(Foto:
REUTERS/Tom Brenner | REUTERS/Leah Millis)
"Tudo indica que Donald Trump não conseguirá se reeleger.
Não há, até agora, sinal de que ele será capaz de reverter a vantagem de Joe
Biden, seja no voto popular, seja no Colégio Eleitoral", escreve o
sociólogo Marcos Coimbra sobre as eleições presidenciais nos Estados Unidos
12 de setembro
de 2020
Marcos Coimbra é
sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
...
Em dois meses,
os Estados Unidos farão uma das eleições mais importantes de sua história,
talvez a mais decisiva. Nela está em jogo mais do que a definição do nome do
próximo presidente do país, há uma escolha entre civilização e barbárie.
Tudo indica que
Donald Trump não conseguirá se reeleger. Não há, até agora, sinal de que ele
será capaz de reverter a vantagem de Joe Biden, seja no voto popular, seja no
Colégio Eleitoral. A enxurrada de pesquisas de intenção de voto, que inunda o
cenário norte-americano, vai toda nessa direção.
Para quem, como
nós, vive à mingua de boas informações de pesquisa, é até estranho constatar
que, por lá, elas são oferecidas ao eleitorado em largas doses diárias. Tantas
que a regra não é aguardar o que cada uma em particular tem a mostrar, mas
prestar atenção nas médias dos resultados de muitas, calculadas pelos chamados
agregadores de pesquisas.
Em dois dos
principais, o 538 e o Real Clear Politics, de acordo com os resultados de cerca
de 30 pesquisas concluídas entre 1º e 6 de setembro, Biden lidera no voto do
eleitorado, no primeiro por 6.5 pontos (obtendo 52.6% e ficando Trump com
46.1%), e no segundo por 6.9 pontos (alcançando 49.7% contra 42.8% de Trump).
Também de acordo com ambos e talvez mais importante, Biden vence na maioria dos
principais colégios estaduais, incluindo os maiores “estados decisivos”, como
são chamados aqueles que definem as eleições. Nesses, Biden está na frente em nove e o republicano em
três. De acordo com os cálculos de Nate Silver, criador do 538, caso Biden
mantenha uma dianteira nacional superior a cinco pontos (repetindo: tem hoje
6.5), a chance de ele ser o próximo presidente é de 98%.
No final de
fevereiro, quando havia nos EUA um total de 19 casos diagnosticados de
Covid-19, Biden já estava em vantagem. Na agregação do 538, era de pouco mais
que três pontos, o que significava uma chance de cerca de 50% de vitória. Ou
seja, Trump era competitivo, mesmo sem recorrer ao jogo sujo na reta final da
eleição, pois sua situação era melhor do que aquela que enfrentara em 2016
(lembrando: Hillary Clinton venceu a eleição no voto popular, mas perdeu no
Colégio Eleitoral, pois Trump a derrotou nos “estados decisivos”).
Guardadas as
devidas cautelas, tudo isso é relevante para entender o presente e o futuro
imediato da politica brasileira. Há mais que a admiração canina do capitão por
Trump a aproximar os dois países.
A vitória de
Trump foi recebida pela parte inteligente da sociedade americana com a mesma
aversão com que a de Bolsonaro pela inteligência brasileira. A ambas parecia
impossível que uma junção do que há de mais deletério nos dois países se
reunisse para levar ao poder alguém como eles. Mas foi o que aconteceu lá e
aqui: juntou-se o pior da população com o pior do empresariado, da politica e
da religião, em torno de figuras caricatas. Nazistas, supremacistas,
terraplanistas, fanáticos, pervertidos, militaristas, adoradores de armas
saíram do armário, levando de roldão alguns incautos.
Apenas antes da
posse ou nos primeiros dias de seus governos, Trump e o capitão foram aprovados
por mais de 50% da população. No caso do americano, mesmo havendo elevada aprovação
de sua gestão à frente da economia, que, turbinada pelo crescimento real e
expectativas favoráveis, alcançou, em fevereiro, 56%, deixando a desaprovação
em somente 17%.
Parece, no
entanto, que nem tudo se resolve na carteira, como imaginam muitos analistas
brasileiros. Aprovar um governo, gostar de um presidente e desejar sua
permanência é mais do que ter dinheiro no bolso. Contam a competência, a
sensibilidade e a honradez, assim como a grosseria, a estupidez e a falta de
compreensão.
Hoje, quem pensa
na vitória de Trump raciocina com o arsenal de trapaças, mentiras e
manipulações que pode usar e usa. Sua completa falta de escrúpulos e ilimitada
disposição de apelar à baixaria dão alguma sobrevida à candidatura.
O macaquinho de
imitação sul-americano é a mesma coisa. Bolsonaro, seu governo de paspalhões,
os aliados no setor público, no mercado e na mídia só venceriam a eleição de
2022 se as prestidigitações, manobras e mutretas corressem soltas. Nos Estados
Unidos, Trump nem sempre consegue passar a perna em todo mundo, pois há
instituições que funcionam: imprensa não-partidária, Judiciário não-politizado,
Forças Armadas profissionais.
Tomara suas
equivalentes brasileiras criem vergonha e cumpram com o dever, para não deixar
que ocorra aqui aquilo de que os cidadãos norte-americanos parece que se
livrarão.
Brasil 247
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