(Foto:
Marcos Corrêa/PR)
Jornalista Tereza Cruvinel avalia que, com Trump derrotado, será
mais fácil convencer Bolsonaro a mudar a política externa, avançar no
pragmatismo interno e reduzir influência da ala ideológica. "Na prática
isso significaria a substituição do chanceler Ernesto Araújo e do ministro do
Meio Ambiente, Ricardo Salles", afirma
6 de novembro de
2020
Colunista/comentarista
do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O
Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.
...
Antes mesmo da
cena final do dramalhão eleitoral norte-americano Jair Bolsonaro já começou a
transfigurar-se. “Trump não é a pessoa mais importante do mundo”. Podia ter
encontrado uma frase melhor para dizer que os interesses brasileiros devem
sobrepor-se a seu amor pelo republicano, mas seria pedir muito.
No poder
bolsonarista, os aliados políticos
conservadores do Centrão e os militares são os que mais torcem pela vitória de
Joe Baden, e mas não porque prefiram o Partido Democrata. Eles acham com Trump derrotado, e depois de
ter ido tão longe em seu alinhamento, será mais fácil convencer Bolsonaro a
mudar a política externa, avançar no pragmatismo interno e reduzir a influência
da ala ideológica. E na prática isso significaria, para começar, a substituição
do chanceler Ernesto Araújo e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Alguns generais
teriam ficado arrepiados com as notícias de que Bolsonaro poderia não
reconhecer a vitória de Baden (se ou quando confirmada), enquanto houver
recursos judiciais para serem julgados. Os generais palacianos teriam sido
procurados com apelos para que evitassem tamanho desatino diplomático. Há
sinais de que Bolsonaro mudou de ideia.
O
vice-presidente Hamilton Mourão expressou a posição dos militares, ao dizer que
as relações do Brasil com os Estados Unidos são de Estado com Estado, não
importando o partido no poder. Lembrou
também que a cooperação entre as Forças Armadas dos dois países nunca foi
afetada pelas trocas de governo.
O que vem sendo
mostrado a Bolsonaro, nas últimas horas,
é que o Brasil não tem para os Estados Unidos a mesma importância que eles têm
para nós, por todas as razões conhecidas. E o mesmo pode valer para a China,
que para agradar a Trump, ele e seu governo vêm hostilizando. Esse é o recado dos
aliados conservadores, especialmente dos senadores do Centrão, que representam os interesses do agronegócio
e de outros setores prejudicados pela política externa ideológica de
Bolsonaro-Araújo.
Assim, a mudança
na política externa brasileira será a primeira imposição da provável eleição de
Biden. E por decorrência, também, a
troca do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, uma vez que a questão
ambiental terá mais peso na administração Biden, como ele mesmo deixou claro
durante a campanha.
O que fará a ala ideológica? Vai espernear
muito, se isso acontecer. Já agora, durante a conturbada apuração, Eduardo
Bolsonaro vem fazendo suas declarações de lealdade trompista, enquanto a tropa
digital inferniza na Internet. Mas
quando Weintraub foi demitido, chiaram mas acabaram engolindo. Até aqui,
Bolsonaro conseguiu ir trocando de pele, casar com o Centrão e praticar o
fisiologismo mais desbragado sem perder o apoio dos bolsões radicais. Novamente, ele terá que se mostrar capaz
dessa proeza, na transfiguração mais radical que terá de fazer para sobreviver
no mundo sem Trump e tentar a reeleição.
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