da
Abeeólica ressalta, no entanto, que a queda de demanda por causa da pandemia
tende a deixar os próximos leilões do mercado regulado mais reduzidos, já que
haverá sobra de energia. "O mercado livre, no entanto, vem crescendo
bastante e, no caso da eólica, já representa, desde 2018, um volume de
contratações maior do que o mercado regulado", ela diz.
Outro fator que
deverá impulsionar o setor eólico no Estado, é a viabilidade dos projetos de
parques eólicos offshore (com torres instaladas no mar). Em janeiro, foi aberta
uma consulta pública para licenciamento desse tipo de projetos, o que
proporcionou a avaliação de projetos de viabilidade de parques em Caucaia e Camocim.
De acordo com o
Atlas do Potencial Eólico e Solar do Ceará, apresentado no final do ano
passado, o potencial para geração offshore no Ceará é de 117 GW, com fator de
capacidade de 62%, e a uma baixa profundidade.
O levantamento
revelou a possibilidade de geração eólica em uma área de 10 mil quilômetros
quadrados, onde a profundidade vai até 20 metros. Se forem consideradas as
regiões com até 50 metros, a área passa para 19 mil quilômetros quadrados. Um
dos aspectos levantados pelo atlas, que coloca o Ceará em uma posição vantajosa
em relação a outros estados, são os horários de pico na geração eólica.
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