(Foto: Alan Santos - PR)
"Daqui em diante, Bolsonaro terá de se
virar sem Trump e sem Bannon, sem nenhum aliado de peso no mundo e sem aliados
no Brasil, a não ser o imprevisível centrão. Ele já aprendeu que não vai poder
fechar o STF 'com um cabo e um soldado'; se quiser ficar no poder tem que
ganhar no voto em 2022", escreve o jornalista Alex Solnik
13 de novembro de 2020
Por Alex Solnik, para o Jornalistas pela Democracia - Quando Trump foi
eleito presidente dos Estados Unidos, em 2016, cientistas políticos
identificaram o início de uma onda de extrema-direita comandada por Steve
Bannon, estrategista da campanha e pioneiro das fake news na política.
...
Objetivo principal: transformar democracias em ditaduras em todo o
mundo, a partir dos Estados Unidos.
Bolsonaro surfou nessa onda. O sucesso do apresentador de “O Aprendiz”
apesar de ser tosco e grosseiro e de extrema-direita empolgou Jair Bolsonaro
que resolveu imitá-lo. E até Bannon entrou na campanha presidencial tupiniquim
usando as mesmas malandragens, como a lavagem cerebral em massa.
Eleito presidente, Bolsonaro só faltou ficar de joelhos para Trump. E
julgou que seu amor seria correspondido. Sonhou até em colocar seu 02 no posto
de embaixador no país de Trump. Imaginou que sua aliança com Trump duraria para
sempre. E eles unidos seriam os reis das Américas!
E depois conquistariam o mundo, tal como planejam os protagonistas do
desenho animado “Pinky e o Cérebro”.
Muita tinta e muito papel foram gastos pelas melhores cabeças para
elaborar estratégias que impedissem ou inibissem os projetos autoritários de
Trump e de Bolsonaro. Nada, no entanto, parecia ser capaz de barrá-los. Quanto
mais ofendiam e humilhavam, quanto mais conflitos criavam, mais a popularidade
subia. Nada os atingia.
Trump entrou em 2020 na condição de favorito à reeleição: a economia
estava bombando, nunca foram criados tantos empregos. Parecia imbatível. Era o
super-herói. Não havia kriptonita que o abalasse.
Bolsonaro estava tranquilo: enquanto Trump estivesse forte, ele também
estaria. Enquanto fosse aliado do homem mais poderoso do mundo, o mundo, se não
o respeitasse, ao menos o temeria.
Achando que estava por cima da carne seca, entrou numa de cantar de
galo. Brigou com Merkel, com Macron, com Alberto Fernandez. Ofendeu a China.
Ameaçou guerra com a Venezuela.
Tal como o menino que provoca os mais velhos e na hora da briga chama o
irmão mais velho. “Cuidado comigo, o homem mais poderoso do mundo é meu amigão
e vai bater em vocês”!
Até que veio a pandemia.
E Trump deu para meter os pés pelas mãos. Brigou com a OMS. Minimizou a
maior pandemia dos últimos 100 anos. Insurgiu-se contra as recomendações de
prevenção e de lockdown. Claro, isso afetou seus negócios, fechou seus hotéis,
clubes e cassinos.
As consequências não tardaram: seu país ganhou o troféu de lata na luta
contra a covid-19. Campeão em infectados, campeão em mortes. O país mais
poderoso do mundo não conseguiu proteger seus cidadãos.
O discurso de Trump começou a ruir. Como sustentar o “make America great
again” se o país dizimava seus cidadãos por incúria do presidente? O mundo se
perguntava como era possível o país mais rico e poderoso de todos ser o mais
vulnerável de todos.
Bolsonaro seguiu à risca as lições do mestre. Tal como Trump chamou a
pandemia de gripezinha. Pôs-se a recomendar medicamentos sem ser médico. Brigou
com a OMS, com governadores, prefeitos, com seus ministros da Saúde e agora
briga com a vacina.
Os altíssimos números de infectados e de mortos atestam que fez tudo
errado e continua errando.
Coincidência ou não, tanto Trump quanto Bolsonaro despencam em
popularidade desde a eclosão da pandemia.
Trump conseguiu o feito de não se reeleger, o que é raro na história
americana. Esperneia contra o resultado, mas aceitá-lo é questão de dias. Biden
assume a 20 de janeiro de 2021.
O Brasil está dizendo “não” a Bolsonaro nessa eleição municipal.
Somente em uma das 26 capitais onde haverá eleição um aliado seu tem
chance de ir ao segundo turno – em Fortaleza.
No Rio, seu reduto eleitoral, Crivella não demonstra potencial para
sequer chegar ao segundo turno, quanto mais se reeleger, à medida em que Martha
Rocha sobe de degrau em degrau e Paes já está no segundo turno – se não levar
no primeiro.
Mas a situação mais constrangedora é a de São Paulo, onde nenhum
candidato que tem ou teve alguma relação com ele conseguiu decolar.
Russomanno começou a desidratar desde o início da campanha na TV, quando
se agarrou ao presidente. E não para de cair desde então, cumprindo a sina de
nunca passar dos 13%, apesar de empregar, na reta final, o gabinete do ódio que
foi despejado do Palácio do Planalto. Pelos ministros do STF, não por
Bolsonaro.
Sua ex-líder, Joice Hasselmann, não consegue sair dos últimos postos,
tal como Artur Mamãe Falei, um de seus seguidores mais fieis.
Até mesmo Márcio França, que vê qualidades nele, e teve um encontro
pessoal com ele, sofre o efeito Bolsonaro e estancou.
Mas o pior é que tudo indica que o segundo turno será disputado entre
Covas e Boulos. Tudo o que ele não queria.
Daqui em diante, Bolsonaro terá de se virar sem Trump e sem Bannon, sem
nenhum aliado de peso no mundo e sem aliados no Brasil, a não ser o
imprevisível centrão. Ele já aprendeu que não vai poder fechar o STF “com um
cabo e um soldado”; se quiser ficar no poder tem que ganhar no voto em 2022.
E seu maior adversário daqui até lá, mais que os partidos de oposição,
mais que os generais que humilhou, mais que seus desafetos será a pandemia.
E essa é impossível derrotar com fake news, a única arma de que dispõe e
sabe usar.
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