5 de setembro de 2020
Por Paulo Donizetti de Souza
Foram tímidas as referências da mídia comercial à censura imposta ao
jornalista Luis Nassif. Diante do arbítrio – contra as matérias do Jornal GGN
sobre as relações suspeitas entre os bancos BTG e BB –, a imprensa se calou,
observou o professor Laurino Lalo Leal Filho em seu comentário semanal De Olho
na Mídia, no canal do Barão de Itararé. Para Lalo Leal a imprensa corporativa
faz um jogo arriscado ao não denunciar a censura – a mesma censura da qual
poderá vir a ser vítima. E não se passaram muitas horas entre o alerta do
professor e a censura da Justiça do Rio de Janeiro bater à porta da Globo. Foi
ontem (4). A Globo foi proibida de revelar documentos da investigação contra
Flávio Bolsonaro.
A juíza Cristina Serra Feijó, da 33ª Vara Cível do Tribunal de Justiça
do Rio, acolheu a um apelo do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e
proibiu a Globo de dar notícia envolvendo o filho do presidente e o esquema das
“rachadinhas”. Um nome suave para o ato de integrantes da família Bolsonaro e
políticos aliados. Porque o que crime cometido com dinheiro público não é nada
suave: empregar funcionários fantasmas em gabinetes legislativos e fazer caixa
com o salário deles. Segundo as denúncias, o funcionário não precisa aparecer
para trabalhar. Apenas repassa parte do salário para os políticos “de bem”, e
fica com uns trocados. Nessa “rachadinha”, o cidadão entra com o dinheiro. E os
políticos, com o Bolso.
Censura no jornal dos outros não é refresco
Para a imprensa comercial, que sempre tratou a censura no jornalismo dos
outros* como se fosse refresco, fica o alerta. Aliás, duplo alerta. Um: não se
calarás diante da censura e do arbítrio, ainda que atinja um veículo que não
goste. Dois: não serás cúmplice de juízes que atuam politicamente, ainda que
seus desvios éticos atendam a conveniências ideológicas e comerciais dos donos
de jornais.
Desde meados da década passada a mídia corporativa vinha sendo tolerante
com o “engajamento” político de setores do Judiciário. Para vender jornais e
revistas, iludir um público que se alimenta de falso moralismo, ampliar a
audiência, cativar anunciantes e interferir nos rumos da nação fora da trilha
da democracia. A parceria de juízes e procuradores com veículos de imprensa
beirou a cumplicidade. Enquanto uns riscavam o fósforo da Lava Jato, por
exemplo, os donos da mídia entravam com o querosene. E agora, com o fósforo e o
querosene nas mãos de outrem?
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