(Foto: Marcos Corrêa/PR)
Para Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia, após
anunciar que não irá insistir na criação do Renda Brasil, Jair Bolsonaro
"poderá se sentir tentado a amputar a perna liberal do governo – Paulo
Guedes e equipe -, ficando só com a populista"
15 de setembro
de 2020
Helena Chagas
é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia
...
A cada dia
fica mais difícil arrastar para qualquer lugar o corpinho liberal populista
desse governo, em que uma perna insiste em andar para um lado, enquanto a outra
já saiu correndo na direção oposta. O que terá levado a equipe econômica a
propor o congelamento das aposentadorias dos velhinhos e a redução do alcance
do auxílio para deficientes e idosos, a fim de financiar o Renda Brasil, depois
de Jair Bolsonaro ter vetado a alternativa mais lógica de reduzir o abono
salarial de quem está empregado?
Se a intenção
era acabar com o Renda Brasil, um estorvo para esse pessoal que mexe com as
contas públicas, conseguiu. Se era irritar o chefe, também. olsonaro acaba de
ter um surto e dizer que está proibido falar em Renda Brasil até o fim de seu
governo e que congelar aposentadorias e cortar auxílio de idosos e deficientes
é “um devaneio de alguém que está desconectado com a realidade”. Mais ainda,
disse que vai continuar com velho e bom Bolsa Família — aquele programa criado pelo PT que ele
tanto queria chamar de seu com outro nome…
O presidente
ameaçou com “cartão vermelho” quem, dentro do governo vier lhe trazer mais
sugestões desse tipo, pois “é gente que não tem o mínimo de coração, o mínimo
de entendimento de como vivem os aposentado no Brasil”. E ponto final. A quem
se dirige Bolsonaro? É bom prestar atenção: o ministro Paulo Guedes não abriu a
boca para defender tais propostas publicamente e ficou quieto no seu canto.
Integrantes da equipe, como o secretário de Fazenda, Waldery Rodrigues, é que
as anunciaram à imprensa. Podem ter virado bolas da vez — ou então arrumaram
uma boa desculpa para debandar do governo diante da inviabilidade da agenda
liberal, o que já estariam tramando ao esticar a corda. Esse, porém, não é o ponto
mais importante.
A indagação que fica, neste momento, é o que
fará Bolsonaro, que, com razão, não quer tirar do pobre para dar ao paupérrimo?
Vai suspender os pagamentos do auxílio emergencial, já em R$ 300 reais, no fim
do ano e não terá nada para botar no lugar sem o Renda Brasil ou outro programa
similar que represente uma ampliação substancial do Bolsa Família. O programa
traz ao imaginário da população os anos do PT, que o criou, e não tem a marca
Bolsonaro.
Mais: ainda
que seja ampliado para atender mais seis ou oito milhões de pessoas, além das
14 milhões de famílias beneficiadas hoje, não vai incluir a maior fatia dos 38
milhões de “invisíveis”, os trabalhadores informais que receberam o auxílio
emergencial na pandemia. Em seu novo
figurino populista, o presidente precisa encontrar uma solução urgente antes
que sua popularidade comece a cair, o que se espera lá na virada do ano.
No desespero,
dizem alguns, poderá se sentir tentado a amputar a perna liberal do governo –
Paulo Guedes e equipe -, ficando só com a populista. Uma jogada para lá de
arriscada, que o fará cair sentado, sem o apoio que ainda lhe resta no mercado
e no PIB. O Centrão, nessas horas, não ajuda ninguém a se levantar.
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