(Foto:
Felipe L. Gonçalves/Brasil247 | Reuters)
Para o ex-ministro Aloizio Mercadante, ao adotar essa postura,
Jair Bolsonaro rompeu um limite instransponível, que é o da humanidade, da
civilidade e da preservação da vida. Ele não pode continuar a prejudicar o povo
brasileiro, “celebrando a morte”, defendeu
10 de novembro
de 2020
Fundação Perseu
Abramo - O ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio
Mercadante, afirmou nesta terça-feira (10) que a reação do presidente Jair
Bolsonaro diante da decisão da Anvisa de suspender os testes da vacina chinesa
contra a Covid-19, Coronavac, pode levá-lo ao impeachment. Bolsonaro politizou a decisão da agência
reguladora e aproveitou para atacar o governador de São Paulo, João Doria
(PSDB-SP), e disse nas redes sociais que “ganhou mais uma”.
Para Mercadante,
ao adotar essa postura, Bolsonaro rompeu um limite instransponível, que é o da
humanidade, da civilidade e da preservação da vida. “É gravíssimo,
especialmente quando falamos de um homem público, que deveria ter isso como
valor maior da sua gestão proteger o povo brasileiro dessa pandemia, derrotar a
Covid, apoiar todas as iniciativas, torcer para que não fosse nenhum episódio
que impactasse a testagem, que ele nem tem a noção do que é, como a questão da
cloroquina já provou. A vacina vai levar o Bolsonaro ao caminho do impeachment.
Ele não pode continuar a prejudicar o povo brasileiro, celebrando a morte”,
defendeu, em entrevista ao programa DCM Ao Meio-Dia.
De acordo com o
ex-ministro, não é possível Bolsonaro achar que ganhou, porque a Anvisa suspendeu
a análise clínica de uma vacina, que todos os resultados vêm demonstrando que é
segura e exitosa. “Por isso tudo é muito
grave o que ele fez. Ele está construindo uma narrativa para o impeachment
nesse episódio da vacina. Ele claramente vem obstruindo e prejudicando que o
Brasil tenha a vacina. Nós somos 220
milhões de pessoas, algumas vacinas exigem duas doses, ou seja, nós vamos
precisar de 440 milhões de vacinas e o tempo para produzir é extremamente
escasso”, prosseguiu.
Paralisação dos testes
A respeito da
decisão da Anvisa, o ex-ministro defendeu que se na amostra, que são 10 mil
pessoas, alguma pessoa teve alguma ocorrência grave, no caso em questão é um
óbito, a Agência tem que suspender o teste, como aconteceu com a vacina de
Oxford e investigar o que aconteceu. “O Instituto Butantan, que tem todas as
informações porque está aplicando o teste, já está se antecipando e dizendo que
o óbito não tem nenhuma incidência relacionada ao teste da vacina, mas, nós
temos que aguardar a análise técnica e o Bolsonaro deveria lamentar que o teste
foi interrompido, não comemorar”, explicou.
“Pode ser que
Anvisa tenha extrapolado, tentado fazer um uso político desse episódio, mas eu
considero que é responsabilidade dela suspender um teste quando há um
incidente, apurar e imediatamente recomeçar os testes se o evento não tem
nenhuma relação com a medicação em questão”, disse. Mercadante também recordou
que o mundo inteiro luta pela vacina contra a covid-19 e mencionou a
importância das vacinas, consideradas por ele como instrumentos fundamentais de
defesa da vida, na proliferação de doenças como a poliomielite, o sarampo, o
tétano, a febre amarele e a tuberculose.
Vacina tardia
Além disso,
Mercadante afirmou que apesar de os governos do PT terem deixaram estruturas
prontas para a produção de vacinas na FioCruz e no Butantan, a vacina contra
Covid-19 deve chegar tardiamente no Brasil. “Essa vacina vai chegar
tardiamente, por todos esses procedimentos do Bolsonaro, pela falta de
planejamento e de coordenação. O próprio ministro da Saúde queria comprar a
vacina chinesa e fazer uma parceria, mas o Bolsonaro impediu e ele teve aquele
papel lamentável de dizer, que um manda e outro obedece, como se não tivesse
compromisso com a saúde”, disse.
O ex-ministro
tratou ainda do preço vacina chinesa. “O preço das vacinas é muito diferenciado
e essa vacina é das mais baratas, porque a China transfere tecnologia e não
cobra royalties, alinhada com as recomendações da Organização Mundial da Saúde
e o presidente vem celebrar que nós não temos um instrumento de defesa da vida
do povo brasileiro. Do meu ponto de vista, ele cometeu crime de
responsabilidade”, explicitou.
Falta de planejamento e de propostas
Mercadante
voltou a classificar a pandemia do novo coronavírus como situação dramática,
com prejuízos econômicos e sociais sérios, e cobrou as providências do governo
Bolsonaro para o enfrentamento da crise. “São cerca de 40 milhões de pessoas, o
maior índice de desemprego da nossa história, o PIB brasileiro caindo, o Brasil
perdendo no ranking internacional, chegamos a ser a sexta economia e estamos
virando a 12ª e nada disso preocupa o presidente”, pontou.
O ex-ministro
também recordou que 44% das pessoas que recebiam o auxílio emergencial de
R$600,00 não recebem mais nada e que o governo não apresenta nenhuma proposta
para essas pessoas. “Ele não governa, ele não tem planejamento, ele não diz o
que vai fazer, com o desemprego e a fome aumentando. Você anda pelas ruas e vê
isso por todas as partes. Então, eu acho que é uma situação histórica
inadmissível”, concluiu.
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