(Foto: Lula Marques | Reuters)
"Os jornalistas amigos de Moro, que
comandam as redações, tentam esconder a notícia de que ele é agora empregado
dos consultores dos Odebrecht", diz o colunista Moisés Mendes
1 de dezembro de 2020
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora
Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre
...
Os americanos tinham certeza de que nunca iriam ler nos jornais de
Chicago uma manchete como esta:
“Eliot Ness será sócio de consultoria que tentará salvar os negócios de
Al Capone”.
Ness, o legendário agente federal que pegou o mafioso Alphonse Gabriel
Capone, não cometeria esse desatino.
Amigos de Moro na imprensa sempre gostaram de compará-lo a Ness, por
causa da caçada aos Odebrecht. Os Odebrecht foram transformados por Moro na
família Capone brasileira.
Mas, se Eliot Ness nunca se associaria a uma corporação contratada para
prestar serviços aos herdeiros do mafioso, Moro agora é sócio da Alvarez &
Marsal.
A família Capone ficaria espantada com o que o ex-juiz acaba de decidir
ao associar-se à consultoria envolvida com a recuperação da Odebrecht.
A empresa vai tentar ajudar na gestão judicial do que sobrou da
empreiteira que Moro quase destruiu. O ex-juiz vai socorrer os gângsteres que
lhe garantiram a fama de justiceiro?
Não se sabe direito como e o que Moro fará na consultoria, mesmo que não
venha a trabalhar diretamente com as questões relacionadas com a empresa
baiana.
O ex-chefe de Deltan Dallagnol não poderia ser nem mesmo o porteiro de
uma corporação que presta serviços ao grupo que ele processou. Moro não
condenou apenas os dirigentes e os executivos da Odebrecht, mas a organização
toda.
Não há como imaginar Eliot Ness tentando salvar os negócios de Al
Capone, por mais justa que pudesse considerar a tarefa. Mas aqui tudo passou a
ser possível, desde que Moro prestou serviços a Bolsonaro.
O problema é que as manchetes sobre a nova sociedade de Moro saem apenas
na ainda chamada imprensa alternativa, nos sites e nos blogs que a direita e o
bolsonarismo teme e odeia.
Os grandes jornais só dão notinhas nos cantos de página das versões
online e impressa. Os jornalistas amigos de Moro, que comandam as redações,
tentam esconder a notícia de que ele é agora empregado dos consultores dos
Odebrecht.
A grande imprensa ficou com vergonha de Sergio Moro, está constrangida e
também está frustrada. Constrangida porque o chefe da Lava-Jato passou dos
limites.
E está frustrada porque percebe que, com a opção do juiz pelos negócios,
perdem a opção preferencial da direita para 2022. Um nome muito bem trabalhado
sai da corrida presidencial.
Sergio Moro desistiu da política e acabou traindo a confiança da sua
turma ao aderir ao empreendedorismo, ao lado de ex-agentes do FBI.
O ex-magistrado vem percorrendo uma trajetória errática, e sua conduta
está precisando de um bom juiz, mas não de um justiceiro.
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