(Foto: PR
| Reuters)
"A postura desmedidamente amalucada do presidente da
República tem nos episódios da crise sanitária um espelho do que ele vem
fazendo na gestão do País como um todo", avalia o jornalista Gilvandro
Filho
23 de outubro de
2020
Jornalista e
compositor/letrista, tendo passado por veículos como Jornal do Commercio, O
Globo e Jornal do Brasil, pela revista Veja e pela TV Globo, onde foi
comentarista político. Ganhou três Prêmios Esso. Possui dois livros publicados:
Bodas de Frevo e “Onde Está meu filho?”
...
A aparição, na
TV, do presidente Jair Bolsonaro ao lado do ministro da Saúde, o general da
ativa Eduardo Pazuello, é uma das coisas mais deploráveis que o bolsonarismo já
produziu. A cena seria impensável se estivéssemos em um país governado em uma
situação normal, por um presidente normal à frente de um ministério normal, com
um Exército normal. Como nada disso traduz o mínimo de normalidade, o que se
dizer sobre esse circo de horrores protagonizado por um presidente da República
inadequado e coadjuvado por um militar de alta patente, ora no comando de um
ministério que é subordinado a um ex-capitão retirado do serviço militar por
questões de comportamento? Pouco, além de se constranger e se ratificar que, no
governo atual, a falta de senso é o requisito número um para todos os seus
integrantes. Tudo junto e bizarramente misturado.
Na cena,
Bolsonaro, que já teve Covid-19 – ou diz que teve –, pergunta ao seu
subordinado de alta patente, agora contaminado, se este volta ao trabalho em
poucos dias. Pazuello sorri amarelo e responde ao público: “Um manda e o outro
obedece”, ignorando o seu próprio estado de saúde, relatado em detalhes,
minutos antes. Um festival de estupidez e de irresponsabilidade partido do
posto maior do governo brasileiro e do mais alto cargo do Ministério da Saúde.
O diálogo foi um episódio lamentável, exemplo trágico para milhares de pessoas
que têm do presidente um “mito”. Inaceitável para o resto do País que assiste,
incrédulo, os desdobramentos de um governo tão assustador quanto a personagem
que, de maneira tão inadequada, foi escolhida, no voto popular, para estar à
frente da Nação.
Bolsonaro, dia
antes, achincalhou a autoridade do seu ministro da Saúde, quando, para agradar
à ala mais tresloucada dos seus apoiadores, desautorizou Pazuello e descartou
comprar a vacina chinesa que o seu auxiliar admitiu adquirir. A desculpa de
Bolsonaro, além de outras perorações de natureza racista, foi de que a vacina
não tem eficácia “cientificamente comprovada”. Argumento que não bate com o que
Bolsonaro pensa da ciência. Logo ele, um negacionista juramentado, atrasado e
contumaz. Logo ele, garoto propaganda apaixonado e irresponsável da inútil
cloroquina, sabe-se lá com que propósitos ou objetivos.
A postura
desmedidamente amalucada do presidente da República tem nos episódios da crise
sanitária um espelho do que ele vem fazendo na gestão do País como um todo. Na
explosão do número de armas de fogo e, consequentemente, dos feminicídios e
homicídios em geral; no volume das queimadas e na destruição de patrimônios
naturais e ambientais do Brasil e da Humanidade, como a Amazônia e o Pantanal;
na subserviência desmedida aos Estados Unidos de Donald Trump, o que leva o
Brasil a uma situação ainda mais complicada caso o candidato republicanos perca
mesmo as eleições nos EUA, como apontam as pesquisas; na tragédia em que se
transformou a Educação; no afrontamento à Justiça e no aparelhamento dos
aparelhos policiais. Não há um setor que gere o mínimo de esperança.
E aí entra o
Exército Brasileiro. Hoje, o Exército de Pazuello, de Hamilton Mourão, do
general Augusto Heleno. Uma instituição que aceita, passivamente, o que faz e
acontece o mesmo oficial que, décadas atrás, foi tido por ela mesma como um
elemento inadequado e impróprio a ponto de lhe espanar para a aposentadoria. O
Exercito ameaça a sua própria existência ao se subordinar a um tipo feito
Bolsonaro. Pode ter que se explicar muito, lá na frente.
0 comments:
[ Deixe-nos seu Comentário ]
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor