Foto: Marcos Oliveira/Agência
Senado)
"O caso do
senador das cuecas é muito mais sério do que isso porque envolve corrupção no
governo, sim", escreve o jornalista Alex Solnik. "Não só o senador
tem que ser – e está sendo – investigado. Também o ministério da Saúde demanda
um pente-fino", cobra ele
16 de outubro de 2020
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações
como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de
treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre
do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de
sonhos"
...
O caso do senador das cuecas, o Cuecagate, tem esse
lado humorístico, esse viés Porta dos Fundos, que todo mundo adora, mas é muito
mais sério do que isso porque envolve corrupção no governo, sim.
Essa conversa do Bolsonaro de que não é corrupção
no governo dele não é verdade.
Ele próprio confirmou que os ministérios fazem
parte do governo e os indícios de corrupção da qual o senador Chico Rodrigues
emergiu como a ponta do iceberg estão no ministério da Saude.
Os R$17 mil (segundo as mais recentes informações)
que estavam na sua cueca são parte da verba de R$13,9 bilhões que o ministério
da Saúde deveria ter distribuído para emendas parlamentares a todos os
senadores, a fim de serem utilizados para combate ao covid-19.
Aprovada em março pelo Congresso Nacional, a verba
deveria obedecer a critérios de distribuição, tais como a quantidade de doentes
nas cidades, a disponibilidade de leitos UTI, etc, mas, em vez disso, foram
privilegiados os aliados de Bolsonaro, cada um tendo recebido R$30 milhões.
O dobro do que os senadores têm direito a receber
por ano.
Parlamentares do PT e da Rede foram excluídos da
partilha.
O senador Chico Rodrigues, que iria receber R$20
milhões, reclamou e acabou recebendo R$30 milhões, apesar de ser ficha suja:
seu mandato de governador de Roraima foi cassado, em 2014, por gastos
irregulares na campanha de 2010, em que se elegeu vice e posteriormente
substituiu o titular.
Mesmo ficha suja, foi escolhido por Bolsonaro para
ser vice-líder do governo. Eram amigos de mais de duas décadas, o que os dois
assumem num vídeo que circula nas redes, no qual Bolsonaro diz que os dois têm
“quase uma união estável”.
A Polícia Federal já flagrou uma de suas
negociatas, com a empresa Quantum, que forneceu testes rápidos de covid-19 para
Roraima com sobrepreço de R$1 milhão.
Não só o senador tem que ser – e está sendo –
investigado. Também o ministério da Saúde demanda um pente-fino.
Por que não foram seguidos na distribuição da verba
os critérios determinados pelos parlamentares? Por ordem de quem? Por que a
distribuição não contemplou a todos? Como a verba foi empregada?
O outro elo que une Bolsonaro ao cuecagate é Léo
Índio, primo de um dos filhos do presidente, que tinha o segundo maior salário
no gabinete do senador.
A princípio, pensei que ele perderia o emprego.
Depois me convenci que não, pois o suplente de Chico Rodrigues é seu filho e
seu filho não iria demitir um parente de Bolsonaro.
Mas eis que o próprio Léo Índio se demitiu ainda
ontem, desistindo de uma boquinha de R$22 mil mensais.
É claro que não vai ser difícil para ele arrumar
outra colocação no mesmo patamar, mesmo em tempos de pandemia.
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