(Foto:
Ag.Brasil)
O Brasil está inadimplente na ONU, o que acarreta consequências
morais e faz com que o país ao país corra o risco de perder direito de voto
19 de novembro
de 2020
Sputnik - O
Brasil corre o risco de perder o direito de voto em todas as instâncias da
Organização das Nações Unidas (ONU), a partir de janeiro, se não pagar pelo
menos US$ 113,5 milhões (R$ 608,7 milhões) até o dia 31 de dezembro.
Para Fausto
Godoy, ex-embaixador e professor de Relações Internacionais, a inadimplência do
Brasil com a ONU faz mal para a imagem do país.
"Antes de
tudo existe esse ônus moral que significa ser inadimplente de uma organização
internacional como a ONU", disse à Sputnik Brasil.
"A questão
é o que essa imagem transmite para a própria ONU e também para os demais
membros da ONU. Só o fato de ficar inadimplente já é um sinal de eventual
desinteresse ou falta de meios para poder cumprir [a dívida]", explicou.
O pagamento dos
US$ 113,5 milhões (R$ 608,7 milhões) não quitaria toda a dívida acumulada pelo
governo brasileiro, que chega a US$ 386 milhões (R$ 2.07 bilhões) e inclui
contribuições orçamentárias para missões de paz, mas é a quantia mínima para
evitar punição.
Quando a dívida
acumulada supera o valor total das contribuições devidas nos dois anos
anteriores, perde-se o direito de votar.
Para Leonardo
Trevisan, professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda
e Marketing de São Paulo (ESPM/SP), a dívida do Brasil não representa um valor
significativo do Produto Interno Bruto (PIB) do país e que, por isso, o governo
brasileiro deveria se esforçar para pagar parte do valor ainda este ano.
"É
incompreensível para o Brasil, com as perspectivas de projetar seu poder
econômico como a economia brasileira tem, ficar com uma imagem manchada por uma
dívida que é bastante pequena em relação ao PIB do país", afirmou à
Sputnik Brasil.
Três países
estouraram o limite da dívida acumulada: São Tomé e Príncipe, Somália e Ilhas
Comores, mas todos, no entanto, entraram com pedido de perdão na própria ONU.
Trevisan citou
esses países para dizer que o Brasil deveria pagar a ONU para evitar ficar
isolado no cenário internacional.
"Sem dúvida
alguma prejudicaria o Brasil em todas as negociações internacionais. Observe
que países como São Tomé e Príncipe, Somália e Ilhas Comores fizeram o possível
e o impossível para o perdão de suas pequenas dívidas de contribuição
exatamente para não perderem espaço no cenário internacional", destacou.
Outro ponto
destacado por Trevisan é o desejo antigo brasileiro de ocupar uma cadeira
permanente no Conselho de Segurança da ONU.
"A perda de
voz na Assembleia da ONU, a perda de voz nos Conselhos da ONU, deixaria especialmente
fragilizada a nossa pretensão de ocupar o espaço de membro permanente no
Conselho de Segurança", afirmou.
Ao fazer uma
análise sobre o momento atual da diplomacia brasileira, Fausto Godoy se mostrou
preocupado com a priorização de "pautas ideológicas" por parte do
atual governo.
"O que
falta nesse momento na diplomacia brasileira é o menor foco nas questões
ideológicas e mais foco no que é o interesse perene do Brasil", alertou.
Já Trevisan foi
enfático e completou o raciocínio dizendo que "as pretensões
geopolíticas" brasileiras ficam prejudicadas com a falta de pagamento da
dívida.
"Inadimplentes
não projetam poder e são frágeis politicamente e economicamente. As pretensões
geopolíticas brasileiras estão diretamente atingidas por essa dívida", completou.
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